Saiba como foi a peregrinação do número eternizado por Zico durante os últimos 24 anos Arrascaeta é o novo camisa 10 do Flamengo
A camisa 10 do Flamengo terá um novo dono a partir de 2025. Na última segunda-feira, o clube anunciou que Arrascaeta foi o escolhido para herdar o número que estava "guardado" desde maio, quando Gabigol foi punido pela diretoria e perdeu o direito de usá-la.
Agora, o uruguaio tenta ser mais um gringo a brilhar com o número eternizado por Zico no Flamengo, algo que não acontece desde o sérvio Petkovic, e voltar a dar estabilidade a uma camisa que já peregrinou por mais de 30 jogadores neste século XXI.
Camisa 10 do Flamengo
Globoesporte.com
Uma 10 inesquecível
Petkovic foi o primeiro reforço do Flamengo na era ISL (gigante do marketing esportivo que se associou ao clube com o compromisso de investir US$ 80 milhões durante 15 anos). Contratado junto ao Venezia, da Itália, e após se destacar no Vitória, o sérvio assumiu a responsabilidade de ser o camisa 10 desde sua apresentação:
- Alguém têm que vestir a camisa 10. Sei que depois de Pelé e Zico é difícil. Talvez devessem ter aposentado o número. Mas acham que eu sou um jogador que tem condições de usá-la. Vou usar.
Ou seja, Pet já usava o número desde 2000 (mesmo com o também badalado Alex no elenco) e no ano seguinte se tornou o primeiro dono da 10 no século XX. E foi com pé direito (literalmente). Quem não se lembra do gol antológico de falta contra o Vasco, aos 43 do segundo tempo, que valeu o tricampeonato carioca rubro-negro?
Em 2001, Petkovic faz gol de falta contra o Vasco na final do Campeonato Carioca
Quando o sérvio não jogou, o meia Alexandre Gaúcho (ex-Botafogo) chegou a vestir a 10 em alguns jogos (a numeração não era fixa naquela época). Pet ainda continuou no Flamengo e usando o número nos primeiros meses de 2002. Mesmo com a badalada contratação de Juninho Paulista no início do ano.
Na verdade Juninho, contratado por empréstimo do Atlético de Madrid, da Espanha, chegou com status de camisa 10 para substituir Petkovic, que estava sendo emprestado ao Corinthians. Só que a negociação desandou, e o Flamengo ficou com "dois camisas 10", como noticiou o jornal O Globo no dia 7 de janeiro.
Juninho jogou com a 8 nos primeiros três meses e só virou o 10 depois da saída de Pet para o Vasco. Porém, o meia jogou pelo Flamengo apenas até julho porque o Atlético de Madrid o vendeu para o Middlesbrough, da Inglaterra. E é aí que começa a peregrinação da camisa.
Sobrou até para os garotos
Caio Ribeiro (na época conhecido só por Caio), começou a usar a 10 em um jogo-treino contra o Madureira na Gávea. Durante a extinta Copa dos Campeões Regionais, o técnico Lula Pereira decidiu transferir a responsabilidade para os jovens: Wendel, Felipe Mello (que subiu da base como meia, não como volante), Hugo e Andrezinho, que continuou com o número no início do Campeonato Brasileiro.
Camisa 10 do Flamengo foi um drama em 2002
Reprodução / Jornal do Brasil
Após a demissão de Lula Pereira e a chegada de Evaristo de Macedo, o técnico deu a camisa para Iranildo, que já havia usado o místico número rubro-negro no fim dos anos 90. Mas também não deu resultado, e na virada do ano o Flamengo buscou um novo 10 no mercado: Lopes. Contratado por empréstimo do Palmeiras, ele chegou com moral em 2003, só que pouco jogou: apenas cinco partidas e um gol.
Uma 10 maestra
O Flamengo enfim foi achar um novo dono da 10 em Felipe, ex-lateral-esquerdo revelado no Vasco e que passou para o meio de campo. Contratado junto ao Galatasaray, da Turquia, ele defendeu o Rubro-Negro entre 2003 e 2004 e foi bem. Principalmente em 2004, quando foi o grande destaque da campanha do título carioca conquistado em cima do próprio Vasco na final.
