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Classificados, EUA e Inglaterra provam que antigos rótulos não se aplicam mais

Por Virtual Rondônia em 29/11/2022 às 21:56:20
Comparado a potências tradicionais do futebol mundial, é natural entender o desenvolvimento do futebol dos Estados Unidos como algo recente. O que talvez torne difícil definir uma escola americana, uma identidade histórica que caracterize o jogo do país. Por alguma razão, esta sempre foi identificada com a força física, com mais duelos do que construção.

Pois o time que se apresenta neste Mundial, todo ele em ação na Europa, embora metade da equipe titular que bateu o Irã tenha passado por academias de clubes da liga americana ou da federação, é justamente o oposto. Antes de lidar mal com a vantagem de um gol, passou o primeiro tempo com 61% de posse de bola e trocou 300 passes em 45 minutos. À base de um ótimo meio-campo com Tyler Adams, Weston McKennie e o jovem Yunus Musah, busca a construção, ocupa o campo de ataque, e foi especialmente hábil para fazer inversões de bola, alternando o lado das jogadas para bater uma defesa iraniana que chegou a ter uma linha de seis homens.

Gols dos Estados Unidos contra o Irã

Reuters

O que buscam os Estados Unidos, buscam muitas outras equipes do mundo. Os recursos que usam, são praticados por tantos clubes de tantas ligas do planeta. A Inglaterra, por muito tempo rotulada pela bola que andava mais pelo alto do que pelo chão, enfrentou a defesa de Gales e fez 3 a 0 com 65% de posse e 600 passes trocados. A transição de estilos não é nova, acompanha o time inglês há alguns anos. A equipe teve alguma dificuldade de infiltração até a cobrança de falta de Rashford, mas o jogo em que Southgate poupou titulares teve como marca a prova definitiva da capacidade do elenco inglês. Há muito talento.

A Alemanha é, hoje, um time com vários recursos do jogo posicional, marca espanhola. A Espanha também o faz, e une a isto a pressão que tantos técnicos alemães modernos elevaram a outro patamar. A Holanda não tem pontas, tampouco desequilíbrio pelos lados, o que sempre foi um traço fundamental de seu jogo nas últimas décadas. A Itália, terra do “catenaccio”, não veio à Copa. Mas na última Eurocopa teve ótimos momentos com um time propositivo, expansivo.

Nos últimos anos, os grandes torneios de seleções tornaram-se um retrato de como os traços marcantes de cada escola são, ano após ano, menos nítidos, menos rígidos. Funcionam cada vez menos como fronteiras entre nações. Não é possível dizer que todos os aspectos que formaram as identidades das seleções vão desaparecer.

Mas na medida em que jogadores circulam pelo mundo com uma mobilidade nunca antes vista, enquanto a globalização reúne as estrelas do jogo em um conjunto de ligas mais ricas, e a informação circula com uma rapidez incomparável, as ferramentas ficam disponíveis para todos. Quando uma seleção reúne 26 jogadores para um Mundial, e a imensa maioria deles vive há anos em outras culturas de futebol e de vida, é natural que as raízes, que as características culturalmente associadas ao jeito de jogar de cada país sejam mais difíceis de se preservar.

É claro que não estamos perto, nem mesmo caminhando, para ver todos os times jogando de forma exatamente igual. Sempre haverá os que atacam e os que preferem defender, os que marcam a 40 metros do próprio gol e os que se concentram à frente da área. Haverá as linhas de três, quatro ou cinco na defesa, os pontas ou as duplas de ataque, os times que aglomeram jogadores em torno da bola ou os que abrem pontas e ocupam zonas do campo para que a bola chegue a cada uma delas. E sempre haverá, claro, as características e qualidades de cada jogador. A diferença é que o cardápio do futebol está, hoje, disponível para todo mundo, e o dia-a-dia faz jovens atletas respirarem diferentes culturas. É a globalização.

Os Estados Unidos jogaram um grande primeiro tempo e avançaram às oitavas de final com ideias de jogo alinhadas com o que fazem times ofensivos no futebol de elite. A Inglaterra de Gareth Southgate é o reflexo de uma Premier League cosmopolita por excelência, que reúne alguns dos principais jogadores e treinadores do mundo todo. E a seleção se beneficia desta transformação do futebol do país num ponto de encontro de pessoas e de ideias. Os velhos rótulos já não servem mais.

Fonte: Ge

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