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Se algo não muda no Flamengo de 2023 é a fidelidade de Vítor Pereira a suas convicções

Por Virtual Rondônia em 02/04/2023 às 02:56:23
É possível concordar ou discordar das opções de Vítor Pereira. O que não é possível é dizer que não se trata de um homem de convicções e de personalidade forte. Muito menos que tenha algum receio de tomar decisões impopulares em nome de suas ideias. Seu Flamengo abriu a decisão com o Fluminense com uma escalação surpreendente e que, certamente, não povoava o imaginário da imensa maioria dos torcedores rubro-negros.

A partir daí, há duas constatações a fazer, sempre com o cuidado de não promover um contorcionismo analítico para se conciliar com o resultado. É fato que Vítor Pereira tinha um plano: mandar a campo um Flamengo com vigor, com saúde para pressionar e competir, antes de encerrar o jogo com uma formação mais técnica, capaz de reter mais a bola após um longo período em que a equipe dependeu de escapadas mais verticais, mais velozes. Outra coisa é dizer, por causa da vitória por 2 a 0, que tudo saiu como o planejado. Porque nos 20 minutos iniciais, claramente houve um time superior, e este foi o Fluminense. Depois, o Flamengo equilibrou ações, mas era muito mais seguro do que propriamente criativo. Passou a dominar, de fato, conforme a segunda etapa avançava. O fato é que nem rubro-negros, nem tricolores, jogaram um clássico brilhante.

Vitor Pereira - Flamengo x Fluminense

André Durão

Foi um Fla-Flu dividido em algumas fases. E a primeira delas foi francamente favorável ao Fluminense. Num duelo de pressões e de tentativas de sair delas, o tricolor tinha mais sucesso. E ao se instalar no campo ofensivo, fazia seus dois pontas permanecerem abertos, traço de uma nova faceta que Fernando Diniz tenta dar ao time em 2023. Assim, empurrava a linha de cinco defensores do Flamengo para trás e criava superioridade no meio-campo. Ganso mandava no jogo em minutos iniciais brilhantes. O tricolor teve chances até a parada técnica.

A partir dela, o que muda é a melhora da pressão do Flamengo, que consegue ter passagens um pouco mais longas com a bola. E quando isto ocorre, o Fluminense costuma marcar muito perto de sua área, com seus dois pontas retornando quase até a última linha defensiva. Além disso, o processo de implantação da nova forma de atacar, com pontas abertos e alguns jogadores ocupando zonas do campo determinadas, ainda parece fazer o time fluir menos naturalmente. O fato é que o jogo se tornou menos confortável para o tricolor.

O que não significa, por outro lado, que o Flamengo jogasse bem. Tinha dificuldade para construir e ainda dependia de ataques em velocidade pelos lados. Não aconteciam tantos, e o intervalo traz tentativas de mudanças.

Fernando Diniz colocou Pirani, inclinando-se novamente ao modelo mais tradicional do Fluminense: os dois pontas aglomerando no mesmo lado, jogadores mais próximos em torno da bola. Mas nenhuma mudança tática costuma, em futebol, ter mais efeito do que um gol. E o Flamengo, ao atrair a pressão tricolor e buscar mais uma bola longa, teve sucesso. Explorou o espaço entre meias e defensores do Fluminense e fez a jogada girar da direita até a esquerda, onde Ayrton Lucas, o melhor do Fla-Flu, abriu o placar.

Era um Flamengo seguro para defender, embora ainda não fosse criativo. Até que se inicia a nova fase do jogo. Porque, além de um gol, nada transforma mais uma partida do que jogadores tecnicamente influentes. É curioso como Vítor Pereira entrou com o time que julgava mais adequado para competir e, em vantagem, recorreu aos seus mais dotados para reter a bola. Filipe Luís, Éverton Ribeiro, Gabigol e Vidal saíram, de uma vez, do banco. Mais do que uma demonstração de como este elenco pode oferecer mais, é também um sinal de como Vítor Pereira planejou o clássico a partir das suas convicções. E não das escolhas mais populares para a arquibancada. Teve momentos difíceis na partida, mas a vitória vai chancelar sua estratégia. Assim é o futebol.

Uma sucessão de episódios moldou o jogo a partir daí. A expulsão de Samuel Xavier – tem razão o Fluminense ao reclamar da não aplicação do mesmo critério com Léo Pereira -, o segundo gol do Flamengo e o peso emocional das circunstâncias na equipe tricolor. O fato é que este novo Flamengo tinha mais bola, mais posse, mais controle. Algum traço do que fez em outras temporadas. O Flamengo que iniciara o jogo, por sua vez, inclinava-se mais ao time em completa transformação que vai buscando, com dificuldades e obstáculos, crescer neste 2023.

Ao menos, o Flamengo parece agora mais próximo do primeiro troféu do ano. Em uma semana, defenderá uma vantagem que não é definitiva, porque a final não acabou e o Fluminense tem suas possibilidades. Mas, caso venha, a taça do Carioca pode não ser a mais desejada do ano, mas dará a Vítor Pereira ainda mais respaldo. Para ele, parece não importar tanto. Seguirá fazendo escolhas à sua forma. A dúvida é saber como será a gestão dos seus maiores talentos em suas próximas escalações.

Fonte: Ge

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