Brigas entre federações e cortes de Telê Santana em 1986 estão entre curiosidades; convocação para o Catar será feita nesta segunda Quando se trata de Copa do Mundo, um dos momentos mais aguardados é a convocação dos jogadores que irão disputar a competição pela Seleção. Nesta segunda-feira, Tite irá anunciar a lista final dos 26 nomes que vão ao Catar, na sede da CBF, no Rio de Janeiro. Um evento com data, hora e local marcados, no qual jornalistas do mundo inteiro estarão presentes, mas nem sempre foi assim.
O ge acompanha a convocação em tempo real e com vídeos às 13h (de Brasília).
Matéria de Tino Marcos sobre convocações para Copas em 2018
+ Qual clube teve mais jogadores convocados pela seleção brasileira para Copas do Mundo?
+ Posição por posição, o que esperar da lista de Tite para a Copa do Catar
Esta será a segunda vez que a lista será anunciada na Barra da Tijuca, na sede da CBF. A primeira vez, também com Tite, foi em 2018. Na Copa de 2014, no Brasil, a lista de Felipão foi anunciada em um evento para mais de 800 convidados numa casa de shows e eventos no Aterro do Flamengo, Zona Sul carioca.
De 1994 a 2010, as convocações de Parreira (1994 e 2006), Zagallo (1998), Felipão (2002) e Dunga (2010) foram anunciadas em hotéis no Rio de Janeiro. Anteriormente, aconteciam na sede antiga da CBF, no Centro da Cidade, longe dos holofotes das câmeras de TVs e do grande apelo de jornalistas, como conta Claudia Schnabl Faria, a Claudinha, funcionária da CBF desde 1976, responsável por organizar os documentos dos convocados pela Seleção e avisar aos clubes.
Felipão convoca a Seleção Brasileira para a Copa do Mundo de 2014
- No início era por Telex, enviava alguns telegramas, quando não tinha Telex, mandava telegrama e o clube era informado que o jogador tinha sido convocado, até porque por telefone o contato era muito pouco. O treinador anunciava a lista na salinha de imprensa, era uma coisa bem restrita, só ia o jornalista que trabalhava ali no dia a dia. Não era uma coisa grande assim, não tinha esse apelo - disse a Gerente Administrativa de Seleções na CBF.
+ Tite elogia comprometimento de Neymar e reitera que sairá após Copa
+ Neymar conta apelo do filho antes do Catar: "Só pede para ganhar a Copa, só fala disso"
Convocação de 1982 dividida em partes
Retrato de como as coisas eram diferentes na CBF foi a convocação em 1982, feita por Telê Santana. No dia 13 de abril, em vez de anunciar todos os convocados, como é feito atualmente, o treinador convocou primeiro 13 jogadores - apenas os que já haviam sido eliminados da Taça de Ouro, o Brasileirão de 1982.
Quatro dias depois, um papel timbrado, levado por um funcionário da CBF, “anunciou” a convocação de Sócrates e Careca aos jornalistas que estavam na sede, já que Telê estava internado, recuperando-se de uma pneumonia. Apenas no dia 26 de abril, na Toca da Raposa, onde os selecionados já se preparavam, Telê definiu os sete nomes restantes que completariam os 22 convocados para a seleção de 82.
Telê Santana convoca os 22 atletas para a Copa do Mundo de 1982
Acervo O Globo
O anúncio aconteceu apenas após a final do Brasileiro entre Flamengo e Grêmio. Dos sete, eram três rubro-negros (Zico, Leandro e Júnior), dois do Tricolor gaúcho (Paulo Isidoro e Batista) e dois que atuavam fora do país (Falcão, na Roma, e Dirceu, no Atlético de Madrid).
Excursões, treinamentos e cortes
Em 1986, Telê anunciou na antiga sede da CBF, no Centro do Rio, uma lista com 29 atletas, que fariam uma preparação na Toca da Raposa por dois meses. No entanto, chegou o momento em que era preciso anunciar os cortes da Seleção - entre eles, os famosos de Leandro e Renato Gaúcho por indisciplina durante o período de treinamentos.
