Equipe catalã surpreende com liderança após 16 anos jogando futebol ofensivo. Os brasileiros Savinho e Yan Couto são titulares. Você já ouviu o termo "espanholização" para definir a disputa de sempre entre Barcelona e Real Madrid o Campeonato Espanhol, certo? Pois o Girona quer provar que ainda há vida na Espanha.
O modesto time do nordeste da Espanha lidera o Campeonato Espanhol de forma surpreendente. São 13 vitórias, sendo a últimas delas de 4 a 2 sobre o Barcelona, em pleno Camp Nou.
Talvez modesto não seja o melhor nome para definir o time. Afinal, o Girona é parte do City Football Group, o mesmo conglomerado que administra o Manchester City e o Bahia, desde 2017. Apesar de rebaixado para a segunda divisão em 2018/19, o clube se reestruturou e reformou o elenco mesclando juventude e algumas caras conhecidas.
Savinho Sávio Yan Couto Girona x Valencia
Lluis Gene/AFP
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A montagem de elenco passou por Míchel, treinador que assumiu o clube em julho de 2021 por ser um "Rei do Acesso" espanhol, com bons trabalhos em elencos de pouco investimento como o Rayo Vallecano e o Huesca. Ele ficou na temporada seguinte e surpreendeu com um décimo lugar, sem sustos.
Um dos pilares do time é Daley Blind, ele mesmo, ex-United e Ajax. Aos 37 anos, Cristhian Stuani sempre sai do banco para marcar seus gols. A eles se juntam jogadores que o City Group quer dar rodagem, como Eric García, o lateral-direito Yan Couto e o atacante Savinho, com passagem pelo Atlético-MG.
4-4-2 que ataca em 3-2-5: as variações táticas do Girona
O Girona joga num 4-4-2 com diversas variações. A primeira dela é a descida de Yan Couto para formar uma linha de cinco defensores quando o jogo pede uma defesa mais fechada, como foi contra o Barcelona. Quando o time se defende com duas linhas de quatro, Eric García faz o papel de lateral direito e Michel o de esquerdo. A base do time é essa que você vê na imagem, com todos os titulares disponíveis.
Time base do Girona, líder do Campeonato Espanhol
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O esquema tático de um time é apenas uma plataforma. Um ponto de partida. Como os jogadores se movimentam com a bola? E sem a bola? O Girona está longe de ser um time que se comporta como Golias, fechado lá atrás.
A estrutura de ataque conta com Savinho e Yan Couto jogando pelos lados, dando amplitude. Dovbyk é o centroavante que segura mais a defesa. Por dentro, Tsygankov, Miguel e Martin se aproximam e jogam no chamado setor "entrelinhas", procurando as costas dos volantes adversários. Nessa dinâmica, o setor esquerdo ganha muita força.
É por lá que Savinho arrisca muito com a bola no pé, sempre driblando ou fazendo inversões de posição com Miguel, o "coringa" do time: ele defende como lateral, ora faz a ala e é quem mais se movimenta do tripé ofensivo, geralmente fazendo um movimento de apoio (buscar a bola) de Blind.
Girona ataca em 3-2-5, com Miguel abrindo espaço para Savinho
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Quando isso acontece, Miguel chama alguns marcadores e abre espaço para Savinho ficar mais livre. O brasileiro tem cinco gols e quatro assistências em 16 jogos e já é cobiçado por vários grandes times da Europa.
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Os ataques do Girona passam, essencialmente, pelas jogadas que começam com a bola tocada pelos três zagueiros, a movimentação de Miguel ou Tsygankov e as chegadas pelas alas. Yan Couto deu duas assistências contra o Barcelona, Savinho é um dos artilheiros do time.
O time tem um estilo de tocar a bola, inverter os lados e chegar com muita gente na área, correndo e trocando de posição. Para manter o controle, perceba que Blind (e García) podem avançar para manter a compactação ofensiva: o time todo junto quando ataca e quando defende.
Compactação ofensiva e cobertura feitas pelos zagueiros
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O Girona tem a 3º maior média de posse de La Liga: 57,2% do tempo no jogo. É o melhor ataque do torneio com 38 gols, a quarta equipe que mais troca passes e a terceira que menos passes permite ao adversário por posse de bola. De retranca, não há nada aí.
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O trabalho dele no Girona não vem de agora. É muito inteligente, tem a parte tática na ponta do lápis e consegue passar tudo que o adversário pode fazer. Essa temporada demonstramos muito mais porque os jogadores entenderam. Tem detalhes, como o zagueiro sair jogando em vez de jogar para fora ou rifar a bola. É muito difícil defender contra o nosso time
O desafio do Girona é manter o ritmo no segundo turno, conhecido por ser mais exigente, num momento em que as disputas ficam mais claras. Além de Barcelona e Real Madrid, os comandados de Míchel também terão que neutralizar o sempre competitivo Atléti e outros times de um dos melhores campeonatos do mundo.
Prova de fogo para uma equipe que surpreende e joga muito além do que os nomes de seu elenco sugeres. Uma das melhores histórias do futebol europeu em 2023.