Em 2004, Felipe comanda a vitória do Flamengo sobre o Vasco pelo Campeonato Carioca
Nas ausências do meia, alguns jogadores chegaram a jogar com a 10: Igor Cearense (baixinho contratado após aparecer pelo Figueirense) e Yan (que chegou do Náutico) em 2003; e até Jônatas (aquele da trivelinha) em 2004. Com a saída de Felipe no fim daquela temporada, deu-se início a uma nova peregrinação.
Apostas furadas no mercado
Em 2005, o Flamengo busca o meia Caio no Chunman Dragons, da Coreia do Sul, para ser o 10, mas ele fez só 14 jogos e perdeu espaço após a saída do técnico Cuca. Já sob o comando de Celso Roth, quem assumiu a camisa foi o prata da casa Fellype Gabriel (na sua ausência Renato Abreu também chegou a usar o número).
Souza, ex-jogador do Flamengo
Reprodução
No segundo semestre, a diretoria fez outra investida internacional e contratou o meia Souza junto ao Krylya Sovetov, da Rússia. Ele virou o camisa 10 tanto com Roth, o interino Andrade e Joel Santana, mas também não correspondeu: foram 25 jogos e apenas dois gols.
No início de 2006, Diego Souza chegou a usar a 10 rubro-negra. Mas logo o Flamengo reservou o número para uma contratação, e o desejo era Rivaldo, que estava no Olympiacos, da Grécia. Mas a negociação não avançou. A que deu certo foi com um nome muito mais modesto: Walter Minhoca, contratado do Ipatinga após o Rubro-Negro eliminar o time mineiro na semifinal da Copa do Brasil.
Walter Minhoca, ex-Flamengo
Reprodução
Ele foi um dos pedidos do técnico Ney Franco, que buscou reforços no próprio Ipatinga, que ele comandava até então. Mas nenhum deles vingou no Flamengo. Minhoca disputou apenas 19 partidas e não fez nenhum gol.
Cria assume a bronca
Sem solução no mercado, coube a um cria da Gávea virar o novo dono da 10: Renato Augusto. O meia já usou o número no segundo jogo da final da Copa do Brasil de 2006, conquistada em cima do Vasco, e ficou com a camisa até ser vendido para o Bayer Leverkusen, da Alemanha, no meio de 2008 (nesse período, Marcinho, que brilhou com a 22 rubro-negra naquele ano, chegou a usar a 10 excepcionalmente em um jogo sem Renato Augusto).
Renato Augusto em Real Potosí x Flamengo em 2007
Agência O Globo
Na hora de buscar um substituto para o 10, o Flamengo voltou a apostar suas fichas em um gringo. E o escolhido da vez foi o argentino Sambueza, contratado junto ao River Plate. Mas ele virou uma grande decepção: disputou apenas sete jogos e não fez sequer um gol.
Em 2009, o Flamengo voltou ao mercado para achar um 10. E o escolhido foi o atacante Zé Roberto, que havia se destacado pelo Botafogo e que chegou por empréstimo do Schalke 04, da Alemanha. Porém, ele sentiu o peso da camisa, começou mal e foi até reserva na final do Carioca, conquistado em cima do próprio Botafogo. Só melhorou e terminou o ano como titular com o número 26.
Uma 10 imperial
Zé Roberto mudou de número por uma "causa nobre": um pedido de um Imperador. Após rescindir com a Inter de Milão, da Itália, Adriano voltou ao Flamengo como grande contratação. Chegou a fazer alguns jogos com a camisa 9, mas queria mesmo a 10. E com ela levou o clube ao título brasileiro em 2009, encerrando um jejum de 17 anos na Série A.
Andrade e Adriano no Flamengo em 2009
VIPCOMM
Petkovic, que tinha voltado ao Flamengo naquele ano e também foi decisivo na campanha do título usando o número 43, pediu a 10 de volta após a saída de Adriano para a Roma, da Itália. O sérvio vestiu a camisa até o fim daquela temporada.
Uma 10 reverência
Para substituir à altura Adriano, o Flamengo foi no mercado buscar o astro Ronaldinho Gaúcho em 2011. Para contratar o jogador que encantou o mundo pelo Barcelona e estava no Milan, da Itália, o Rubro-Negro venceu a concorrência de Grêmio e Palmeiras e fez uma apresentação pomposa na Gávea.
