Atacante do time sub-20 alvinegro também se emociona ao lembrar de classificação sobre o Flamengo "Tipo assim". Com essa expressão nítida de quem está familiarizado com o português, que Diego Abreu, filho de Loco Abreu e atacante da equipe sub-20 do Botafogo, abre a entrevista exclusiva ao ge. Extrovertido e nitidamente apaixonado pela família, especialmente o pai, ele contou como foram os primeiros seis meses de adaptação ao Rio de Janeiro.
Diego Abreu mostra tatuagem em homenagem ao pai
Jéssica Maldonado / ge
Focado em construir a própria história, sem abrir mão das raízes, e carregando no peito muita saudade, o camisa 13 vai entrar em campo nesta quarta-feira, contra o América, às 10h, pela semifinal da Copa Rio. E no punho estará a munhequeira usada pelo pai, campeão da Copa América em 2011 com o Uruguai e que se tornou ídolo botafoguense ao conquistar o Campeonato Carioca sobre o Flamengo em 2010. O acessório apareceu por acaso e, para ele, foi um sinal.
- Peguei a mochila que eu usava sempre no Uruguai para vir ao Brasil, só que eu nunca mexia nos bolsos laterais. Quando cheguei aqui no hotel, conferi toda ela. E em um dos bolsos estava a munhequeira e eu falei: 'É um sinal, é para eu usar'. E comecei a usar - contou ele, ao confirmar que a peça foi usada pelo pai quando jogava.
Foi com ela que Diego ajudou o Botafogo a conquistar a classificação na Copa Rio na última semana, e com a presença de Loco Abreu nas arquibancadas. O uruguaio acompanhou o empate sem gols com o Flamengo no Nilton Santos, e o jogo de volta, na Gávea, que contou com gol no último lance do jogo, levando a decisão aos pênaltis.
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- Do nada, eu estava no banco, e uma pessoa disse: 'Diego, teu pai veio te ver'. E quando olhei para cima, estava ele. E já entrou o nervosismo de querer demonstrar que eu estava bem. Fui titular no jogo de volta e ele estava também. Até fazia sinais para mim com o que eu tinha que fazer ou não. É só ele assobiar que eu olho, e entendo o que quer me dizer.
Loco Abreu comemora classificação com o filho na Gávea
Reprodução
- A lembrança mais forte que vem na minha cabeça é do meu pai contra o Flamengo. E eu ter ganhado deles também é algo lindo - disse, emocionado.
Do Uruguai para o Brasil
No início de 2023, Diego começou integrando elenco profissional do Defensor, no Uruguai, e chegou a atuar em cinco dos seis jogos amistosos da pré-temporada - inclusive com gol marcado sobre o time, na época, de Diego Hernández, que hoje também está no Botafogo.
Mas logo depois, retornou à equipe de base. Foi quando recebeu a notícia do seu empresário sobre o interesse do Botafogo e, consequentemente, sair do seu país pela primeira vez. Foi tudo mais rápido do que ele imaginava.
- Não pensei duas vezes, né? Quando ele falou eu já comecei a fazer as malas, e quando quis pensar eu já estava aqui.
Diego Abreu com a camisa do Defensor B
Reprodução/Facebook
No Rio, contou com a ajuda de amigos que fez na escola Everest, local que estudou na passagem de Loco Abreu pela cidade, além de funcionários do clube para encarar os primeiros dias. Da procura por apartamento, à necessidade de não ficar sozinho, e até para "garantir" as refeições no dia a dia.
- Uma coisa boa é que aqui no Botafogo nós temos o café da manhã e o almoço. E na minha situação, que não sei cozinhar, eu posso levar a "quentinha" para casa - brincou.
Parceria com os uruguaios
É comum ver Diego rodeado de "gringos" no dia a dia. E são eles que ajudam a minimizar a saudade da família, parte mais difícil da caminhada de sair de seu país de origem. Esses amigos são: Valentín Adamo, Diego Hernández, Mateo Ponte e Dylan Talero - todos também jogadores do clube.
Aos 14 minutos do 1°T, Diego Abreu avança, arrisca de longe e empata para o Botafogo
Eles são como uma família, dormem um na casa do outro, saem para almoçar, curtem praia e tomam a tradicional bebida uruguaia: o chimarrão. Diego foi o primeiro deles que chegou, e cumpriu papel importante para convencê-los a também virem ao Brasil.
- Diego (Hernández) me ligou para saber como era morar aqui, e eu falei coisas boas e que vale à pena. Mandei foto da torcida com o mosaico, e ele acabou vindo. Não tem como falar que não para o que eles têm feito.
