anuncie

Com leveza e cumplicidade, Léo Batista tornou-se um ícone para muitas gerações

.

Por Virtual Rondônia em 20/01/2025 às 07:31:09
A voz de Léo Batista sempre trouxe a sensação de conforto e segurança. Dizia, sem dizer, que tudo ficaria bem, fosse descrevendo um gol ou comunicando a morte inesperada de um ídolo. Léo Batista: a vida e a obra de um dos pioneiros do esporte na TV no Brasil

A informação circulava de forma muito mais lenta nos anos oitenta. Se a gente quisesse acompanhar os gols do futebol, tinha hora marcada na televisão. Era preciso estar sentado no sofá naquele momento exato, senão seria necessário esperar até o dia seguinte para ver a goleada da Inter de Limeira sobre o XV de Piracicaba. Naquele momento mágico e urgente, emergia com a dicção perfeita e a energia indispensável a voz de Léo Batista. Essa mesma voz, marcante e desejada, se tornaria uma espécie de música de fundo de uma geração que começava a acompanhar o futebol com exagerado interesse -- que, sabemos, é a forma correta de se acompanhar o futebol.

Mas nem tudo eram flores ou gols perfeitamente descritos. Também houve traumas. No meu caso, a Zebrinha que acompanhava Léo Batista na apresentação dos resultados da loteria esportiva. Aquela animação me causava, ao mesmo tempo, sincero fascínio e absoluto terror -- havia algo muito perturbador na forma como a Zebrinha piscava, ao menos para uma criança de cinco anos. Geralmente, acompanhava tudo aquilo amontoado embaixo da mesa, espiando entre as pernas das cadeiras. Mesmo paralisado pelo pavor, não perdia uma aparição.

Muitos anos depois, despertei de um atribulado sono adolescente -- quando há muito já era dia, pois assim fazem os adolescentes -- para ouvir Léo Batista anunciar a morte de Ayrton Senna. Ontem, com a morte de Léo Batista, aos 92 anos, me lembrei da exata sensação quando ouvi aquela informação estarrecedora e improvável, pois Senna havia nascido para ser indestrutível, e me ocorreu que não havia melhor porta-voz para um dos maiores traumas do esporte brasileiro. Era preciso que fosse Léo Batista, a voz que sempre trouxe a sensação de conforto e segurança. Que dizia, sem dizer, que tudo ficaria bem, fosse descrevendo um gol ou comunicando a morte inesperada de um ídolo.

Léo Batista noticia morte de Ayrton Senna em 1994

Reprodução

Léo Batista fez isso durante muito tempo. Com setenta anos de profissão, foi o primeiro a comunicar o suicídio de Getúlio Vargas, em 1954, pela Rádio Globo. Essa é uma informação que sempre me soa assombrosa e mostra a sorte que tivemos em ser contemporâneos de uma entidade do jornalismo brasileiro. Mas uma entidade sem pompas ou solenidade, que era a própria representação da proximidade e da leveza -- gracioso sem jamais ser apelativo, característica destinada a poucos. O menino que sonhava em ser locutor imaginando narrar jogos em uma lata de tomate jamais perdeu aquele espírito -- durante toda a vida, continuou nos falando diretamente daquele microfone improvisado, como se fôssemos companheiros de brincadeira.

Poucas coisas são tão bonitas quanto o interesse de uma criança que começa a acompanhar futebol. Nesse momento, todos os componentes lúdicos estão presentes. As cores, as bandeiras, os estádios, os escudos, o nosso clube, que obviamente é o maior do mundo -- tudo faz parte de um universo que vamos explorar como destemidos mochileiros das arquibancadas. Aos poucos, e isso acontece com tudo, o encantamento se torna um pouco nebuloso. Nem tudo é magia, aprendemos quando nosso ídolo é vendido para algum clube da segunda divisão espanhola. O que a voz de Léo Batista sempre nos trouxe, para as crianças de quarenta e tantos anos, a voz que era não apenas marcante, mas também cúmplice, era a lembrança dessa inocência -- na verdade, a certeza de que essa inocência ainda é parte de nós.

Morre Léo Batista, a voz marcante da TV brasileira, aos 92 anos

Fonte: Ge

Comunicar erro
LANCHE DA JAPA

Comentários

anuncie aqui