Apesar da desaceleração, a taxa de março ficou acima da mediana de projeções levantadas pela Bloomberg, de 0,30%.
O índice segue sendo pressionado pelos preços de alimentos e bebidas, que tiveram alta 0,91%, com um leve recuo ante fevereiro, quando subiram 0,97%. O grupo, que vem sendo impactado por efeitos climáticos do fenômeno El Niño, representou a maior variação e o maior impacto sobre o IPCA-15 de março.
Com o resultado, o índice acumula alta de 4,14% em 12 meses, enquanto o mercado esperava elevação de 4,09%. Em fevereiro, a taxa nesse recorte ficou em 4,49%.
Diferente do IPCA, o período de coleta do IPCA-15 ocorre entre a segunda metade do mês anterior e a primeira metade do mês de referência da divulgação. Por ser divulgado antes, o índice sinaliza uma tendência para a inflação oficial do Brasil.
O IPCA, por sua vez, é baseado em dados levantados apenas no mês de referência, e será divulgado no dia 10 de abril. Desta forma, o resultado fechado de março ainda não aparece completamente na coleta do IPCA-15.
A inflação oficial é importante para a política de juros do país. O centro da meta perseguida pelo Banco Central é de 3% no acumulado de 2024.
A tolerância é de 1,5 ponto percentual para menos (1,5%) ou para mais (4,5%). Assim, a meta será cumprida se o IPCA ficar dentro do intervalo de 1,5% a 4,5% nos 12 meses até dezembro.
Atualmente, a inflação brasileira acumula elevação de 4,5% nos últimos 12 meses.
O mercado projeta que o IPCA encerre 2024 a 3,75%, segundo a mais recente edição do Boletim Focus do BC, que reúne as projeções de economistas para os principais indicadores econômicos do país.
ALIMENTAÇÃO CONTINUA PESANDO
Dos 9 grupos de produtos e serviços pesquisados, 5 registraram alta em março na comparação com fevereiro. No grupo de alimentação, que tem sido um do maiores impulsionadores de preços nos últimos meses, pesaram os preços da cebola (16,64%), do ovo de galinha (6,24%), das frutas (5,81%) e do leite longa vida (3,66%).
Com isso, a alimentação no domicílio subiu 1,04% em março, ante alta de 1,16% registrada em fevereiro. Como contrapeso, apresentaram quedas de preços neste mês a batata-inglesa (-9,87%), a cenoura (-6,10%) e o óleo de soja (-3,19%).
Já a alimentação fora do domicílio acelerou em março (0,59%), devido à alta mais intensa de preço da refeição, que subiu 0,76% em março, segundo o IBGE. Já o lanche registrou variação inferior à registrada no mês anterior.
No grupo de transportes, a inflação foi de 0,43%. Seguindo a tendência registrada no IPCA de fevereiro, os preços gerais dos combustíveis aceleraram para 2,41%, influenciados pelas altas no etanol (4,27%) e na gasolina (2,39%). Já os preços do gás veicular e do óleo diesel recuaram.
As passagens aéreas também seguiram tendência do mês anterior e registraram em março queda de 9,08% no IPCA-15. Em 2023, o item foi o terceiro com maior peso no IPCA, acumulando alta de 47,3%. Já neste ano, os bilhetes aéreos acumulam recuo de 24,29%.
No grupo saúde e cuidados pessoais, cuja inflação do IPCA-15 subiu 0,61% em março, o resultado foi influenciado sobretudo pela alta de 0,77% nos planos de saúde, de 0,73% nos produtos farmacêuticos e de 0,39% nos itens de higiene pessoal.'
IPCA-15 REFORÇA CAUTELA DO BC COM JUROS'
Para o economista Alexandre Maluf, da XP, alguns dados de inflação do IPCA-15 de março reforçam a posição mais cautelosa do Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central), que diminui a previsibilidade de mais cortes de 0,5 ponto percentual da taxa básica de juros, Selic, ao retirar do comunicado da decisão de juros o plural de "próximas reuniões" para "próxima reunião".
"A gente vê um Copom de fato tendo razão em ser mais cauteloso diante desses dados de inflação e também de atividade e mercado de trabalho mais fortes no Brasil", afirma.
Para o especialista, a desaceleração da inflação de alimentos foi decepcionante no IPCA-15 de março, já que o mercado esperava uma redução da alta ainda maior do que o 0,06 ponto percentual visto em relação a fevereiro. Ele também saliente que a queda nos preços das passagens aéreas também decepcionou.
Rafael Costa, analista e integrante do time de estratégia macro da BGC Liquidez, também se frustrou com esses mesmos dados.
"Num primeiro olhar, alguns detalhes não foram muito bons. A deflação de passagens aéreas foi de 9% enquanto nossa projeção de deflação era de 20% na comparação mensal", salienta.
"Ficamos desapontados também com a inflação de alimentação, gostaríamos de ter observado uma diminuição da inflação mais expressiva nesse conjunto de preços (...) Neste primeiro olhar do número como um todo, não achamos que foi um resultado tão favorável", completa Costa.
O analista, contudo, enxerga como favorável no IPCA-15 a deflação de itens industriais, além das inflações de serviços subjacentes e da média dos núcleos (que retiram da análise itens mais voláteis para observar melhor a tendência de preços), que não vieram muito acima das projeções da BGC.
Mas apesar da melhora da média dos núcleos, Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura Investimentos, enxerga piora na média de três meses da inflação. "Com a mensagem da ata do Copom hoje, tudo em aberto ainda, não é possível descartar um corte de 0,5 p.p. em junho, mas é mais um argumento na direção de que o BC tenha que reduzir o ritmo de cortes", diz.
Já para o economista Matheus Pizzani, da CM Capital, em termos de política monetária, o resultado do IPCA-15 de março pode ser considerado positivo se analisado sob a perspectiva da busca pela retomada da estabilidade de preços, objetivo atual do Banco Central.
"Esta hipótese se sustenta quando analisamos o resultado sob a ótica das categorias de preço que compõem o indicador", afirma. Ele ressalta que os preços administrados, que seguem reajustes contratuais ou são regulados pelo setor público, estão sendo influenciados em sua maior parte exclusivamente pelos combustíveis automotivos.
Além disso, ele cita os preços livres, que são afetados acentuadamente pelas taxas de juros e que desaceleraram fortemente na comparação com o mês anterior, após um efeito sazonal de alta com o aumento da demanda pelo pagamento do 13º salário e o reajuste do salário-mínimo.
Por fim, ele cita a inflação de serviços, que tem sido acompanhada de perto pelo Banco Central. "Os serviços subjacentes voltaram a apresentar inflação baixa, movimento que tende a ser visto também nos meses subsequentes", avalia.
Fonte: noticias ao minuto