A atriz e roteirista conta que seus dois últimos anos na Globo foram muito difíceis e que não entendia o porquê de tantos "não" aos projetos que apresentava. Ela afirma que chegou a duvidar de sua capacidade como escritora -Suzana colaborou com Walther Negrão no texto da novela "Flor do Caribe" e, após ele ficar doente, praticamente carregou nas costas o folhetim "Sol Nascente".
Após muita terapia, ela decidiu dar fim a esse período difícil, durante o qual chegou a desenvolver um quadro de ansiedade. No final de 2019, ela conversou com a emissora e tomou a decisão de não renovar o contrato após 15 anos. "A minha saída da Globo inaugurou um novo momento pessoal de autorrespeito", avalia.
Nessa época, ela já escrevia textos sobre suas experiências como mulher -no mercado de trabalho e na vida- que mais tarde se transformaram no livro "Dona de Si" e em um instituto com o mesmo nome. Ela conta que a ideia do instituto surgiu após receber emails de suas leitoras com as mesmas queixas que ela: "Estavam exaustas e patinando na carreira".
Para angariar fundos para dar o pontapé inicial no instituto, em 2018, ela vendeu 11 das 12 bolsas de grife que possuía. "Transformei as bolsas Chanel em sororidade", comenta a atriz, que diz ter impactado 2.000 mulheres por meio de cursos de seu projeto social. "Nunca mais me senti sozinha, nunca mais duvidei da minha capacidade. Eu nunca mais me deixei ficar sobrecarregada."
Fora da Globo, em 2021, a sorte bateu à sua porta. O estúdio Avalon, que produz séries para a BBC e para o mercado americano, estava procurando talentos femininos da América Latina com experiência em narrativa de telenovela. O nome de Suzana foi sugerido a eles pela CEO de uma empresa com quem ela tinha trabalhado. "Na primeira reunião virtual por Zoom, a gente se entendeu muito bem em termos do que eles queriam", lembra.
Ela conta que mandou para eles um projeto em inglês e, 20 dias depois, já estava conversando sobre os termos do contrato, que demorou sete meses para ser firmado devido às leis diferentes dos dois países. "Em janeiro de 2022, eu comecei o projeto e fui para Los Angeles."
Em paralelo à carreira de escritora, Suzana continua exercendo o ofício de atriz. Ela gravou a série infantojuvenil "A Magia de Aruna" (Disney+), na qual interpreta uma vilã. Ela diz que hoje dedica 60% do tempo à escrita e 40% à carreira de atriz -de onde tira energia para todo o resto. "É a energia de atriz que movimenta em mim a rapidez e a falta de pudor e de propor coisas que eu levo comigo como autora", diz.
Sobre política, Suzana diz acreditar que o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vai recuperar o respeito pela classe artística e pela cultura que, na opinião dela, chegou ao fundo do poço durante o governo de Jair Bolsonaro (PL). "Eu não tolero que me chamem de 'mamateira' da Lei Rouanet. Todas as vezes que me chamaram eu acionei os meus advogados."
A atriz elogia os nomes escolhidos por Lula para a equipe da transição na pasta da cultura, como Lucélia Santos e Juca Ferreira. Mas lamenta que Alexandre Frota tenha desistido de participar da equipe após uma enxurrada de críticas de artistas e intelectuais. Segundo ela, o ator é honesto e conhece muito de produção em todos os veículos. "Ele já produziu tudo o que você possa imaginar, eu não gostei de a gente perder o Frota porque eu acho que a união [da classe artística] vai ser importante", comenta.
Ela diz ainda que não se decepcionou com os artistas envolvidos em atos golpistas que questionam o resultado das eleições -entre eles Cássia Kis e Victor Fasano. "Nunca me enganou fulana, sicrana, esses malucos todos que estão abraçados na bandeira. Nunca dei assunto", afirma.
Fonte: Notícias ao minuto