Este texto é um desagravo de um jornalista contra a postura de quem se propõe democrático, reclama de relatos mentirosos, mas não compreende o papel da imprensa É compreensível que o Flamengo não quisesse fazer da entrevista coletiva, de apresentação de seu novo treinador, um palanque para lavagem de roupa suja com seu ex-clube.
É incompreensível que isto tenha transformado uma conferência de imprensa num pronunciamento sobre o tema mais importante, seu desejo legítimo de ser o treinador rubro-negro.
A única pergunta a Vítor Pereira a respeito de sua decisão de voltar ao Brasil para ser o técnico rubro-negro foi feita pela FlaTV. Todo o respeito às emissoras de clubes, realidade dos tempos modernos. Ocorre que este é um trabalho institucional. Uma entrevista pressupõe o contraditório.
Vítor Pereira fala sobre saída conturbada do Corinthians: "Não houve mentira nenhuma"
É direito de Vítor Pereira fazer uma reunião familiar e decidir voltar ao Brasil, para trabalhar. O ônus de sua decisão é abrir-se às legítimas perguntas que serão formuladas por jornalistas profissionais.
A imprensa presta serviço à sociedade, informa tanto melhor, quanto mais for possível escutar versões.
Vítor Pereira falou por oito minutos. Todo mundo é capaz de entender que o Corinthians não lhe dá, em teoria, as mesmas condições de brigar por títulos que lhe dará o Flamengo. Cabe a ele, e só a ele, dizer isto, por ter recusado uma proposta de renovação contratual para permanecer mais um ano no Parque São Jorge e aceitar (legitimamente) o convite rubro-negro.
"Quem não diz o que estou a dizer aqui, ou está a especular ou está a mentir."
Mentir? O presidente do Corinthians, Duílio Monteiro Alves, disse publicamente que lhe faltou caráter. Isto é especulação ou mentira?
Vítor Pereira afirmou, um mês atrás: "Eu não vou a lugar nenhum. Eu não vou a clube nenhum. Eu vou para casa cuidar da minha família." Afirma que depois disto, depois de o campeonato ter terminado, surgiu a primeira conversa com o Flamengo. "Fiquei a pensar, porque a proposta, do ponto de vista profissional, não há um treinador que não fique a pensar depois de uma abordagem destas."
Entende-se que sua família compreendeu a situação. Tudo parece justo. Mesmo assim ficam perguntas, que deveriam ser feitas numa entrevista coletiva, como as que existem em qualquer grande clube da Europa:
Perguntas que seguem sem resposta: 1. Quem procurou Vítor Pereira foi diretamente um dirigente do Flamengo ou por meio de seu agente? 2. O primeiro contato foi feito quando já estava em Portugal? 3. O Flamengo representa, hoje, um desafio profissional maior do que o Corinthians. Por que pensa assim e por que razão pensa que se chegou a este cenário, se falamos das duas maiores torcidas do país?
Fiquemos só com estas três questões, porque possivelmente este seria o momento de o diretor de comunicação pedir a gentileza de não transformar a apresentação do novo técnico do Flamengo numa conferência a respeito dos problemas do time paulista. Tudo pode ser tratado com bom senso. A função do assessor de imprensa também é pedir que se mude de assunto. Ser uma ponte, não um muro, entre o repórter e a fonte.
Este texto é um pedido de um jornalista profissional, para que se lembre para que servem as entrevistas. Nelas, o repórter não tem como função dizer "parabéns pelo seu trabalho". A missão é fazer a pergunta certa, sem ser inquisitório, mas tocando em assuntos relevantes e, muitas vezes, espinhosos.
A conferência de imprensa serve para esclarecer a opinião pública. O pronunciamento serve para manter o técnico do Flamengo, que ocupa um dos cargos mais importantes deste país que ama futebol, numa posição de conforto.