É fato que Hugo falhou num lance crucial, algo que já ocorrera no clássico com o Botafogo. Sua posição será discutida, o que é parte do jogo. Mas é importante o Flamengo ter em mente, após o empate em Fortaleza, que o erro do goleiro foi o desfecho de longos minutos em que, longe de ter o controle, o time era passageiro do que acontecia no campo. Hugo é um evidente ponto de preocupação, seja pela questão técnica ou emocional. Mas o time rubro-negro, a esta altura da temporada, enfrenta uma questão maior de ordem coletiva. No segundo tempo do empate com o Ceará, perdera qualquer capacidade de imposição.
David Luiz tenta bloquear um chute no empate com o Ceará
Thiago Gadelha/SVM
A análise das causas não é simples numa temporada tão massacrante como a atual. Porque, entre outras coisas, o rubro-negro parecia sem forças para competir. E num Brasileirão em que a oscilação varre a tabela de alto a baixo em meio a uma insana sequência de partidas, é possível admitir que as pernas tenham pesado. A questão física não é descartável.
Mas também é preciso observar que os melhores momentos do Flamengo no jogo já haviam acontecido em meio à convivência entre virtudes e defeitos. Na primeira etapa, houve um pouco mais de controle, de produção ofensiva. O Flamengo foi o melhor time no Castelão até o intervalo. Ainda assim, criou poucas situações claras além dos gols marcados em jogadas de bola parada. Em tramas ofensivas, esteve longe de ser uma avalanche criativa. Mesmo diante de um Ceará que concedia espaços para transições rápidas.
Sem bola, o Flamengo dava sinais de uma inconsistência que persegue a equipe na temporada. O que é diferente da oscilação de concentração, algo que pode ter causado o primeiro gol do Ceará, quando o time demorou a reagir a uma cobrança rápida de falta no meio-campo. A linha defensiva se comporta mal em muitos momentos, seja pela forma de controlar a profundidade, seja pelos espaços cedidos quando corre para trás ou por se ver exposta num time nem sempre compactado. Por vezes, mesmo posicionado atrás, o Flamengo é pouco agressivo na marcação.
E como tudo nesta temporada é complexo por fatores físicos, Paulo Sousa argumentou que precisou fazer mexidas forçadas no setor, com as saídas de Isla e David Luiz. São questões a ponderar. Antes, no entanto, já tirara Ayrton Lucas, que tinha grande dificuldade de defender. Terminou o jogo com uma defesa muito diferente da que iniciou.
O segundo tempo parecia trazer um rubro-negro disposto a conservar a bola e limitar riscos. Mas após cerca de 15 minutos, a equipe foi perdendo controle e viu o jogo acontecer por mais tempo perto de sua área defensiva. Novamente, os volantes – no caso de hoje, Arão e João Gomes – se veem forçados a cobrir uma porção grande de campo, o que ajuda na percepção de uma equipe que vai perdendo força. Hugo já trabalhara antes de falhar na cobrança de falta de Nino Paraíba que determinou o empate.
O gol no fim é uma espécie de ducha fria, mas não a pior das notícias para o Flamengo, quando se pensa no restante do ano. A questão é que o jogo com o Botafogo, a mais recente partida em que o rubro-negro usou sua formação principal, dava sinais de alguma evolução. Mas o 2 a 2 de Fortaleza pareceu um passo atrás, uma trava. Além dos pontos não somados, restou uma expectativa frustrada de crescimento. E no louco 2022 do futebol brasileiro, o tempo não é amigo de ninguém.