anuncie

Da crise ao bilhão: como o Palmeiras se transformou no maior formador de joias do Brasil

.

Por Virtual Rondônia em 15/10/2024 às 11:14:11
Verdão investe R$ 30 milhões por ano na base, reformula setor de captação e vê clube atrair atletas, gerando economia na folha salarial e lucro até com jovens que seriam dispensados Conheça o CT da base do Palmeiras, maior formador de joias milionárias no Brasil

É difícil acompanhar o ritmo das mensagens no celular.

Enquanto coordena as categorias de base do Palmeiras, João Paulo Sampaio recebe de 20 a 30 vídeos por dia no WhatsApp, de pais, amigos, empresários, mostrando gols e melhores momentos de meninos que querem estar lá: na Academia de Futebol.

É o berço de Endrick, Luis Guilherme, Estêvão e que se tornou, em menos de uma década, o maior formador de joias em negociações milionárias do Brasil.

– Gastamos R$ 260 milhões e vendemos R$ 1,8 bilhão desde 2015 na base. Com Estêvão, foram R$ 350 milhões.

Palmeiras x Botafogo-SP, Estêvão e Endrick

Marcos Ribolli

+ Siga o ge Palmeiras no WhatsApp

A história, contudo, nem sempre foi assim.

Entre 2013 e 2015, o clube vinha do segundo rebaixamento no Brasileiro, buscava se estruturar financeiramente e fez mais de 70 contratações ao futebol profissional.

Na base, estava longe de ter um histórico de revelação forte. E mesmo João Paulo Sampaio, que trabalhava no Vitória na época, admite essa realidade.

– Quando eu pegava o Palmeiras nas competições, para mim era menos um na chave. Nunca foi um dos principais formadores do país.

Palmeiras investe na base e os crias recheiam o caixa do time

Naquele período, sob a gestão do então presidente Paulo Nobre, o clube deu um passo importante para a profissionalização e trouxe nomes dedicados a cada área do futebol, com Alexandre Mattos e Cícero Souza no principal, e João Paulo Sampaio na base.

Este último - o único dos três ainda no clube -, com um objetivo claro: transformar o Palmeiras em referência na formação de atletas.

Mas como isso seria possível?

João Paulo Sampaio e Leila Pereira, na Academia do Palmeiras

Cesar Greco / Palmeiras

As mudanças começaram na estrutura. O clube era muito grande na área administrativa e tinha mais assistentes sociais e psicólogos do que profissionais ligados ao campo, por exemplo. É o que explica o coordenador. Eram quatro treinadores e só dois captadores de novos atletas.

Aos poucos, eles redistribuíram os departamentos e triplicaram esses números, contando agora com 12 técnicos, no futsal e no campo, além de oito captadores distribuídos em quatro das cinco regiões do Brasil.

Três em São Paulo, sendo dois na capital e um no interior, em Pirassununga.

Mais dois no Sudeste, no Rio de Janeiro e Minas Gerais.

Dois no Nordeste, no Recife e em Salvador.

E um no Centro-Oeste, em Goiânia.

– Temos captadores espalhados, mas no Palmeiras todo mundo faz captação, assiste a jogos. Isso é o mantra do clube. E a gente leva muitos times para o nosso CT. Falo que sou um scout na coordenação. Recebo uma média de 20 a 30 vídeos por dia e uma parte passo para alguns, outros eu vou vendo. Foi o caso de Endrick – lembra João Paulo.

Confira lances de Endrick com apenas 10 anos na Go Cup 2016 que encantaram o Palmeiras

Além da estrutura, o Palmeiras precisou mudar a mentalidade. Afinal, de que adiantaria encontrar os melhores jovens jogadores do Brasil e não conseguir mantê-los no clube?

Em uma época de Santos e São Paulo com as maiores revelações, e o alojamento de Cotia sendo um forte poder de convencimento, o Verdão escolheu humanizar o processo. É o que conta o técnico Eduardo Alemão, que esteve no clube por 10 anos e fez parte dessa estruturação.

– Trazer um jogador é um trabalho de convencimento. Você precisa provar que ele está no melhor lugar. Tem que mexer com ele, com a família. Acho que o mais importante foi humanizar o processo, e aí as coisas começaram a acontecer. Era de às vezes ir até o local para a família não ter que vir ao clube, ir conversar no fim de semana, dias em que de repente outros não iriam – diz Alemão.

Endrick autografa chuteiras de crianças no CT da base do Palmeiras

Cesar Greco / Palmeiras

E aí as mudanças começaram a dar resultado.

Em 2016, o Palmeiras vendeu Gabriel Jesus ao Manchester City por 32,75 milhões de euros. Em 2017, passou a divulgar atletas ao futebol internacional. Em 2019, fez vendas ao exterior antes mesmo de estreias no profissional, como Luan Cândido ao RB Leipzig.

E em 2020 deu à base um papel fundamental no time de Vanderlei Luxemburgo, subindo sete deles, como Patrick de Paula, Gabriel Menino e Gabriel Veron. Foi a virada de chave.

– Começou com um investimento de R$ 17 milhões e agora gastamos em torno de R$ 30 milhões por ano, com funcionários, salários de jogadores, viagens internacionais. Esse é o orçamento da base.

