Bilionário inglês é acusado de querer usar o futebol do clube para amenizar a imagem poluidora do conglomerado INEOS, da indústria petroquímica, e tirar o foco de problemas ambientais Nova voz suprema do futebol do Manchester United, Sir Jim Ratcliffe esteve em Old Trafford na terça-feira para reuniões sobre a transição do comando do departamento. O homem mais rico do Reino Unido é o fundador, presidente e maior acionista do grupo INEOS, potência global da indústria petroquímica. Seu conglomerado é acusado de usar o esporte — e o futebol com ainda mais força agora — para apagar a imagem de poluidor do planeta.
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Ratcliffe vai comandar o futebol do Manchester United; empresa dele é acusada de sportswashing
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James Arthur Ratcliffe aproveitou o Natal para encaminhar um "presente" para si: a compra de 25% das ações do seu clube de coração. Investimento de 1,25 bilhão de libras — R$ 7,7 bilhões —, a ser feito através de outra empresa sua, a Trawlers Limited.
Ele não virou o acionista majoritário, isso ainda é com a família Glazer. Porém, Ratcliffe vai assumir o controle do futebol do United (a aquisição não foi selada ainda), incluindo as equipes femininas e as categorias de base. A INEOS também ocupará dois assentos na diretoria da empresa do Manchester United com ações na bola e no clube geral.
— Nossa ambição é clara: queremos ver o Manchester United de volta onde merece, no mais alto topo do futebol inglês, europeu e mundial — declarou o bilionário.
Mas quem é Jim Ratcliffe? Por que há críticas do envolvimento da INEOS com o Manchester United? E o que já está em andamento no futebol do clube? O ge explica isso tudo a seguir.
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Quem é Jim Ratcliffe?
Com fortuna estimada em mais de R$ 109 bilhões pela Forbes, Jim nasceu na pequena cidade de Failsworth, parte da região de Manchester, em 18 de outubro de 1952. Ele estudou engenharia química na Universidade de Birmingham e fez pós-graduação na Escola de Negócios de Londres.
Após trabalhar na Esso, gigante do petróleo, e em outras companhias, ele fundou a INEOS em 1998. O forte do grupo é a indústria química, de petróleo e gás, mas hoje ele alcança 36 tipos diferentes de negócio, em 29 países pelo mundo. A INEOS é considerada a quarta maior companhia química do planeta, com receitas anuais de 65 bilhões de dólares (R$ 319 bilhões) e mais de 26 mil funcionários.
— A experiência do Ratcliffe mostra que ele tem a mentalidade de negócios para melhorar o clube e colocá-lo na direção pretendida. O Manchester United é um clube gigante, comparado às outras iniciativas esportivas de Ratcliffe. Ainda vamos ver se ele conseguirá trazer sucesso. Tudo vai depender disso, inclusive a questões sobre sustentabilidade — comentou o professor Naaguesh Appadu, da Universidade de Londres.
Quais as acusações contra a INEOS?
O conglomerado de James Ratcliffe depende do uso de combustíveis fósseis, cuja queima provoca o aquecimento global e, consequentemente, a crise do clima. Segundo a ONG "Client Earth", a INEOS não divulga suas emissões de gases do efeito estufa. Sua maior fábrica, que fica na Escócia, teria emitido 3,2 milhões de toneladas de gas carbônico em 2019.
Essa mesma fábrica seria responsável por um terço de toda a produção de plástico do Reino Unido. A INEOS enfrentou ações na Justiça na Bélgica por causa de um projeto de produção de plástico no Porto da Antuérpia.
Relatório da organização "Food & Water Watch da Europa indicou que a empresa também esteve ligada a vazamentos de óleo na Noruega e de químicos na França, além de problemas de lixo na Itália.
Protesto em Londres, na Inglaterra, contra Ratcliffe e a INEOS
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Organizações dedicadas à proteção do meio ambiente acusam o conglomerado do bilionário inglês de investir em esportes para amenizar, ou melhor, lavar a sua imagem de poluidor — "sportswashing". Também se atribui à INEOS propagandas enganosas sobre sustentabilidade.
A INEOS é dona do Nice, da França, do Lausanne-Sport, da Suíça, e principal parceria da Mercedes, equipe de Fórmula 1.
— A INEOS é uma grande produtora de plástico, de pesticidas tóxicos e combustíveis fósseis, bem como uma das principais empresas de fracking do Reino Unido. Tendo já espalhado a sua marca no ciclismo, vela, futebol, corrida e rugby, a INEOS é a campeã indiscutível de sportswashing — declarou Areeba Hamid, diretor executivo do Greenpeace no Reino Unido.
O conglomerado afirma, em seu site, estar comprometido a reduzir suas emissões de gases do efeito estufa, de acordo com as regras do Acordo de Paris, com o objetivo de zerá-las até 2050. A INEOS também promete reduzir emissões em 33% até 2030, em comparação a 2019, além de investir 6 bilhões de euros em energia limpa nos "próximos anos".
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O que já aconteceu em Old Trafford?
Ratcliffe ainda não assumiu total responsabilidade do futebol do Manchester United, como estipulado no acordo de compra de 25% das ações do clube. Antes das visitas dele, o diretor esportivo da INEOS, Dave Brailsford (ex-ciclista) esteve no Centro de Treinamento de Carrington e já conversou com o técnico Erik ten Hag.
Brailsford se encontrou com o diretor de futebol John Murtough e com o diretor-executivo interino do United, Patrick Stewart. Quem também esteve presente foi o executivo Jean-Claude Blanc, da INEOS, e que deve assumir o controle geral do United, só abaixo de Jim Ratcliffe.
A expectativa na imprensa inglesa é que o negócio seja ratificado em fevereiro, tanto pela Premier League quanto pela Bolsa de Valores de Nova York, onde o Manchester United tem ações. Não se espera para essa janela de inverno grande investimento em contratações.
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Sir James Arthur Ratcliffe, fundador e presidente da INEOS, é o novo manda-chuva do futebol do Manchester United
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