Apesar de eliminado, o Corinthians não sai de mãos vazias do Campeonato Paulista. A campanha ofereceu uma espécie de raio-x do time, deu claras pistas sobre os pontos onde o trabalho de Fernando Lázaro evoluiu, e também as carências de elenco que podem travar estes progressos. Em especial quando chegarem as competições de maior exigência. O time progrediu, especialmente com bola. Mas lida com escassez em algumas posições, especialmente no ataque.
Se a análise se restringir ao jogo com o Ituano, será possível dizer que esta é uma daquelas eliminações que cai na conta das contingências típicas de torneios que decidem classificações em partidas únicas. O Corinthians jogou 25 minutos bem ruins, em que a tentativa de fazer Paulinho assumir parte das funções de Renato Augusto era um dos fatores que não permitia ao time fluir com a bola. Roger Guedes ocupava com mais frequência o lado esquerdo do ataque, a bola saía de trás com menos qualidade e, ao acumular perdas, oferecia-se ao Ituano o cenário que os visitantes buscavam. Quando controlou mais a posse e se instalou no campo de um adversário que já defendia mais atrás, um Corinthians ainda distante de sua melhor versão criou o suficiente para virar. Perdeu chances e caiu nos pênaltis.
Fagner lamenta pênalti perdido em Corinthians x Ituano
Marcos Ribolli
O que a participação no Paulista deixa de bom para o Corinthians foi a evolução com bola. Especialmente, é claro, com a formação principal, que inclui Renato Augusto. O meia, um organizador de jogo com raro entendimento do campo, tem funções importantes. Pode participar dos primeiros passes, recebendo junto aos zagueiros pelo lado esquerdo. Com isso, permite a Fábio Santos avançar e a Roger Guedes partir ao centro como segundo atacante. Por vezes, Renato é quem recebe aberto na esquerda, de onde conduz para o centro em busca do último passe, ou tenta inversões de lado. Aí pode ter Fábio Santos mais atrás ou atacando "por dentro".
As alternâncias de posição também ocorrem na direita, onde Fágner pode abrir campo, ou Giuliano pode ultrapassar. Adson, com frequência, parte da ponta para o centro, buscando espaços entre volantes e defensores. Conforme o campeonato avançou, o Corinthians melhorou muito a coordenação destes movimentos, foi fluindo com mais naturalidade, no aspecto mais promissor do trabalho de Fernando Lázaro - bom destacar, sua estreia completará apenas dois meses nesta quarta-feira.
Aos poucos, o time foi dando passos adiante na recuperação de bolas no campo ofensivo e na recomposição defensiva. Esta, no entanto, ainda tem pontos importantes a ajustar. Nem Renato Augusto, nem Roger Guedes, têm por característica a capacidade de cobrir todo o corredor do campo na esquerda. Na direita, Adson por vezes percorre grandes distâncias para defender o setor. O Corinthians marca melhor quando retoma a bola no ataque. Ao defender perto de sua área, em especial pela característica dos meio-campistas, tem dificuldades para ser mais agressivo.
Mas as questões sobre as quais Fernando Lázaro deverá se debruçar durante o bom período até o time voltar a jogar dialogam mais com carências no elenco. Mesmo que fosse ao mercado com bom poder financeiro, seria difícil substituir Renato Augusto – e o Corinthians não nada em dinheiro, tem um endividamento importante. O fato é que não é simples achar um organizador como ele. A ausência foi sentida em Itaquera, diante do Ituano. Paulinho é muito mais um meia de chegada, de infiltração, de ataque à área para finalizar. Um outro tipo de jogador.
Tampouco significa que seja impossível montar um time para competir sem Renato. O banco corintiano neste domingo tinha Fausto Vera e Cantillo, ambos com características para atuarem como “camisa 5%, além de Du Queiroz e Maycon. Nenhum dos dois últimos irá reproduzir Renato Augusto, mas é viável fazer um meio-campo competitivo com ajustes na forma de atacar. O problema é que Maycon não reencontra a melhor forma e Du Queiroz tem prazo de validade limitado: irá sair do Corinthians no meio do ano, envolvido na negociação de Yuri Alberto.
No entanto, é no ataque que o problema se aprofunda. Roger Guedes e Yuri Alberto são titulares de excelente nível. Mas uma temporada como a brasileira irá impor que haja reposição. E, neste domingo, o banco corintiano tinha Pedrinho, com seus 17 anos, Giovane, de 19, e Romero, este mais experiente, porém um jogador de muita transpiração que, desde o retorno, não conseguiu um rendimento em nível alto.
O trabalho coletivo fez o Corinthians melhorar, e pode permitir ser mais forte do que no ano passado. Mas os limites do time estão diretamente ligados à capacidade do clube no mercado. A escassez de reposição pode travar objetivos maiores.