Contratação mais badalada de 2024, volante começou bem, mas foi atrapalhado por lesões: "À medida que foram passando os meses, fui me sentindo mal com meu físico"; leia exclusiva De la Cruz faz balanço do primeiro ano no Fla: "Sinto que tenho que devolver ao clube"
De la Cruz chegou ao Flamengo em janeiro de 2024 com o peso de ser uma das contratações mais caras da história rubro-negra. O rendimento na temporada, no entanto, ficou longe de superar as expectativas do torcedor. E do próprio jogador. Desgastado mental e fisicamente, o meio-campista não conseguiu entregar e fazer jus ao status de principal reforço do ano. Sente-se em dívida com o clube.
Durante a pré-temporada nos Estados Unidos, o tímido uruguaio concedeu sua primeira entrevista exclusiva desde que chegou ao Flamengo. De la Cruz, ou Nico - como prefere ser chamado - dividiu 2024 em duas partes: antes e depois da Copa América. O segundo período foi marcado por lesões que o impediram de alcançar a temporada com mais jogos na carreira. Mais ambientado ao futebol brasileiro, ele começa 2025 preparado para corresponder e fazer valer o investimento do Flamengo.
- Eu conhecia Flamengo mais pelo externo e pelo que comentavam Giorgian (Arrascaeta) e Viña na seleção. Tinha desejo de conhecer o que é o mundo Flamengo internamente. Encontrei tudo o que pensava e imaginava, creio que nesse sentido para mim foi muito importante me deparar com um clube que sabia o que queria, o seu propósito - disse De la Cruz, que completou:
- Obviamente que estava tudo muito lindo, mas tinha que jogar, tinha que render, sabia o preço alto que haviam pagado por meu passe, então também é uma responsabilidade, um compromisso que eu sinto internamente que tenho que devolver ao clube a impressão que tinha criado.
???? Assista, a partir de 13h, à entrevista com De la Cruz no Globo Esporte.
Gol do Fantástico: De la Cruz, do Flamengo, marcou de falta contra o Atlético-GO
Lesões atrapalham planos
O uruguaio se adaptou rapidamente ao Flamengo e se tornou titular absoluto como um dos destaques do time no primeiro semestre. "Motorzinho" do técnico Tite, protagonizou boas atuações, mas a regularidade caiu no segundo semestre, principalmente pelos problemas físicos. De la Cruz foi para o DM três vezes a partir de julho: trauma no joelho direito e lesão no músculo posterior da coxa direita (2x). O uruguaio atuou em apenas 50% dos jogos do Fla após a Copa América e ficou fora das finais da Copa do Brasil.
- Comecei bem, me sentia bem, com o decorrer dos meses fui me adaptando ao que era o futebol brasileiro. Fui entendendo que o Carioca era um período de transição para o que vai ser a preparação para o ano. Conseguimos vencê-lo e foi importante, porque sempre digo que ganhar também se treina, eu não gosto de perder. Nem no truco, Arrasca pode confirmar (risos). Mas à medida que foram passando os meses, fui me sentindo um pouco mal com meu físico, começaram as dores, comecei a sofrer algumas pequenas lesões que foram-se agravando à medida que continuava o ano. Tentei mudar algumas coisas da minha vida cotidiana para voltar a me sentir pleno. Sempre vou querer estar dentro de campo.
- Às vezes a gente joga bem e às vezes não, mas nunca vou negociar o esforço. Às vezes estava 100%, às vezes estava a 70, a 80%, mas tentava jogar, porque isso é o que melhor sei fazer. A verdade é que me custou muito ao final do ano. Creio que depois da Copa América, que para mim foi um desgaste mental importante, aí meu nível começou a abaixar consideravelmente, eu sou o primeiro responsável e o primeiro que faz autocrítica disso. Depois, ao final do ano, quando chega Filipe, que começamos a falar e a entender um pouco do ele esperava de mim, obviamente que ali tudo voltou a se reconstruir. Creio que não terminei o ano da melhor maneira, mas já está se desenhando o que vai ser esse próximo ano, e nas férias foi mais ou menos o que tentei fazer.
De la Cruz concede primeira entrevista exclusiva no Flamengo
Emanuelle Ribeiro
Novo quadrado mágico?
