Amistoso nesta sexta é o penúltimo antes da disputa da Copa América. TV Globo e SporTV transmitem ao vivo. Ge acompanha também em tempo real Seleção treinou no Rundforbi Stadium nesta quinta
Lucas Figueiredo/CBF
Às vésperas de comandar a seleção feminina pela primeira vez na Copa América, competição que vale três vagas na Copa do Mundo e uma para as Olimpíadas de Paris, a técnica Pia Sundhage repassou os quase três anos à frente da equipe.
Os amistosos preparatórios na Europa - contra Dinamarca, nesta sexta-feira, e Suécia, na próxima terça - são mais um passo no trabalho da treinadora sueca, que busca evolução não só da seleção, mas também do futebol feminino do país. E, neste trabalho, uma palavra é vital para ela: coragem. Em entrevista exclusiva, quando questionada se tem sido corajosa nesses anos por aqui, a comandante garante que sim.
- Sim. Senão eu não teria ficado. Penso que temos um grupo corajoso também e você precisa de coragem para tentar coisas diferentes, coisas novas, especificamente. E a pressão, claro, é para vencer. Então temos que fazer coisas diferentes para vencer porque previamente não estávamos vencendo e isso é importante - afirmou a técnica Pia Sundhage.
Coragem de renovar, passar por críticas e começar uma nova geração na seleção brasileira. A técnica comentou também a saída de atletas que marcaram história com a camisa amarela. Ressaltou que o futebol feminino evoluiu e isso indica a necessidade dessa troca.
- Somente confiar no que fizemos previamente também é perigoso. Não podemos fazer a todo momento por duas razões. As jogadoras mais velhas não são tão boas quanto eram e as jogadoras no mundo estão ficando melhores, o jogo está desenvolvendo. Algumas novas jogadoras trazem diferentes qualidades, mas também trazem o encorajamento de querer fazer coisas diferentes. Um time forte, agressivo. Essa é a única forma de fazer, eu penso - garantiu.
Técnica Pia Sundhage, da seleção brasileira feminina
Thais Magalhães/CBF
O perfil da seleção mudou justamente por essa evolução mundial na modalidade. Um time veloz e que joga junto, de acordo com a treinadora. Para ela, isso é vital para que o sistema de jogo funcione e assim ter formas diferentes de atuar, variar jogadas. O trabalho segue nesse sentido.
- Se você olhar as jogadoras no campo...rápidas, velozes, para frente. Agora precisamos organizá-las para estar na mesma página e como time quando ser rápida, quando avançar, quando acelerar. Isso é estarem juntas e pintar a mesma figura. Expectativa para o próximo jogo. Mas as novas jogadoras trazem realmente qualidades interessantes. E fazendo isso temos chance de jogar de formas diferentes também. E eu gosto muito da nova geração, por assim dizer.
A treinadora sueca ainda destacou pontos que ela viu como diferentes no comportamento de atletas no Brasil e na Suécia. No seu país de nascimento, se um atleta perde a bola, todo time ajuda a defender independentemente da posição ou status, o time é coeso. Ela notou que no Brasil não é tão normal esse tipo de comportamento. Outra questão destacada é que se cai muito, há muita simulação para garantir a marcação de falta pelo árbitro. Ela busca passar esse discurso na seleção: perdeu a bola, não ganhou a falta? O objetivo é reorganizar para recuperar a bola.
Não diria que me surpreendeu, mas essa questão que é muito diferente de onde eu já estive antes. Temos uma expressão na Suécia: se perdemos a bola todo mundo está defendendo. Isso é ajudar o time a defender independentemente se seu nome for Debinha ou Marta ou uma atacante ou se seu nome é Rafa ou Tainara. Você defende como um time.
- Por onde fui isso é importante é é uma forma de mostrar-se coeso. Fazemos juntas. E algumas vezes sinto aqui que não se faz 100%. Há um pouco de "esperar um pouco". Outra coisa na minha opinião é que você está no chão muito seguido. Se você é atingido, fica no chão em vez de "ok, perdemos a bola, não ganhamos uma cobrança de falta, então vamos voltar atrás e nos organizar". Não diria que me surpreende, mas é algo que eu não gosto. Eu gosto do jogo justo e tentar fazer seu melhor. Não tente trapacear. Jogadora de grupo. Isso significa que você não está no chão, está defendendo de diferentes formas e você está tentando defender com sua persistência - completou.