Telê Santana, em 1986, rodeado de jornalistas e perguntado sobre a convocação dos jogadores
Já em 1978, Cláudio Coutinho anunciou 21 nomes para uma rotina de treinamentos e amistosos em Teresópolis, que antecedia uma excursão à Europa. Durante a viagem, Coutinho anunciou outros 19 jogadores, que faziam parte de uma lista alternativa, em caso de cortes. A convocação final foi anunciada com 22 nomes, entre eles 18 que estavam na primeira e outras quatro novidades.
Se em 2022, a preparação para a Copa do Mundo, desde o encontro na Itália até a estreia, será de 10 dias, em 1970 foram 111 dias de preparação para a Copa. Os convocados de João Saldanha se apresentaram na CBD em fevereiro e ficaram até a estreia, meses depois, juntos. Viveram trocas de jogadores e até de técnico, já que Zagallo assumiu o cargo. A Seleção viajou um mês antes da Copa para o México, algo praticamente impossível nos dias atuais, e conquistou o tricampeonato.
Capa do "O Globo" repercutindo a demissão de João Saldanha
Acervo O Globo
Na década de 60, o modelo de convocação comum era reunir um grupo grande de jogadores nos treinos, como Aymoré Moreira fez em 1962, convocando 41 atletas para treinar em Campos do Jordão, e depois promover cortes até chegar a lista final, dos 22 jogadores que foram para o mundial e conquistaram o bicampeonato.
Na primeira Copa de Pelé, em 1958 - também o primeiro título do Brasil -, houve uma seleção de 35 jogadores que atuavam no Rio e em São Paulo para os treinamentos de Vicente Feola em Poços de Caldas, Minas Gerais. Mas apenas 22 foram convocados para ir até a Suécia.
Convocados para Copa de 1958 em Poços de Caldas, em Minas Gerais. Entre eles, Pelé!
Reprodução: Museu Seleção Brasileira/ Foto: Arquivo Nacional/Fundo Correio da Manhã
Primeiras convocações: rachas de federações e disputas políticas
A primeira convocação da Seleção em Copas foi marcada por uma confusão política entre a Liga Paulista e a CBD. Em 1930, foram organizados pequenos ensaios entre times cariocas e mineiros, no Rio, e em São Paulo, para chegar a uma lista final de 23 nomes. Maioria, com os principais jogadores da época, a Liga Paulista pedia a inclusão de um membro paulista na comissão técnica da CBD, mas o pedido foi negado.
Então, Elpídio de Paiva Azevedo, presidente da APEA (Liga Paulista), negou a ida dos jogadores paulistas para a Copa do Mundo, e a Seleção foi para o Uruguai contando apenas com jogadores do futebol carioca. A decisão fez com que Arthur Friedenreich, primeiro ídolo do futebol brasileiro, ficasse de fora da Copa. Na época, o embate entre as federações ganhou destaque nos jornais, mas só o embarque para Montevidéu se tornou capa nos periódicos.
Embarque da Seleção composta apenas por cariocas para a Copa de 1930
Acervo Biblioteca Nacional Digital / Diário Carioca
Em 1934, após a Liga de Futebol Carioca ser criada, ela se uniu à Liga Paulista, para fundar a Federação Brasileira de Futebol e instalar o profissionalismo no Brasil. No entanto, a CBD não aderiu ao movimento, e como era uma organização filiada à Fifa, realizou a convocação da Seleção. Carlito Rocha, presidente do Botafogo, único clube que se manteve aliado a CBD, fez a convocação e chamou nove jogadores que atuavam no Glorioso - principal equipe da época.
Capa do Jornal dos Sports destaca Leônidas da Silva rompendo com Vasco e assinando com CBD para defender Seleção
Acervo Biblioteca Nacional Digital, Jornal dos Sports
Uma saída para completar a lista foi “comprar” os jogadores que eram da Liga de Futebol Carioca e Paulista, que haviam se negado a liberar os jogadores. Nomes como Leônidas da Silva, que era do Vasco, foram comprados, romperam com seus clubes, e viajaram de navio para a Itália, representar o país na segunda Copa do Mundo da história. Foram 12 dias de viagem, onde os treinamentos eram realizados dentro do próprio convés.
Seleção de 1934 treinando no Navio Conte de Biancamano, rumo à Itália
Reprodução: Arquivo CBF
