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Mais do Catar do que da Fifa: Copa bate recorde de lucro, e país celebra "aceitação" do Ocidente

Por Virtual Rondônia em 19/12/2022 às 10:14:26
Dirigentes cataris e da entidade comemoram "mudança de visão" sobre a sede do Mundial Na história recente das Copas do Mundo, a presença da Fifa é tão marcante que às vezes é impossível distinguir onde o torneio está sendo realizado: os estádios são padronizados, as marcas dos patrocinadores estão sempre lá e até leis dos países-sede são alteradas em benefício da organização do evento.

No Catar, definitivamente, não foi assim. O país se impôs: bandeiras do arco-íris foram proibidas em faixas de capitão, não houve venda de cerveja no entorno dos estádios – apesar de a Fifa ter garantido, em documento até hoje disponível no seu site, que haveria consumo .

Num ato simbólico poderoso, Lionel Messi ergueu a Copa do Mundo usando um bisht, manto de seda preta com detalhes dourados usado nas ocasiões mais solenes, que lhe foi oferecido na cerimônia de premiação pelo próprio Emir do Catar, Tamim bin Hamad Al Thani.

O bisht colocado sobre as costas de Messi foi alvo de críticas do Ocidente, assim como tudo que envolveu a Copa do Mundo do Catar, desde sua polêmica escolha em 2010.

Messi levanta Taça Fifa com a Argentina usando bisht

FRANCK FIFE / AFP

"Melhor de todas as Copas"

Na véspera da final da Copa do Mundo do Catar, o presidente Gianni Infantino declarou:

– Esta foi a melhor Copa do Mundo de todos os tempos.

Ele havia usado exatamente as mesmas palavras na véspera da final do Mundial da Rússia, em 2018. Não existe nenhuma dúvida de que vai repeti-las em 2026, ao fim da Copa do Mundo na América do Norte.

Sob a ótica do dinheiro, Infantino tem um ponto. A Fifa, que organiza suas finanças de maneira quadrienal, terminou este ciclo com US$ 7,5 bilhões de arrecadação (R$ 40 bilhões), ante US$ 6,4 bilhões no ciclo anterior.

O Mundial do Catar bateu recorde de arrecadação com venda de patrocínios, direitos de transmissão, entradas paras os jogos, pacotes de "hospitalidade" (como a Fifa chama seus camarotes), e outras fontes menores de receitas.

Nas últimas quatro semanas, o Catar e a Fifa receberam muitas críticas do Ocidente – pela situação dos trabalhadores imigrantes, pela maneira como tratam mulheres e pessoas LGBTQIA+.

Torcedor dos Estados Unidos é detido por usar braçadeira arco-íris

Getty Images

Numa entrevista publicada pelo ge, o único homem catari assumidamente gay afirmou sentir medo do vai acontecer após a Copa e detalhou como funciona a perseguição por parte de autoridades.

O Catar esteve sob escrutínio mundial desde 2010, quando ganhou o direito de ser sede da Copa do Mundo, num processo de escolha polêmico, que levou a própria Fifa a mudar suas regras para os Mundiais seguintes.

Apesar disso, ao longo das últimas quatro semanas as lojas da Fifa em Doha estavam sempre lotadas, sempre com filas. Pessoas vestindo camisetas da Inglaterra, do Brasil ou do Japão saíam com sacolas lotadas de produtos licenciados.

A consagração do craque: a trajetória do Messi na Copa do Mundo 2022

O que significa que os símbolos da Copa do Mundo e seu mascote La'eeb – certa ver ironizado como "o fantasma dos mortos nas obras da Copa" – vão ser muito vistos nos próximos meses, nos próximos anos.

– As pessoas vieram para cá com diferentes opiniões. Muitos, principalmente europeus, tinham alguma apreensão, alguma preocupação. Mas quando se envolveram com a comunidade do Catar, com a comunidade árabe, muitos saíram com uma opinião diferente, melhor – disse Hassan Al Thawadi, Secretário-Geral do Comitê Organizador da Copa do Mundo.