Uma das expectativas do torcedor rubro-negro para 2024 era a reedição do quadrado mágico, que fez sucesso em 2019 com Arão, Gerson, Arrascaeta e Everton Ribeiro. Pulgar e De la Cruz se juntariam aos dois remanescentes para uma nova era no ano passado. Mas, por causa das lesões e convocações, os quatro pouco jogaram juntos na última temporada.
Pulgar, De la Cruz, Gerson e Arrascaeta fizeram apenas 16 jogos juntos - o Flamengo entrou 75 vezes em campo em 2024, contando os dois amistosos da pré-temporada.
- São apenas quatro jogadores dos muitos que podem jogar. O bom da equipe é que tem nomes renomados em todas as posições que podem jogador da mesma forma ou às vezes melhor, porque no futebol há momentos bons e ruins. O treinador é quem sabe o momento e a necessidade da partida para qual jogador tem que jogar. Tem jogadores de seleção, de renome, que ganharam coisas importantes no clube e que querem seguir ganhando, porque às vezes tem quem pensa: "Já ganhei", "já cumpri". Estou tentando constantemente me esforçar o máximo para voltar a ganhar, para voltar a ser competitivo.
- Acho que isso é a mentalidade que o treinador passa, a que nós jogadores também queremos dar aos torcedores, que a equipe conseguiu títulos ano passado e que esse ano vai querer ganhar mais, porque tem time e sobretudo tem a mentalidade ganhadora. É importante saber que todo jogador que o treinador decida que vai jogar, sei que vai fazer da melhor maneira por estar em uma equipe tão grande como o Flamengo. Todo jogador que está aqui é porque conquistou, ninguém está aqui porque ganhou um sorteio e sim pelo mérito próprio de ter trabalhado por muito tempo.
Bonde dos uruguaios
De la Cruz, Arrascaeta e Varela exibem foto de Viña em pré-temporada do Flamengo
Gilvan de Souza/CRF
Nico faz parte do bonde dos uruguaios no Flamengo, que ainda tem Varela, Viña e Arrascaeta. O camisa 10 é um dos melhores amigos do volante e o acompanhou durante a entrevista exclusiva. Giorgian, como De la Cruz o chama, foi um dos responsáveis pela decisão do camisa 18 de trocar o River Plate pelo Fla. É parceiro de truco e churrasco e também suporte emocional para a adaptação ao novo país.
- Eu vir para cá também tem um pouco a ver com isso, nos dias da seleção me mandaram mensagem: "Vai vir? Te esperamos". Creio que a insistência também do Giorgian me fez decidir vir. Obviamente que chegar a um país novo, com um idioma diferente, por mais que seja compreensível, no começo é complicado. Tenho duas filhas que tinham que se adaptar a tudo de novo. Foi uma decisão que tomei em conjunto com a minha família, é um grande desafio. A relação com os uruguaios também ajudou, bom saber que estaria rodeado em qualquer circunstância que poderia acontecer. Não aconteceu muitas coisas, só churrascos (risos), mas fomos ficando mais unidos. Estamos os quatro no mesmo condomínio, então vamos caminhando para a casa um do outro. No dia a dia nos ajudamos. Estamos longe das nossos famílias, então ter essa segunda família é importante.
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No Brasil, Nico deu lugar a De la Cruz
VÍDEO Nico ou De la Cruz? Uruguaio diz que estranhou forma como é chamado no Flamengo - 13272065
- As pessoas nunca me chamaram de De la Cruz, nem no Uruguai nem na Argentina, mas sabia que aqui ia acontecer isso porque ouvia "Arrasca, Arrasca", a gente não diz Arrasca também. Para nós é Giorgian. No Uruguai me chamavam de Bolita, porque chamavam meu pai de Bola e obviamente o filho tem que ser Bolita. Se estou caminhando na rua e me chamam de Nico, eu atendo. Se dizem De la Cruz eu tento abaixar a cabeça e sair (risos).
