Acho um equívoco julgar algo pelo passado ou por 20 sessões de treino Existe uma grande dificuldade para o torcedor brasileiro entender que nenhum trabalho vai funcionar na nossa pressa, nenhuma consolidação acontece em semanas. Temos exemplos, pelo mundo, de técnicos que levaram meses, anos para se tornarem produtivos em seus times. Mas aqui
Fernando Diniz em Fluminense x Atlético-MG
André Durão
O fã de futebol não permite oscilação, não aceita a derrota como parte do processo, não aceita o erro como aprendizado. O Botafogo conseguiu um sucesso efêmero na transição para a SAF e, na cabeça do torcedor, isso deveria virar regra e não uma parte do longo caminho.
Maurício Barbieri no Red Bull Bragantino foi eliminado da Libertadores, perdeu jogos no Brasileirão, seguiu no comando e voltou a vencer, recolocando o Bragantino na parte alta da tabela.
Vojvoda dirige uma seleção? Um elenco primoroso? A resposta é não! Talvez tenha virado refém do próprio sucesso de levar um time mediano a fazer uma campanha invejável em 2021. Se mandar embora resolve? Talvez nos primeiros jogos, depois o Fortaleza vai penar para se reencontrar.
São vários os exemplos: Abel Ferreira, Morínigo
Diniz observa jogadores durante treino do Fluminense
Marcelo Gonçalves / Fluminense FC
Aí chega o Fernando Diniz, assume um time com o Brasileiro em andamento, não teve pré-temporada, mal teve uma semana livre de treinos, no total teve pouco mais de 20 sessões com os jogadores. Mas precisa passar seu modelo de jogo; precisa treinar jogadas ensaiadas; precisa coordenar movimentos ofensivos e defensivos; precisa conhecer melhor o elenco que tem nas mãos. Sabe o que mais precisa? Adaptar um time a jogar quando tiver em inferioridade (10x11) e quando tiver mais jogadores em campo (11x10). Ele disse na coletiva que não tinha treinado isso, pura sinceridade!
Também disse que um jogo contra 10 não fica NECESSARIAMENTE mais simples, verdade!! Se você não tem o seu time na mão, não fica. Repito, são cerca de 20 treinos. É absolutamente normal, para quem ainda não chegou a dois meses de trabalho jogando toda semana.
É claro que ele cometeu erros de decisão nos jogos contra Atlético-GO e América-MG, e é claro que erros de tomada de decisão deveriam ser aceitos para quem está no cargo há tão pouco tempo. Só que é este Diniz que é encarado por parte da torcida do Flu como o Diniz de 19, como o cara que não encontra resultados. Injusto? Claro que é! Por que tem que ser o mesmo Diniz se já vemos diferença na forma de jogar?
Acho um equívoco julgar algo pelo passado ou por 20 sessões de treino. Ah, mas alguém vai dizer, "se ele não é responsável pelas derrotas, também não pode ser responsabilizado pelas vitórias". Bobagem, ele é responsável pelas duas, mas só deveria ser julgado pelas derrotas após ter o time na mão, e isso demanda tempo.
Fernando Diniz passa orientação para Luiz Henrique em Palmeiras x Fluminense
Marcos Ribolli
No jogo contra o Atlético-GO, o Flu começa tentando furar uma defesa bem armada. As jogadas de aproximação estavam funcionando com Árias e Luiz Henrique. Cano chegou a perder um gol feito. Mas, após perder David Braz expulso, o time se perde. Uma situação destas, treinada, faria com que todos já achassem seu posicionamento, facilitando o comando do banco. Sem ter treinado, passa a ser uma situação de sorte. Diniz tenta colocar Felipe Melo para levar o 0 x 0 até o intervalo e ajeitar na conversa. Não conseguiu. Jorginho também não mexe no time, provavelmente por ter acabado de assumir e ainda estar tateando o elenco, mas acha um gol de longe que desmonta qualquer ideia para o Fluminense.
Contra o América-MG, a situação se inverte. Acho que o grande erro do Diniz foi não ter tentado, logo de cara, mexidas que sacudissem o time, como a saída do Wellington, e pegassem o Coelho antes do time chegar ao vestiário. Isso ajudou o Mancini. Mas esta falta de domínio ainda é totalmente compreensível.
O que é difícil de aceitar é o fato de que o torcedor Brasileiro não quer ter tempo para perder, não aceita o processo e só julga pelos resultados de momento, infelizmente.
*Carlos Eduardo Sá é jornalista da Globo e editor-chefe do Troca de Passes. A opinião acima é pessoal e não reflete a opinião do ge.