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Ex-joia do Palmeiras vira técnico na última divisão e critica altos salários na base: "Ganhava R$ 200"

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Por Virtual Rondônia em 23/07/2024 às 11:21:53
Diego Souza, treinador do Tupã, abre baú de recordações sobre carreira e episódios marcantes no Verdão, como protesto de torcedores na porta de casa: "Temi pela vida" Ex-joia do Palmeiras critica altos salários e diz que ganhava R$ 200 por mês

"Hoje em dia, os atletas têm salários absurdos com 17, 18 anos. Na minha época, ganhava R$ 200 por mês jogando no Palmeiras, então não dá pra comparar".

Em 2003, segundo Diego Souza, esse era o salário de um dos jogadores considerados joia da base do clube. No mesmo ano, o promissor meio-campista seria vice-campeão da Copinha e um dos destaques do Verdão na campanha do título da Série B do Brasileiro.

Aos 40 anos, hoje ele é técnico do Tupã na última divisão do futebol paulista, mas construiu toda a sua carreira até o futebol profissional no Palmeiras.

Na época, a base treinava na Academia de Futebol, hoje local exclusivo para o time principal, e tinha alojamento improvisado em uma casa próxima ao CT. A realidade era muito diferente da atual.

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Apesar da estrutura muito diferente da atual – o Verdão recém-inaugurou um centro de treinamento moderno que abriga as categorias inferiores de futebol –, o Palmeiras revelou bons nomes naquele ano. A safra de Diego Souza teve também Vagner Love, Edmilson, Alceu, entre outros.

– Não tem comparação com o trabalho que é feito hoje. O pessoal não queria ir para a base do Palmeiras,não era tão organizada como é hoje. A gente tinha um Campeonato Paulista para disputar, tinha essa Copa São Paulo... se não me engano, eram três campeonatos só. Não tinha essa estrutura que tem hoje, lembro que não morava no Palmeiras porque sempre fui de São Paulo, mas era uma casa que tinha ali atrás do Parque Antarctica que o pessoal morava. Nós treinávamos em vários campos.

– Quando a gente ia treinar, tinha outro campo na Marginal, às vezes treinava na Academia quando o profissional não estava, então a base daquela época do Palmeiras era assim, não tinha comparação, não tem nenhuma comparação com a de hoje. Mesmo assim, nós estávamos vestindo a camisa de um dos melhores clubes do Brasil, do mundo, então a gente tinha que mostrar a cada dia por que estava no Palmeiras, porque a rotatividade de meninos era alta. Se tinha um grupo com 30, tinha mais 30 que queria o seu lugar – conta.

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Diego Souza, Vagner Love e Edmilson pelo Palmeiras em 2003

Gazeta Press

Nenhum dos jogadores citados acima, com exceção de Vagner Love, na época negociado pelo Palmeiras com o CSKA, da Rússia, por cerca de R$ 15 milhões, renderam muito dinheiro ao clube, diferentemente das negociações recentes envolvendo jovens formados no clube.

Nos últimos meses, por exemplo, o Verdão faturou cerca de R$ 700 milhões com a venda de três jogadores formados na base do clube: Endrick (Real Madrid); Estêvão (Chelsea) e Luís Guilherme (West Ham). O número salta para quase R$ 1 bilhão na soma de outros atletas.

Quase duas décadas atrás, o cenário era muito diferente.

– Nós pegamos o Palmeiras numa época de transição de patrocínios, então lembro que quando subi tinha o Zinho, Arce, era um timaço e ainda assim caíram de divisão. Tinha jogadores de Copa do Mundo, então a base não era tratada naquela época como é hoje. Hoje em dia mudou muito.