E com o lateral-direito da seleção do Uruguai sub-20 não foi diferente.
- Falei muito com o Mateo. Ele lá no Mundial e eu mandando print do que falavam no Twitter e tudo. Tive mais afinidade para falar diretamente.
Recuperação de desequilíbrio muscular
Diego fez sua estreia no Botafogo dia 21 de maio, mas teve que parar por um mês em função de um desequilíbrio muscular. A diferença entre os músculos das duas pernas era grande por causa de uma lesão no ligamento do joelho, que o tirou dos gramados por 10 meses ainda no Uruguai. Outro desafio no caminho.
Diego Abreu após cirurgia no joelho, no Uruguai
Arquivo pessoal
- Voltei a jogar em setembro do ano passado. Na ansiedade, fui para a Seleção e acabei tendo um estiramento na posterior. Fiquei mais um mês lesionado, volto a jogar no jogo contra o Chile, que até fiz gol, mas fico fora do Sul-Americano. No Defensor, eles também viram o desequilíbrio, mas não liguei para isso.
Recuperado, logo no primeiro amistoso com a equipe sub-23, marcou dois gols. Desde então, são 11 jogos oficiais pelo sub-20 e 5 gols marcados.
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Semifinal da Copa Rio
Nesta quarta-feira, Diego deve estar em campo mais uma vez. No jogo de ida, empate em 1 a 1 com o América. No duelo, que contou com gramado irregular, o camisa 13 e o companheiro Dylan atuaram juntos pela primeira vez, e essa pode ser uma estratégia repetida para buscar a classificação.
O jogo será no CEFAT, já que o Nilton Santos está recebendo a preparação para o show do cantor The Weeknd no próximo fim de semana.
Dylan comemora com Diego Abreu o gol sobre o Flamengo
Arthur Barreto / Botafogo
- Dylan é mais um centroavante, mais rápido e faz a diagonal. Então, eu brigava pela primeira bola e ele passava nas minhas costas. Fizemos isso certinho. O goleiro deles foi bem. Estamos com muita confiança, essa é uma fortaleza nossa. Acho que vamos fazer uma grande partida, espero ajudar o time com algum gol, e passar para a final.
Saudade da família, mas feliz no Brasil
"Loquito" é focado e sabe que para ter sucesso no futebol precisa pagar o preço de viver longe da família. Para amenizar, ele mantém contato frequente com a mãe, o pai e os três irmãos, e frequentemente é visitado por eles.
Loco Abreu com esposa e filhos em comemoração de aniversário
Arquivo pessoal
No entanto, no dia a dia, aposta no prazer, também compartilhado pelo pai, de curtir a praia rodeado de amigos, para diminuir a saudade.
- Sou um cara muito família, gostava muito de passear em família lá no Uruguai. Levava meus irmãos para o treino, para a escola, buscava minha irmã no trabalho, ia com minha mãe no supermercado. Sinto muita saudade disso. Vivo uma realidade muito diferente aqui. Sinto muita saudade da minha família me ver jogar, de olhar para a arquibancada e ver que eles estão lá.
- Eu sei que vida de jogador é difícil, meu pai passou por isso também, mas se Deus quiser já, já vou estar com todos eles.
Tatuagem de Diego Abreu, com foto ao lado do pai quando criança
Jéssica Maldonado /ge
- Quando temos folga, acordo às 10h, tomo café e fico lá até o pôr do sol, que gosto muito de ver. Chamo meus amigos, tomamos chimarrão. Isso é o que eu mais gosto de fazer.
Loco Abreu visita estádio Nilton Santos e encontra o filho, que joga na base do clube
"Ele é maluco mesmo"
Contrariado pelo pai, Diego queria ser goleiro quando era criança, mas tudo mudou com um teste enquanto estava de férias na praia. Com sorriso no rosto, ele relembra o episódio.
- Meu pai perguntou se eu queria mesmo ser goleiro e eu respondi que sim. Então, ele pediu para ir para o gol e chutou uma bola forte na minha cara. Na hora eu decidi que não queria mais.
Loco Abreu com o filho Diego em 2011. Agora, ele defende o sub-20 do Glorioso
André Durão
Anos depois, um dos três irmãos disse carregar o mesmo desejo.
- Então meu pai perguntou na frente dele se eu lembrava de quando eu tinha dito isso a ele, e eu respondi que sim. Ele virou para o meu irmão e disse: 'tu quer? Vai para o gol'. A bola foi direto na cara dele.
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