Denúncia também tem como alvo os ex-presidentes Josep Maria Bartomeu e Sandro Rosell O presidente do Barcelona, Joan Laporta, convocou uma entrevista coletiva nesta segunda-feira para tratar especificamente do caso Enríquez Negreira, no qual o clube é alvo da justiça espanhola, acusando oficialmente de corrupção empresarial por conta de pagamentos suspeitos ao ex-árbitro e vice-presidente da Comissão de Arbitragem espanhola. Entre os diversos temas abordados pelo mandatário, Laporta indicou a tese de que, caso seja comprovado o esquema, o clube seria uma vítima da ação de dirigentes.
- Se for demonstrado que algumas pessoas físicas ou entidades externas ao clube se aproveitam de um comportamento irresponsável em benefício próprio, o clube seria a vítima. E se assim for, vamos investigar até o fim - afirmou.
O Barça é alvo do crime de corrupção empresarial contínua, através de fraude esportiva. Já os ex-presidentes são acusados de administração desleal - e Bartomeu também tem contra si uma denúncia por falsificação de documento de mercado.
A denúncia destaca que o clube chegou a um "acordo verbal estritamente confidencial", para que Enríquez Negreira "na qualidade de vice-presidente da CTA e a troco de dinheiro, realizasse ações com tendência a favorecer o Barcelona na tomada da decisão dos árbitros nas partidas disputadas pelo clube, e, assim, nos resultados das competições". O texto apresentado à Justiça ainda aponta que Enríquez emitia notas fiscais de cobrança ao Barcelona sem um serviço específico ou "prestação de assessoria real".
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A investigação começou em maio do ano passado, tendo como foco Enríquez Negreira e sua empresa. Foi descoberto, então, que o Barcelona fazia pagamentos de "enormes somas de dinheiro" para o ex-árbitro, que também ocupou o cargo de vice-presidente da Comissão Técnica de Árbitros (CTA). Estes pagamentos teriam sido feitos de forma ininterrupta entre 2001 e 2018.
Barcelona será alvo de processo na Justiça espanhola
Reuters
O artigo no qual o Barça foi enquadrado, crime de corrupção empresarial, passou a ser previsto no código penal espanhol em 2010 e pode gerar punições mais severas. Pesaria contra o Barcelona o fato de Negreira ter recebido mais de sete milhões de euros enquanto era vice-presidente da CTA.
O alvo específico do processo são pagamentos efetuados entre 2014 e 2018, que foram investigados pela Agência Tributária da Espanha. Foram solicitados relatórios e documentos comprovando que Enríquez Negreira prestou assessoria ao clube. O Barça, porém, reagiu dizendo que a documentação não foi encontrada. Então, a agência concluiu que não havia provas de que o serviço foi prestado, e as notas fiscais, assim, seriam inválidas.
O Ministério Público afirma que entre 2001 e 2018 foram pagos 7,3 milhões de euros do Barcelona para Negreira, valores que não teriam passado pela aprovação da assembleia geral, não tendo respaldo legal.
Os pagamentos foram interrompidos em 2018, pela diretoria de Josep Maria Bartomeu. A partir dali, segundo o "El País", "a empresa de Negreira, Dasnil 95 SL, viu seu rendimento despencar", pois "o Barça era praticamente seu único cliente e razão de ser". Segundo a imprensa espanhola, na ocasião, Enríquez Negreira enviou uma carta ao presidente em tom de ameaça.
- Pessoalmente, não manifesto animosidade contra ninguém do clubem, nem contra você nem especialmente contra Sr. R ou Sr. C, e não estou disposto a divulgar todas as irregularidades que conheci e experimentei em primeira mão em relação a alguém do clube, mas você me forçará a fazê-lo se não reconsiderar sua decisão e cumprir o acordo que tínhamos de continuar a contar com os meus serviços até ao final do mandato presidencial. Eu tenho a razão e o direito que atendam a referida reclamação. Tanto o senhor como o Sr. R, como vice-presidente e presidente e vice-versa, sem falar mais, concordaram comigo sobre os acordos que hoje o senhor pretende romper impunemente - diria o texto.
Os denunciados podem receber pena de seis meses a quatro anos de prisão, caso condenados por corrupção, e de seis meses a três anos, caso condenados por administração injusta. Para o Barcelona, a punição penal seria pagamento de multa ou até a dissolução da entidade esportiva - mas também pode haver punições esportivas.
A versão dos envolvidos
Enríquez e seu filho já testemunharam perante o MP e afirmaram à rádio "Cadena SER", que nunca houve tratamento favorável ao Barça. Segundo o ex-VP do comitê de arbitragem espanhol, os pagamentos foram feitos ao clube por um trabalho de assessoria, que consistia em explicar aos atletas regras de comportamento com a arbitragem.
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No entanto, a empresa de Enríquez Negreira nunca declarou qualquer documento comprovativo de ter prestado serviço ao Barcelona. O ex-presidente Josep Maria Bartomeu garantiu ao "SER" que os pagamentos terminaram devido a "uma política de corte de despesas" e revelou que os relatórios já existiam "pelo menos desde 2003", quando chegou ao clube, e que foram pagos continuamente até 2018.
Quando o caso veio à tona, o Barcelona emitiu um comunicado oficial indicando que "contratou os serviços de um consultor técnico". Confira abaixo o comunicado divulgado pelo Barcelona:
"Diante da informação veiculada hoje no programa "Què t'hi jugues" do "Ser"Catalunya", o FC Barcelona, ????ciente dos fatos que a Procuradoria está investigando sobre pagamentos feitos a empresas externas, quer deixar claro:
Que o FC Barcelona contratou no passado os serviços de um consultor técnico externo, que forneceu, em formato de vídeo, relatórios técnicos referentes a jogadores de categoria inferior na Espanha para a secretaria técnica do Clube.
Adicionalmente, o relacionamento com o próprio provedor externo foi ampliado com relatórios técnicos relacionados à arbitragem profissional, de forma a complementar as informações exigidas pela comissão técnica do time principal e da subsidiária, prática comum em clubes de futebol profissional.
Atualmente, esse tipo de serviço terceirizado cabe a um profissional alocado na Área de Futebol.
O FC Barcelona lamenta que esta informação apareça justamente no melhor momento esportivo desta temporada.
O FC Barcelona tomará medidas legais contra qualquer pessoa que prejudique a imagem do Clube com possíveis insinuações contra a reputação da entidade que possam surgir como resultado desta informação."