Ao contrário da agitação dos primeiros dias após Navalni, 47, cair morto supostamente durante uma caminhada, o clima é de consternação e vigilância em Borisovskoie, um pequeno cemitério num canto escondido do sul de Moscou.
Nos 60 minutos em que a reportagem permaneceu no local, na tarde desta quarta-feira (13), 26 pessoas passaram pelo local, a maioria deixando solitárias flores em torno da lápide do mais famoso opositor de Vladimir Putin, que irá ser reconduzido à Presidência pela quinta vez no pleito que começa em dois dias.
Uma foto de Navalni é cercada de bilhetes e muitas flores, junto à entrada do cemitério, com uma bem evidente câmera de vigilância logo acima do local. Dois policiais com jaquetas camufladas caminham aleatoriamente entre os ativistas, fumando cigarros e falando ao celular.
Logo depois da morte do opositor, mais de 400 pessoas foram presas por fazer a mesma homenagem: depositar flores, inicialmente em monumentos às vítimas da repressão soviética em várias cidades, depois em Borisovskoie. Agora, o silêncio impera.
Irina, única que aceitou conversar rapidamente com a Folha de S.Paulo, disse que Navalni morreu em vão, mas nem por isso deixaria de homenageá-lo. E o medo de ser presa? "Isso pode acontecer em qualquer lugar", afirmou ela, que vai abster-se de votar na eleição que se desenrolará em inéditos três dias, de sexta (15) a domingo (17).
Uma amiga dela ficou o tempo todo sentada em um banco chorando, com o rosto junto às pernas. Outros, jovens em sua maioria, faziam curtas orações. Alguns tiravam fotos ou faziam filmagens, atraindo o olhar escrutinador dos policiais, mas sem incidentes.
Esse espraiamento da tensão acompanha a apatia que marca este fim de campanha presidencial, em que Putin enfrentará três candidatos pro forma. Aliados de Navalni farão um teste de estresse no domingo, tendo convocado apoiadores do opositor a comparecer para votar ao meio-dia, gerando filas nas seções eleitorais.
Um desses aliados, Leonid Volkov, recupera-se de um ataque a marteladas sofrido na terça (12) em Vilnius, a capital lituana em que está exilado. Nesta quarta, o governo local culpou a Rússia pelo ataque.
"Eu só posso dizer uma coisa a Putin: ninguém está com medo de você aqui", afirmou o presidente Gitanas Nauseda. Para ele, a ação foi duplamente direcionada, à memória de Navalni e a seu país, integrante da Otan (aliança militar ocidental) particularmente incômoda a Moscou, por ter sido integrante da União Soviética até 1991.
Fonte: noticias ao minuto