"Meu ídolo máximo"
De La Cruz e Sánchez no CT do River
Divulgação / Santos FC
De la Cruz não é o único jogador da família. O volante do Flamengo é irmão de Carlos Sánchez, que jogou cinco temporadas no futebol brasileiro. As coincidências vão além da escolha pela mesma profissão: os dois foram treinados por Marcelo Gallardo no River Plate, disputaram Copas do Mundo pelo Uruguai (Sánchez em 2018, e Nico em 2022) e escolheram o Brasil como destino. Sánchez passou pelo Santos de 2018 a 2022.
- Eu comecei a jogar futebol com 3, 4 anos e, quando comecei a compreender um pouco o que era o futebol, era olhando ele. Para mim é meu ídolo máximo, é a referência que sempre tive como jogador. Por mais que me espelhava em muitos jogadores com talento, meu ídolo pessoal, minha referência sempre foi meu irmão, era quem eu tinha mais perto. Na hora de vir para o Brasil, quando tive que tomar uma decisão se continuava no River ou saía, uma das coisas que eu coloquei na balança foi que meu irmão me disse que seria bom eu provar o futebol brasileiro.
- É um futebol muito competitivo, das melhores ligas, o campeonato é muito competitivo, o time para o qual eu viria era muito grande, que sempre mirava ganhar e era o que eu buscava. Tive muitas propostas financeiramente melhores, mas decidi vir aqui pelo que era o futebol, a competitividade, porque sou uma pessoa que gosta de competir. Decidi vir aqui para competir e ganhar, que é o que eu busco. Mais do que competir, venho para ganhar.
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Posição preferida
- No decorrer dos anos como jogador de futebol eu experimentei muitas posições. Comecei jogando como segundo atacante, extremo, joguei por dentro, joguei por fora, foi variando muito. Mas creio que nos últimos tempos me adaptei mais ao meio-campo de contenção. Na seleção jogo um pouco mais à frente, no clube um pouco mais atrás, mas tento me adaptar sobretudo pelo bem da equipe, pelo que o treinador pede. Tenho a liberdade de me expressar, de dizer "me sinto melhor aqui", "creio que me sinto melhor nessa posição", mas se o treinador vem e diz: "Nico, poder ser o goleiro?". Vamos nessa. O que tento é ajudar a equipe, jogar na posição que o treinador decidir, então se o treinador disser que eu tenho que jogar como goleiro obviamente vai saber que não é meu forte, mas vou tentar ajudar. E se acontecer de eu sair atrás, começar no banco, tentarei me esforçar ao máximo para mostrar a ele e ao companheiro que está jogando que também quero jogar.
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Arrascaeta, Suárez e De la Cruz no amistoso entre Flamengo e São Paulo
Igor Coelho/FC Series
Idioma e comunicação com Filipe Luís
- Agora que já estou há um ano no clube compreendo um pouco mais, se falam português "despacio", devagar como dizem, compreendo mais. Isso ajuda também a Gonzalo Plata e Alcaraz, jogadores que chegaram depois de mim, a explicação dos trabalhos, o auxiliar também fala espanhol, é muito importante a explicação do que pretende o treinador, do que pensam para a equipe. É muito legal, porque mistura às vezes o português com espanhol e todos olham para ele: "Fili está falando espanhol" (risos). Somos muitos os que falamos espanhol.
De la Cruz em treino do Flamengo nos EUA
Gilvan de Souza/CRF
Expectativas para 2025
- Quando cheguei ao clube disse que iria ganhar tudo que pudesse competir, e a mentalidade é a mesma. Nós competimos para ganhar, obviamente há partidas que jogamos melhor ou pior, mas o importante sempre é competir para ganhar. São seis títulos que a gente vai jogar para ganhar. Às vezes dá e às vezes não. À medida que for correndo o calendário, vai ser um ano muito grande, muito competitivo, vamos necessitar dos 30, 35 jogadores que tem no elenco. Vai haver o momento que vão precisar de todos, e o importante é estar todos preparados para dar o melhor no momento que o treinador decidir. O mesmo pensamento que tenho compartilho com todos meus companheiros de equipe, que todos competimos para ganhar, queremos todos jogar. Giorgian comentou comigo como foi o ano de 2019, que o clube bateu recordes, e eu disse a ele que pretendia isso aqui. Bater recordes, tentar conseguir títulos, ganhar os pontos. Vamos ver como vai ser o ano, mas o objetivo é esse. Tentaremos o máximo em todos os torneios.
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