Desde sua chegada, em 2019, Pia Sundhage passou por algumas mudanças de chefia. Em 2020, saiu Marco Aurélio Cunha da coordenadoria de seleções. Duda Luizelli assumiu em setembro de 2020, sendo demitida em janeiro deste ano. Aline Pellegrino acabou acumulando a função junto com a coordenação de competições femininas. Ana Lorena Marche foi designada como supervisora das seleções. No começo de junho, nova mudança. Aline Pellegrino deixou a função acumulada e assumiu o comando das competições femininas e masculinas, abrindo um novo hiato já que Ana Lorena segue como supervisora, no momento. Além das mudanças diretas, Pia Sundhage também presenciou a troca de presidentes da CBF. Responsável por sua contratação, Rogério Caboclo foi afastado do cargo por denúncias de assédio. Ednaldo Rodrigues assumiu primeiro provisoriamente e, em março de 2022, foi eleito presidente da entidade.
- Como você sabe, se você quer fazer uma mudança você precisa de tempo e precisa ter continuidade. Agora temos chefes diferentes, três diferentes em três anos. Você dá alguns passos e aí, ok, você ganha um novo chefe e aí você volta e fica sabendo o que está acontecendo e essa é a terceira vez então a gente perde um pouco de tempo. E por outro lado, gosto de mudanças, mas as mudanças se saem por algo melhor ou maior ou mais longo. O futuro dirá se é bom ou ruim. É difícil porque você perde um pouco de continuidade e eu tenho que contar a história, o que posso oferecer ou o que posso trabalhar quando se trata de desenvolvimento afirmou Pia Sundhage.
Em meio às mudanças, o trabalho segue e com evoluções. Um desejo ainda pendente é a criação de uma seleção sub-15 algo que era ideia da antiga coordenadora Duda Luizelli.
- Quando você fala em desenvolver o jogo em si um dos nosso primeiros jogos foi contra a Argentina, você olha as jogadoras, no outro era contra a Holanda. Diferentes jogadoras para começar, diferentes formas de jogar. Isso é uma coisa. Tentar trazer a organização sueca. Acho que estamos mais organizadas hoje e também um pouco dessa determinação/coragem americana, você trabalha forte e tenta ajudar o time e essas três coisas têm mudado nesses três anos - afirmou.
Quando se fala em futebol em geral há tantas outras coisas que eu posso fazer com meu time, mas é sobre organização. Nós não temos uma seleção sub-15 somente sub-17 e sub-20. Temos espaço para isso e fizemos isso na Suécia e muitos outros países têm a sub-15 e por daí em diante. Por exemplo, você tem conferências com os clubes, com técnicos.
Pia deu mais exemplos do seu trabalho na Suécia para expressar sua opinião:
- Na Suécia nós temos a cada ano, temos algo chamado "caminho" para as jovens jogadoras. Então, certas coisas eu poderia ter feito mais, mas é difícil porque preciso da organização para fazer isso. Eu sou somente a treinadora, mas poderia adicionar coisas não somente para desenvolver a seleção principal, mas também o desenvolvimento para o futebol feminino no Brasil. E isso é muito maior e leva muito mais tempo. Há potencial para fazer isso porque há talentos jogando nesse país, então temos que aumentar o nível e fazer isso juntos.
Depois de enfrentar as dinamarquesas, que contam com a estrela Pernille Harder, atualmente no Chelsea, o Brasil terá um amistoso diante da Suécia na terça-feira, dia 28, às 13h30 (de Brasília), também com transmissão da TV Globo e SporTV. A seleção deixa a Europa no dia seguinte, quando as atletas estarão liberadas para folga. A viagem para a Copa América ocorre no dia 5 de julho. A estreia contra a Argentina ocorre dia 9 de julho, às 21h (de Brasília), em Armênia, na Colômbia.
