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Torcida única e proibição de bandeiras: episódios violentos servem como desculpa para acabar com a festa nos estádios

Por Virtual Rondônia em 15/06/2022 às 16:09:16
Recentes conflitos envolvendo torcidas do Paraná motivaram ações que pouco devem acrescentar para tornar os estádios ambientes mais seguros. No domingo, Atletiba válido pelo Brasileiro terá torcida única. Na última semana, os clubes paranaenses viram suas torcidas envolvidas em episódios violentos. Na derrota do Coritiba diante do Palmeiras, uma confusão entre torcedores locais e visitantes fora do estádio chegou a paralisar a partida devido ao uso de gás de pimenta pela policia militar -- um torcedor morreu, mas não teria sido em decorrência de agressões. Dias antes, quando o Athletico-PR visitou o Juventude, também houve confronto entre as duas torcidas nas imediações do estádio da equipe gaúcha e uma pessoa acabou gravemente ferida.

Como se fosse uma relação básica de causa e consequência, nesta quarta-feira o Athletico-PR divulgou nota em que estão proibidos quaisquer materiais de torcida organizada na Arena, inclusive de equipes rivais -- faixas, bandeiras e instrumentos. Também a CBF acatou um pedido de ambos os clubes para que os clássicos válidos pelo Brasileiro aconteçam com a presença apenas da torcida local -- o primeiro será no próximo domingo, no Couto Pereira. Novamente, episódios violentos servem como a justificativa perfeita para que os estádios assumam um caráter cada vez mais elitista e o futebol se distancie da índole popular que o converteu em evento de multidões.

Após a confusão no entorno do Couto Pereira, as principais organizadas de Palmeiras e Coritiba, torcidas envolvidas no conflito, publicaram notas em que condenavam o planejamento de segurança para a chegada dos visitantes ao estádio -- os palmeirenses teriam sido levados até uma área de ampla circulação da torcida coxa-branca. Até agora, não sabemos o que previa o planejamento da polícia militar para levar os visitantes em segurança até o seu setor. Episódios como esse têm sido frequentes no Paraná, e nas redes sociais tanto a torcida do Athletico como os seguidores do Coritiba reclamam do frágil esquema de segurança oferecido pela polícia nas imediações dos estádios. Em sua nota, a Império Alviverde, principal organizada do Coritiba, diz que "as falhas na atuação da PM-PR têm sido corriqueiras e que chega a parecer deliberada".

A proibição do uso de faixas, instrumentos e bandeiras pelas torcidas organizadas parece apenas uma medida revanchista, muitas vezes motivada não pela preocupação com um ambiente mais seguro, mas por interesses internos dos próprios clubes, enquanto implantação da "torcida única", medida que desdenha de qualquer propensão ao diálogo, sequer se justifica em termos práticos, visto que episódios de conflito continuam acontecendo muitas vezes bastante longe dos estádios. Permitir apenas torcedores mandantes nos estádios não acabou e não vai acabar com a violência no futebol, como já explicou o sociólogo Mauricio Murad.

Como evento de caráter massivo, o futebol não poderia estar apartado da violência que se presencia na sociedade -- e esse reflexo não acontece apenas no Brasil. Além dos muitos casos que podem indicar falta de preparo ou mesmo negligência na estratégia de segurança, as medidas adotadas como resposta são sempre movidas por uma intenção absolutamente punitivista, sem qualquer caráter educativo que busque a conscientização. Dessa forma, abrem imensa margem para se julgar que eventuais episódios de violência acabam servindo apenas como estopim para uma intenção anterior: criminalizar torcidas, tornar as arquibancadas assépticas e transformar o estádio em um ambiente cada vez menos propício às manifestações genuinamente populares.

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Fonte: Ge

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