Diego Souza, ex-jogador do Palmeiras e atualmente técnico do Tupã

Samuel Felipe

– Hoje em dia os atletas têm salários absurdos, com 17, 18 anos. Na minha época, com 17, 18 anos, ganhava R$ 200 por mês jogando no Palmeiras, então não dá pra comparar. Eu pegava 20 notas, aquelas notas de R$ 10, ficava grandão com esse dinheiro. Meu Deus do céu, que momento era ali no Parque Antarctica que eu ia receber esses R$ 10 reais [20 notas]. Mudou minha vida, não tenho dúvida. Se você tem um atleta que ganha R$ 100 mil por mês e faz uns cinco anos de contrato, como esse moleque vai jogar bola? O moleque vai pensar o quê... como? É muito desproporcional o que o sistema hoje faz – conta.

Atletas de 15, 16, 17 anos ganham um salário absurdo e a maioria, uns 90%, se eu não estiver exagerando, não chega a jogar profissional.

Mais sobre Diego Souza

Nome: Diego de Souza Gama Silva

Idade: 40 anos

Profissão: técnico de futebol (ex-jogador profissional)

Carreira como jogador: Palmeiras, Joinville, Vissel Kobe-JAP, Kashiwa Reysol, Verdy Tokyo, Kyoto Sanga, Portuguesa, Lobos-MEX, Montedio Yamagatq, Volta Redonda, Vitória da Conquista e Taboão da Serra.

Carreira como técnico: Taboão da Serra, Nacional-SP e Tupã.

Vagner Love, Diego Souza, Edmilson e Alceu foram revelados pelo Palmeiras e destaques da Série B de 2003

Editoria de Arte

A passagem de Diego Souza pelo Palmeiras começou aos 14 anos de idade até a promoção ao profissional. Foram 123 jogos, 17 gols e uma trajetória de altos e baixos, reflexo de um time que havia caído pela primeira vez para a Série B e que lutava contra problemas financeiros e de gestão.

Diego Souza iniciou o ano de 2003 sendo vice-campeão da Copa São Paulo de Futebol Jr. e terminou com o título da Série B do Campeonato Brasileiro, sendo um dos destaques do time profissional. Uma ascensão meteórica, mas forçada pelo meu momento vivido pelo clube naquela época.

– Talvez se o Palmeiras tivesse bem ali, com dinheiro, os jogadores não teriam subido (ao profissional). Então foi um momento especial para nós, não para o clube, que estava vindo de uma queda de 2002 no Campeonato Brasileiro, tentando subir em 2003 e graças àquela Copinha que nós fizemos, chegamos na final, o Jair Picerni subiu a base e acabou dando liga no Campeonato Brasileiro.

– Os dois atacantes, o meia e o volante eram titulares da Copa São Paulo, que eram o Alceu, o Diego Souza, o Edmilson e o Vagner Love. Fora outros que subiram, outros que foram para outros clubes. Aquela copinha revelou muita gente mesmo, não só para o Palmeiras, mas para o futebol aí mundo afora – relembra Diego.

Em 2003, Palmeiras vence o Sport e é campeão da Série B do Brasileirão

"Temi pela minha vida"

O momento mais crítico da trajetória no Palmeiras aconteceu na madrugada de 21 de maio de 2004. Diego Souza voltava para a casa de carro após o empate com o Santo André por 4 a 4 e a eliminação nas quartas de final da Copa do Brasil.

Diego Souza diz que temeu pela vida em protesto de torcedores do Palmeiras

O Verdão vencia o jogo por 4 a 2 quando Diego Souza foi substituído por Elson. Na época, Jair Picerni era o técnico do Palmeiras, que tinha Marcos, Baiano, Muñoz, Vagner Love, entre outros. A eliminação no Palestra Itália irritou torcedores, que foram até a porta da casa do meia cobrar explicações.

Temi pela minha vida. Temi muito pela minha vida. Eu saio do Palestra Itália em uma eliminação de Copa do Brasil para o Santo André, chego em casa e simplesmente no portão da minha casa tinha muitos torcedores

– Morava em casa, tinha que entrar com o carro na garagem e não tinha jeito. Pense: "Meu Deus do céu, o que esses caras podem fazer?", mas tive o discernimento mesmo com essa baixa idade, 20 anos, de falar se eles iam culpar só um jogador. Alguma coisa está errada, se eliminou, eliminou o Palmeiras todo. Até falei para eles que quando o jogo estava 4 a 2, o Jair Picerni me tirou do jogo para segurar, os dois que tomamos eu não estava mais em campo. Vocês sabem onde eu moro, mas acham certo isso? Se querem cobrar vão na porta do CT cobrar todos. Vão cobrar um jogador?

