Após um primeiro tempo cambaleante, os colorados venceram o 9 de Octubre por 5 a 1 e avançaram ao mata-mata do torneio continental. Parecia haver cruel ironia: na noite de terça-feira, o técnico Cacique Medina era anunciado como novo comandante do Vélez Sarsfield. Sentava-se bem faceiro na janelinha do busão que passa por Liniers, com o clube argentino já garantido nas oitavas da Libertadores, enquanto a equipe que havia deixado à beira do precipício na Sul-Americana precisava enfrentar uma decisão contra o modesto 9 de Octubre. No fim das contas, no fim da noite, pareceu ter sido um bom negócio, tanto para o técnico quanto para os colorados.
Se o Inter entrava em campo obrigado a vencer o time alternativo do lanterna do campeonato equatoriano, muito se devia ao fato de que Cacique Medina havia somado apenas dois pontos nas primeiras duas rodadas, contra o próprio 9 de Octubre e também contra o Guaireña, este no Beira-Rio, empate que custou seu cargo. Após a humilhante desclassificação contra o Globo na Copa do Brasil e a perda do Campeonato Gaúcho, com direito a fiasco diante do recém-rebaixado Grêmio, parecia que seria um ano propício para os colorados planejarem alguma viagem há muito tempo almejada, pintar a casa, talvez também a dos vizinhos, ou (isso é o que fazem os mais sensatos, desde sempre) passarem as madrugadas assistindo a vídeos dos anos noventa, quando desgraça e esperança camihavam juntas.
Eis que chegou Mano Menezes. E, em pouco tempo, eis que a mágica não aconteceu: o que era ruim se tornou um pouco menos pior. O grande trunfo do novo técnico é que seu trabalho é comparado, inevitavelmente, ao de seu predecessor, que na prática deixou em pé apenas o Beira-Rio. No somatório geral da situação, o Inter continua jogando pouco e apresentando resultados insatisfatórios, mas também é inegável que há certa evolução: houve pedaços de boas partidas, a equipe tem mostrado até certo entusiasmo ofensivo e, ao contrário do que acontecia semanas atrás, às vezes se assemelha a um time de futebol.
O primeiro tempo contra o 9 de Octubre mostrou o time colorado nervoso como tem sido nos últimos seis anos, mais ou menos, dolorosa herança de recorrentes traumas, deparando-se com uma eficiente postura dos equatorianos, que no primeiro tempo fizeram um jogo inteligente -- saíram atrás, logo empataram e mereciam a igualdade quando o árbitro apontou o intervalo. O elástico placar de 5 a 1 só aconteceu na segunda etapa, após a expulsão do zagueiro Becerra e já com Taison em campo, enquanto o contestado volante Rodrigo Dourado encarnava uma mistura de Bodinho, Claudiomiro e Gérson para marcar uma inesperada TRINCA (termo superior a hat-trick, admitam). Uma apresentação novamente cambaleante, mas um resultado suficiente para manter alguma esperança de noites mais quentes às margens do Guaíba nesta temporada, pois as tardes de Brasileiro aparentemente estão condenadas ao limbo da metade da tabela.
A Carroça Mecânica de Mano Menezes não segue a todo vapor, obviamente, mas traz consigo toda a nostalgia da tração animal -- vem conseguindo superar alguma estrada de chão batido e talvez até se aventure pelo asfalto que se apresenta ali na frente. A viagem não é confortável, tampouco é bonita de assistir e não está descartado algum coice eventual num pedestre desavisado, mas é a jornada que neste momento é possível aos colorados. É um sopro de motivação, ainda que meio engasgado, para quem até semanas atrás acreditava que o mês de maio seria já o fim do caminho.
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