Secretário-geral do Comitê Supremo para Entrega e Legado da Copa do Mundo no Catar, Hassan Al Thawadi, ao lado do presidente da Fifa, Gianni Infantino

Christian Charisius/picture alliance via Getty Images

Enquanto 32 seleções disputavam no campo qual era a melhor seleção de futebol do mundo, fora dos estádios ocorria uma guerra de narrativas sobre a Copa do Mundo. Cada reportagem ou menção negativa ao Catar era prontamente rebatida por alguém.

O próprio presidente da Fifa, Gianni Infantino, fez um discurso de uma hora na véspera do jogo de abertura para detonar o que considera uma "dupla moral" e demonstrações de "hipocrisia" por parte de Europa – que segundo ele fecha as fronteiras para imigrantes, mas critica o Catar por contratar trabalhadores em condições precárias.

Quando a "ESPN" (americana) ou a "BBC" (inglesa), por exemplo, publicavam alguma história negativa a respeito do Catar, o site local "Doha News" (ligado ao governo) corria para publicar desmentidos ou versões contrárias.

Foi assim quando o veículo do Catar fez uma "checagem de VAR" depois de reportagens negativas sobre as acomodações para turistas no país.

Ao longo da Copa, as questões políticas escorregaram para dentro do campo. E aí a Fifa tomou duas atitudes. Primeiro proibiu; depois fez piada com quem ousou tocar nos temas proibidos.

Antes do início da primeira fase, seleções europeias quiseram usar uma braçadeira de capitão com a inscrição "One Love" e uma bandeira do arco-íris. A Fifa não deixou, ameaçou os jogadores que usassem o artefato com cartão amarelo "e outras possíveis punições".

A Alemanha protestou silenciosamente. No jogo de estreia, contra o Japão, seus jogadores posaram para fotos com a mão cobrindo a boca. Dias mais tarde, já com a Alemanha eliminada, o diretor de desenvolvimento de futebol da Fifa, Arsene Wenger, disse que "jogaram melhor a Copa as que estavam mentalmente prontas, com foco na competição e não nas demonstrações políticas".

Jogadores Alemães protestam antes de jogo contra o Japão

REUTERS/Molly Darlington

Houve momentos mais tensos durante a Copa, como quando o jornalista americano Grant Wahl foi proibido de entrar no estádio onde os EUA fez o jogo de estreia contra País de Gales vestindo uma camiseta com o arco-íris. Ele teve o celular confiscado e ficou detido por alguns minutos. A Fifa entrou em contato com ele, esclareceu a situação e ele pôde entrar no estádio.

Semanas depois, já no final do jogo entre Argentina e Holanda pelas quartas de final, Wahl teve um mau súbito na tribuna de imprensa do estádio Lusail e morreu. Sua família inicialmente insinuou que poderia ser uma retaliação do Catar, mas a própria mulher do jornalista, que é médica, informou que a causa da morte foi um "aneurisma da aorta ascendente".

Antes da Copa houve muitas dúvidas sobre a capacidade do Catar de receber tanta gente com hábitos diferentes. Inicialmente houve problemas com a venda de cervejas – proibida no entorno dos estádios dois dias antes da abertura, mesmo com a Fifa garantindo, por meio de um documento publicado em seu site, e no ar até agora, que haveria consumo.

Depois, houve dúvidas a respeito da lotação dos estádios, afinal havia espaços vazios e a lotação divulgada nas partidas mostrava números superiores ao da capacidade nominal de cada arena.

Torcida do Senegal no estádio Al Thumama, antes de confronto contra o Catar, pela Copa do Mundo

OZAN KOSE / AFP

Mas, no fim das contas, a Fifa conseguiram o que queriam: seleções de todas os continentes nas oitavas de final, África e América do Sul representadas nas semifinais, milhares de argentinos clamando por ingressos. A Copa do Mundo foi alvo de muitas críticas. Mas foi "a melhor da história" para quem a organizou.

Fonte: Ge

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