Alemão Roger Schmidt monta time ofensivo, que joga quase com quatro atacantes e está invicto na Liga dos Campeões Qual é o melhor futebol da Europa? A resposta mais básica seria o Manchester City, ou o Real Madrid sempre competitivo. O Barcelona tentando se reerguer, o Napoli jogando bem...
Mas quem merece mesmo o título até agora é o Benfica.
O treinador alemão Roger Schmidt faz um trabalho considerado por jornalistas europeus e até treinadores rivais como sendo o melhor do continente no momento. Mesmo com investimentos mais moderados e a ausência de Enzo Fernández, vendido para o Chelsea, a equipe continua a jogar bem e aplicou um elático 5 a 1 no Club Brugge, na Liga dos Campeões, após ter vencido na Bélgica por 2 a 0.
Roger Schmidt, técnico do Benfica
REUTERS/Pedro Nunes
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Os "encarnados" foram a surpresa do grupo na Champions: venceram a Juventus duas vezes, inclusive em Turim, e empataram com o PSG de Neymar, Messi e Neymar. No Campeonato Português, liderança absoluta com oito pontos de vantagem.
Na temporada, são apenas três derrotas. Duas delas em jogos oficiais, curiosamente para o mesmo adversário: o Braga, pelo Campeonato Português e a Taça de Portugal.
Os bons resultados, as goleadas e boas exibições no Campeonato Português soam como uma prova da qualidade de Roger Schmidt, treinador da mesma leva da safra de técnicos alemães que encantou a Europa com Klopp, Tuchel e Naggelsmann, mas que andava meio encostado após trabalhos sem expressão na China e uma passagem pelo PSV.
No Benfica, Schmidt se apoia nos mesmos conceitos da escola alemã: uma pressão na bola sempre alta e sufocante e ataques rápidos e verticais, que abusam da qualidade de João Mário e especialmente Gonçalo Guedes. É o que ele chama de "futebol extremo", que está sempre a mil e busca acelerar e nunca pausar.
Ficamos felizes quando o jogo é intenso. Mesmo quando jogamos contra equipas que são supostamente melhores do que nós, tentamos fazer com que joguem o nosso futebol. É essa a nossa exigência aos nossos adversários. Normalmente, se resultar, ganhamos o jogo. Jogamos futebol intenso. Um dos nossos pontos principais é uma boa organização quando não temos a bola. Tentamos recuperar a bola muito à frente, muito perto da baliza do adversário. Tentamos ser muito rápidos nessa abordagem e depois fazer a transição ofensiva”
Benfica vence de novo o Brugge e avança às quartas de final da Champions League
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Construção: saída de três e largura para empurrar o adversário para trás
Quando o Benfica tem a bola e se organiza para atacar, a ideia de Schmidt é que o time se organize sempre com uma saída de três formada por um volante e dois zagueiros. Outro volante, que era Enzo Fernández, fica na frente desse alinhamento, com os laterais bem projetados. Assim, os quatro mais ofensivos se aproximam e buscam "empurrar" o adversário para o próprio campo. Tanto Gonçalo como João Mário, Rafa e David Neres não buscam tanto a bola: mantém o posicionamento. Assim ficam prontos para agredir a defesa e estarem perto do gol.
Com a bola: Benfica empurra o adversário para o próprio campo
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Ataques rápidos: Benfica acelera com a bola e no contra-ataque
O diferencial do Benfica na temporada é que a posse de bola é rápida. Muito rápida. O toque para trás é treinado quando não há jeito de avançar. Schmidt quer que o time use e abuse das projeções em velocidade, e conta com Gonçalo, Neres e João Mário dando piques em direção ao gol toda hora. É uma forma de criar linhas de passe na frente e permitir que a saída atrás seja rápida e termine em gol. É um time que tenta muito na medida que erra, mas que encontra no volume a chave para sufocar os rivais.
Guedes e Mário se projetam: ataques rápidos do Benfica na temporada
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Sem a bola: pressão na frente com laterais "indo até o fim"
Há alguns anos, o Bayer Leverkusen de Schmidt ficou famoso por sequências em que a pressão no campo rival era tào intensa e forte que os dez de linha ficavam num espaço de vinte metros no campo. No Benfica, o treinador repete ofutebol extremo com uma pressão alta que envolve os meias e atacantes mais concentrados no setor da bola e um lateral junto deles. Para dosar, o outro lateral fica mais atrás, evitando que o time sofra contra-ataques se o adversário escapa.
Pressão do Benfica: alta e intensa, de forma "extrema" como Schmidt quer
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Perguntando sobre as chances de manter o nível contra adversários mais poderosos, o alemão não titubeia: "todos têm chances, mas não na mesma proporção". Qual proporção?
Se depender do time atual, que superou o Benfica de Jorge Jesus em 2015/16 e faz a melhor campanha do clube na Europa em muito tempo, as proporções são um pouco maiores. Chegarão no extremo que Schmidt tanto gosta em campo?