Gabriel Jesus faz foto com Crias da Academia em visita ao CT da base do Palmeiras

Palmeiras

Proibido treinadores. Somente formadores

Parte desse investimento está evidente nas estruturas do clube. Entre as novas instalações da Academia de Futebol 2 - o CT da base -, um campinho de terra e duas placas no alambrado chamam atenção. "Proibido treinadores. Somente formadores", diz uma. "Espaço de liberdade, improviso e autonomia", completa a outra.

"Proibido treinadores. Somente formadores", diz placa na entrada do campo de terra no CT da base do Palmeiras

Cesar Palmeiras / Palmeiras

Elas ficaram famosas pelas negociações milionárias do clube e são importantes para entender a metodologia de ensino adotada na base: a de autonomia e liberdade.

Essas placas sinalizam o campo criado para replicar as raízes do futebol brasileiro e utilizado uma vez na semana, por meninos dos 10 aos 15 anos.

– Quando é jogo, eles escolhem o time, falam quem vai sair, quem vai entrar e assim eles têm a vivência do treinador. A gente deixa eles se virarem.

Garcia, Vanderlan, Fabinho e Jhon Jhon no campinho de terra do CT da base do Palmeiras

Cesar Greco / Palmeiras

Antes da inauguração do espaço no CT, o Palmeiras implementava essa metodologia em campinhos nas favelas de São Paulo. Adota a mesma dinâmica, aliás, na rotina desses atletas, para desenvolver o senso de autonomia, responsabilidade, e as viagens internacionais são exemplo disso.

– Meninos de 11 anos vão ao Japão, tomam a mala, despacham. A gente quer que eles estejam prontos para o mundo. Na Holanda não tem almoço, lanche é meio-dia, vamos comprar feijão ou vai comer o que tem. A gente se adapta ao lugar, não o lugar à gente – conta o coordenador, que fechou 10 torneios fora do Brasil no ano passado.

Atletas do Sub-11 do Palmeiras conquistaram o tetra da Bellmare Internacional Cup, no Japão

Divulgação / Palmeiras

E qual o impacto disso tudo? Verdão tem direitos de 114 jogadores fora do clube

Ainda que a venda de joias como Endrick, Estêvão e Luis Guilherme domine as atenções, os ganhos do Palmeiras com sua revolução na base vão muito além: o clube calcula uma economia milionária na folha salarial do futebol e lucra até mesmo com atletas que seriam dispensados na formação.

Durante a pandemia, por exemplo, estima ter economizado em torno de R$ 5 milhões mensais na folha do time.

– Quando digo que tem 10 jogadores da base no profissional, eles ganham em média 13 vezes menos do que um jogador contratado da mesma posição. A folha mensal é menor e assim podemos trazer um Felipe Anderson.

Felipe Anderson é apresentado no gramado do Allianz Parque antes de jogo do Palmeiras

Há lucro também com direitos de formação de atletas que não teriam espaço e terminam negociados prospectando ganhos futuros. Hoje, o Palmeiras guarda percentuais de 114 jogadores que estão em outros clubes.

– Esses jogadores seriam dispensados, mas hoje muitos querem, times da Série A e B, time europeu. A gente sai empregando eles. Nossos atletas normalmente são mais jovens porque adiantamos o processo sabendo que às vezes não vão jogar no Palmeiras e vão em outro clube.

Luis Guilherme, Endrick, Vanderlan e outras joias da base ao lado de João Paulo Sampaio, coordenador da base do Palmeiras

Cesar Greco / Palmeiras

Alguns casos:

O volante Breno, vendido pelo América-MG ao Shabab Al Ahli em negócio em torno de R$ 20 milhões, com 40% dos direitos econômicos do Palmeiras.

Meia Daniel Melo, vendido do Cruzeiro ao Vitória por 500 mil dólares.

Yan foi vendido inicialmente ao Moreirense por cerca de 300 mil dólares e depois negociado pelo clube português ao Yokohama por 3 milhões de euros. E o Palmeiras tinha direito a 50% dos valores.

Yan Matheus e um início arrasador como titular no Yokohama F-Marinos

J.League

Agora, com as mudanças de estrutura, metodologia e mais até do que pelo investimento na captação, o projeto do Palmeiras também atrai atletas. Ganhou peso em disputas, inclusive, por joias badaladas de rivais, tirando Kevyn Wallace do Flamengo, por exemplo, ainda no Sub-11.

Despediu-se de Endrick a caminho do Real Madrid, Luis Guilherme ao West Ham, Artur para a Rússia, Kevin na Ucrânia, e no próximo ano Estêvão para o Chelsea, na Inglaterra. O que pensam quando os veem passando pela porta da Academia?

– Sinceramente? – questiona o coordenador da base.

– Eu só me cobro para fazer mais. Claro que a gente fica orgulhoso, a marca vai ficar para sempre, mas não revelo ninguém. Quem revela é o clube. Sou uma peça da engrenagem. Estou olhando, brigando pelo próximo.

Vanderlan, Luis Guilherme, Endrick e Estêvão visitam o CT da base do Palmeiras

Cesar Greco / Palmeiras

+ Veja mais notícias do Palmeiras

Mais Lidas

???? Ouça o podcast ge Palmeiras????

+ Assista a tudo do Palmeiras na Globo, sportv e ge

Fonte: Ge

Comunicar erro
LANCHE DA JAPA

Comentários

anuncie aqui