– Naquela conversa estava mais tranquilo, depois daquilo ali o pessoal não ia mais em casa, viram que não tinha um bobão. Mas isso me amadureceu, me deixou mais ligado nos jogos e sabia que tinha que jogar bem todos os jogos ou pessoal viria em casa. É assim a nossa cultura, tinha que aceitar e não tinha condições de morar em um apartamento, de me mudar e tinha que conviver ali. Fiquei naquela casa até 2005, me amadureceu bastante – relembra Diego Souza.

Não tinha como fugir. Meu pai, minha mãe e minha irmã estavam lá dentro, tive que enfrentar e perguntar o que tinha acontecido com o risco de tomar umas porradas, mas fazer o quê? Ia tomar umas porradas ali, mas no outro dia poderia ser a minha vez. Foi assim que consegui lidar.

Vagner Love e Diego Souza em treino do Palmeiras em 2003

Reprodução/Instagram

Diego Souza ficou por quase mais um ano no Palmeiras depois do incidente até deixar o clube rumo ao futebol japonês. Foram seis anos atuando por lá até retornar ao Brasil para uma rápida passagem pela Portuguesa, quando acabou sendo rebaixado no Campeonato Paulista.

O meia deixou o país novamente para uma breve passagem pelo México antes de retornar ao Japão. Ao todo, foram dez anos atuando na Ásia.

Treta com Estevam Soares

Outro episódio marcante da carreira de Diego Souza no Palmeiras foi uma discussão acalorada com o técnico Estevam Soares. Em 2005, em partida contra o União São João, em Araras, pelo Campeonato Paulista, o meia do Verdão ficou apenas sete minutos em campo após entrar no segundo tempo.

Diego Souza lembra treta com Estevam Soares no Palmeiras em 2005

Ao ser substituído pouco tempo depois de entrar em campo, Diego Souza não escondeu a irritação e xingou o então treinador do Palmeiras, que pediu o seu afastamento do elenco principal antes de ser demitido poucos dias depois pelos maus resultados no clube.

– O Estevam foi um momento, a única coisa que fiz na minha carreira que me arrependi de ter explodido. Mas já acertamos, conversei com ele. Hoje o pessoal trabalha o mental, né? Você acha que naquela época o Palmeiras, sendo o Palmeiras, tinha psicologia? Tinha psicólogo? Não tinha. Olha para você ver como o futebol está hoje. Uma coisa que ali naquele episódio com o Estevam eu aprendi, porque se o Estevam naquele jogo tivesse me dado a mão, eu não tinha explodido. Foi um baita de um aprendizado que levo hoje pra minha carreira, vou levar para sempre na minha carreira de técnico.

Namoro com Simony

A fama como jogador do Palmeiras fez Diego Souza entrar nos holofotes do noticiário de fofoca. Em 2005, ele teve um breve relacionamento com a cantora Simony, famosa por ter sido uma das integrantes do grupo Balão Mágico. Apesar de ter sido breve, Diego tem uma filha com a artista.

Simony, cantora e torcedora do Corinthians

Reprodução/Instagram

O técnico do Tupã brinca ao imaginar como teria sido o relacionamento nos dias atuais, com as redes sociais e as notícias sobre famosos ganhando cada vez mais espaço na mídia.

– Eu tenho uma filha com ela, tem uma filha que vai fazer 18 anos agora em agosto, a Pietra. Naquela época, quando eu conheci ela, não era essa loucura que é hoje não, não tinha tanta informação assim. Dava pra fazer as coisas legais, dava para dar os seus pulos aí, ninguém tinha celular de câmera. Eu era famoso também, eu estava no Palmeiras, tinha jogado Libertadores, tinha sido campeão brasileiro.