Ronaldinho pelo Flamengo contra o Grêmio em 2011'
Wesley Santos/Agência Estado
O craque empolgou a torcida, porém, ficou devendo no Rubro-Negro. Foram 28 gols em 74 jogos, mas conquistou apenas um título, de campeão carioca invicto naquele ano, e deixou o clube brigado com a diretoria em maio de 2012. A diretoria, então, mais uma vez "guarda" o número até encontrar um substituto no mercado.
Nova peregrinação
O alvo escolhido foi Carlos Eduardo, que viveu um ótimo início de carreira no Grêmio e estava no Rubin Kazan, da Rússia. Mas como a negociação foi demorada, o jovem Nixon foi quem usou a 10 nos primeiros jogos de 2013. O cria Rodolfo subiu como grata surpresa e também teve o privilégio de usá-la antes de voltar para a base.
Camisa 10 em 2013, Gabriel era reserva e muito criticado pela torcida
Marcelo Moreira / Agência Estado
Quando Carlos Eduardo enfim chegou, passou longe de corresponder à alta expectativa da torcida. Foram 49 jogos e um único gol (que coincidentemente acabou sendo importante na campanha do título da Copa do Brasil de 2013 porque ajudou a eliminar o favorito Cruzeiro nas oitavas de final).
A temporada terminou com a 10 sendo usada pelo meia Gabriel, um dos jogadores mais criticados daquele elenco rubro-negro. Para 2014, a diretoria optou por arriscar mais uma vez o mercado externo e buscou o jovem argentino Lucas Mugni, de 22 anos, comprado junto ao Colón, de seu país. Porém, ele nuca se firmou (em 51 partidas, fez cinco gols).
Mugni comemora um gol em Criciúma x Flamengo
Getty Images
Mugni continuou no clube em 2015, mas perdeu a 10. Ela só voltou a ser usada e a achar um dono fixo no meio do ano, quando o Flamengo contratou o meia Ederson da Lazio, da Itália. Ele defendeu o Rubro-Negro por duas temporadas, mas não deixou saudades. Sofreu com questões físicas e clínicas (inclusive um tumor no testículo) e fez apenas 39 jogos e quatro gols no período.
A Era Ribas
Sonho antigo da diretoria, Diego Ribas enfim foi contratado pelo Flamengo em 2016, mas chegou usando o número 35 porque a 10 já tinha dono. Ele só começou a usar a camisa mística de Zico nos torneios da Conmebol em 2017 e adotou a numeração de forma fixa a partir de 2018, ficando com ela até o fim de 2022.
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Ederson em sua apresentação no Flamengo
Gilvan de Souza / Flamengo
E no meia a 10 matou a saudade dos tempos áureos: ao todo, foram 289 jogos, 44 gols e 12 títulos: quatro Cariocas (2017, 2019, 2020 e 2021), duas Libertadores (2019 e 2022), dois Brasileiros (2019 e 2020), duas Supercopas do Brasil (2020 e 2021), uma Recopa Sul-Americana (2020) e uma Copa do Brasil (2022).
Quando Arrascaeta foi contratado em 2019, houve uma promessa de que quando Diego saísse o uruguaio herdaria a 10. Porém, quando o meia decide se aposentar em 2022, Gabigol pediu a camisa para ele e foi atendido pela diretoria. Coincidência ou não, de lá para cá começou a queda brusca de desempenho do ídolo.
Diego, com a camisa 10 do Flamengo
Gilvan de Souza/Flamengo
O atacante teve um 2023 terrível, perdeu a titularidade e terminou o ano pela primeira vez sem ganhar nenhum título no Flamengo. E esse ano, além dos desdobramentos da acusação de tentativa de fraude em exame antidoping, o atacante também se envolveu em outra polêmica ao aparecer com a camisa do Corinthians em uma foto vazada nas redes sociais e foi punido com a troca de camisa (passou a usar o número 99).
Sem ser usada desde maio, a mística camisa 10 rubro-negra continua lá, à espera de um novo e duradouro dono.
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