Equipe de Didier Deschamps soube controlar o jogo contra a Polônia e contou com atuação de gala de Mbappé. No próximo sábado, disputa as quartas de final contra a Inglaterra. Quando a seleção francesa venceu a Copa de 2018, criou expectativa sobre o nível de futebol que uma geração tão talentosa -- e já vencedora -- poderia alcançar. Já na Rússia, a impressão era de que Les Bleus haviam vencido o título mesmo sem atingir um desempenho compatível com seu potencial -- como se fosse preciso se poupar mesmo na decisão contra Croácia, esperando uma outra metade inexistente da competição. "On joue juste assez", jogamos o suficiente, diria algum Serge Gainsbourg suburbano enquanto pitava um cigarro em alguma bodega muito distante da Torre Eiffel.
O ciclo entre as Copas mostrou-se instável e o trabalho de Didier Deschamps sempre esteve longe de ser inquestionável, justamente por muitas vezes não extrair da equipe o futebol suculento que ela poderia desempenhar em sua melhor versão. No entanto, apesar de sofrer com desfalques de grosso calibre (apenas Kanté, Pogba, Nkunku, Kimpembe e Benzema), no Qatar permanece a sensação de que a França está sempre se poupando para o que está por vir, que seu potencial continua não tendo florescido completamente. E isso é um terror para os adversários, sobretudo os que se perfilam como candidatos ao título, como Brasil, Argentina e Inglaterra -- a impressão é que a melhor França sempre pode ser a próxima a entrar em campo.
No confronto das oitavas, contra a Polônia, a equipe de Deschamps teve momentos de instabilidade. Mais atrevida do que na partida contra a Argentina, a seleção polonesa decidiu pressionar a saída de bola e esteve por abrir o placar no fim da primeira etapa, quando Lloris e Varane salvaram duas chances seguidas. Além do indiscutível talento, a França também conta com inteligência tática e força mental. Consegue transformar-se dentro do próprio jogo, alternando entre posse de bola e um posicionamento mais recuado, como fez no segundo tempo, quando já estava em vantagem. Às vezes amassa o adversário, em outras espera -- e sempre transmitindo a ideia de que o jogo está sob controle e que o seu desempenho será aquele que as circunstâncias exigem.
Sobretudo, obviamente, dispõe de uma força da natureza que atende pelo nome de Kylian Mbappé, o homem que abre todos os caminhos -- além da assistência para Giroud, marcou dois golaços em lances nos quais parecia claramente disposto a testar Szczesny, até aqui o goleiro da Copa. O enfant terrible está um pouco mais velho e, por isso mesmo, ainda mais terrível do que em 2018, quando ainda era um jovem promissor descobrindo e desarmando as armadilhas do campo. Sua atuação neste domingo é a melhor da Copa até agora.
Mesmo com desfalques e alguma desconfiança prévia, a França não apenas mostra que é candidata como sinaliza seu potencial de crescer durante a Copa do Mundo. Como na Rússia, a impressão inclusive é que continua aquém dos seus limites, adotando muitas vezes uma postura blasé, mais perigosa para os adversários do que para ela, como se a Copa do Mundo fosse um cenário urbano de filme da Nouvelle Vague, em que a forte seleção de Deschamps, obviamente, está destinada a ser protagonista.
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