– Conheci a Simony e tivemos um relacionamento curto, porque já fui embora para o Japão. A Pietra nasceu em 2006, estava no Japão ainda e fui conhecer a Pietra quando ela tinha quatro meses. Foi uma coisa rápida, momentânea e acabou não dando certo de a gente ficar juntos pelo meu trabalho, por eu ter ido embora – conta.

Vida de técnico

Diego Souza atualmente comanda o Tupã na quinta e última divisão do Campeonato Paulista. É o terceiro clube da breve carreira do treinador, que passou por Taboão da Serra e Nacional-SP na nova função.

Ge acompanha presidente do Tupã fazendo compras para o clube e pagando do próprio bolso

A carreira como treinador começou por acaso.

Ainda jogador do Taboão da Serra, Diego Souza foi intimado pelo presidente da equipe a assumir o cargo após a saída do treinador na época. O convite foi aceito e uma descoberta abreviou o fim da carreira de Diego, que passou a se dedicar e fazer cursos para se aprimorar na profissão de técnico.

– Eu não me programei muito para essa carreira de treinador. Estava jogando no CATS, no Taboão da Serra, jogando uma Série A3, aí terminou esse campeonato e para não ficar parado fui para a comissão do clube que ia disputar a Copa São Paulo. Fiquei lá com o treinador na época, que teve uma proposta do São Bernardo e foi. Aí o presidente da época não tinha quem contratar e me falou: "Diego, vai você". Eu falei "como assim, estou jogando, não tenho o que preparar, não sei montar um treino, estou aqui só para ajudar". E aí ele falou que não ia contratar o treinador, que me via com o perfil de treinador para a Copinha. E aí eu assumi a Copinha de 2019, nós passamos de fase, perdemos o Audax nos pênaltis e aí eu gostei.

– Será que é isso que eu vou fazer pós carreira? Voltei a jogar, joguei o Paulista de 2019, tive algumas propostas de clubes de A2, da própria Copa Paulista, mas falei não, não vou, não, vou começar a estudar e vou entrar com tudo nessa carreira de treinador. E foi assim que eu comecei a minha carreira de treinador. Fiz a licença B na época e em 2022, concluí a licença A, tenho as duas licenças da CBF.

Diego Souza, ex-jogador do Palmeiras e técnico do Tupã

Samuel Felipe

O início da carreira como treinador lembra a de muitos jogadores nas categorias de base pelo Brasil. Diego Souza mora debaixo da arquibancada do estádio Alonso Carvalho Braga, em Tupã, compartilhando da rotina de vida com os jogadores além dos treinos.

– Está sendo uma escola bacana para quando pintar uma oportunidade de um time maior, de um time de melhor estrutura, estar preparado e fazer o meu melhor. As minhas refeições aqui no clube são junto com eles, as quatro refeições que nós temos aqui são junto com eles, eles moram aqui também, então a gente está praticamente 24 horas conectado em tudo, falando de futebol, falando da vida.

– A gente senta ali pra almoçar e sempre tem conversa, qualquer coisa vou ali no quarto deles e falo, vamos bater um papo, vamos dar uma acertada aqui, então essa junção de técnico e treinador, no mesmo ambiente de trabalho, tá bacana. O grupo tá acolhendo legal, eles estão entendendo, então é uma volta para o futebol raiz, o treinador morando embaixo da arquibancada e estando sempre perto dos atletas pra facilitar o nosso trabalho dentro de campo – relata.

Estádio Alonso Carvalho Braga, do Tupã: Diego Souza mora no local

Emilio Botta

O objetivo de Diego Souza é conseguir o acesso com o Tupã para a Série A4 do Campeonato Paulista. Dono da segunda melhor campanha da primeira fase, o time disputa uma vaga nas quartas de final do estadual. Até aqui, foram 14 jogos, com nove vitórias, dois empates e três derrotas.

O aproveitamento é de 66%.

Fonte: Ge

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