Reforço do Barcelona, Geyse trabalha com a Seleção
Lucas Figueiredo/CBF
CONFIRA OUTRAS RESPOSTAS DA TREINADORA:
ENFRENTAR AS MELHORES SELEÇÕES
- É muito importante para mim jogar contra boas equipes. Então, se pudermos jogar contra os 10 melhores países do ranking, o tempo todo, tenho certeza absoluta de que o time vai melhorar muito e isso é um pouco traiçoeiro porque há a qualificação adiante, você precisa planejar para ter sucesso. Isso significa que podemos fazer um trabalho melgoe para planejar com quem jogaremos no outono, com quem iremos jogar antes de todo o caminho. Realmente queremos qualificar então com quem vamos jogar? E jogar contra as melhores equipes, essa é a fórmula vencedora. Pode perguntar a qualquer treinador, como Sarina, da Inglaterra. Eles perderam, ganharam, perderam, mas se acostumaram com o mais alto nível de desempenho, e isso é importante. Às vezes você ganha, às ezes você perde em sua jornada para a medalha
A PARTE FÍSICA ESTÁ MELHOR EM RELAÇÃO A TÓQUIO?
- Nós tentamos. Para mim é óbvio que jogar as quartas de final contra o Canadá com com a parte física melhor até quando vem a resistência poderia ser melhor. Olimpíada é muito diferente porque temos apenas dois dias entre os jogos. Você deveria se recuperar em dois dias. Agora é diferente. Na Copa América você tem mais dias entre os jogos. Isso faz a diferença então tentamos fazer coisas próximas às jogadoras. Se você joga na Europa, por exemplo, elas têm um intervalo agora. Se você joga na Inglaterra, elas têm uma equipe nacional que garante que elas tenham alguns camps enquanto tentamos apoiar as jogadoras que temos nos EUA, não podemos ter camps. Nós temos uma liga em andamento agora. Então nós tentamos achar uma forma de dar suporte a cada uma das jogadoras para então elas estarem preparadas para jogar muitos jogos na Copa América e contra Dinamarca e Suécia também. Para responder sua pergunta, eu não sei. Vamos ver como elas chegam. Estamos fazendo um pouquinho diferente do que da última vez
MUDANÇAS EM RELAÇÃO A TÓQUIO
- A maneira como estamos seguindo as jogadoras agora. É um time esportivo, mas são indivíduos então elas precisam de coisas diferentes, por exemplo, algumas precisam de mais resistência, precisam repetidos sprints, nós damos a elas um programa de treinamento. Se você vive na Europa, a iga para etão elas precisam de uma pausa. Elas têm seus relógios, tentamos estar perto delas e dar feedback. O mais importante é a comunicação. A checagem é todo dia. Nosso preparador físico certifica-se de que as jogadoras "europeias" elas precisam se preparar para vencer então estão com as férias acabando agora
COPA AMÉRICA NO HORIZONTE
- Eu realmente espero que as jogadoras que você possa ver nos olhos que isso importa. Então tudo que você faz dentro e fora de campo eles são afinados e isso especificamente as leva a um local mais longe para a Austrália. Espero que elas estejam saudáveis e que tenham feito seus programas. Se você joga no Corinthians, Palmeiras, seja lá o que sabemos que eles estão jogando e eu também espero que elas sejam um bom time e joguem com o coração. Neste país ouço a palavra coração tantas vezes em todas as músicas e eu gosto disso porque te leva para a palavra paixão e isso que você precisa se você é uma jogadora de grupo ou se você é uma estrela e quer ganhar o próximo jogo. Essa brasileira emocional se ela pega um pouco dessa coragem. Não emocional por 40/45 minutos, por 90 minutos. Mas também essas coisas emocionais nessa área da equipe são organizadas. Vou dar um exemplo: a bola está toda para o lado esquerdo e eu estou jogando para o lado direito. Eu sinto que empurrar é tão importante. Eu sinto que minha conversa com minha zagueira é muito importante. Não importa se a bola está a cinco jardas de mim ou se está a cinquenta. Então isso é organização, então é importante esses dois passos a mais. E se fizermos isso, ficaremos bem.
>> Confira a tabela da Copa América feminina