José André da Rocha Neto afirma que fechou o patrocínio ao clube pessoalmente Rodrigo Capelo detalha como foi a inclusão de intermediário em contrato entre Corinthians e VaideBet
O empresário paraibano José André da Rocha Neto, um dos donos da casa de apostas VaideBet, disse em depoimento à Polícia Civil de São Paulo que fechou pessoalmente o acordo de patrocínio com o Corinthians e afirmou não conhecer Alex Cassundé, inserido no contrato como intermediador do negócio - por isso, teria direito a receber R$ 25,1 milhões em comissão.
O caso é tema de investigação policial desde abril do ano passado, por suspeita de uso de empresas de fachada, lavagem de dinheiro e outras possíveis ilegalidades, e ensejou processo de impeachment contra o presidente do Corinthians, Augusto Melo.
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O depoimento do dono da VaideBet foi dado em 12 de dezembro e teve o conteúdo publicado inicialmente por "Uol" e "Gazeta Esportiva".
À Polícia, José André da Rocha Neto disse ter chegado aos dirigentes do Corinthians por meio de um amigo, conhecido como Toninho Duettos, no fim de 2023. Segundo o dono da VaideBet, ele se reuniu com Augusto Melo, o diretor administrativo Marcelo Mariano e outras duas pessoas cujo nome não se recorda no hotel Tivoli Mofarrej, em São Paulo, onde acertou as condições do negócio.
– Perguntei quanto seria o valor, eles disseram: "só fecha se for três anos". Eles passaram o valor, eu pedi uma ou duas horas para analisar, peguei um quarto no hotel, subi, fui analisar. O presidente (Augusto Melo), no meio da reunião, teve que sair para uma outra reunião, não sei onde era, fiquei só com Marcelinho e mais três pessoas. Desci já para o restaurante do térreo e disse: "está fechado o negócio, só vamos organizar como vai (sic) ser os pagamentos – declarou, durante a oitiva.
Augusto Melo e Sérgio Moura em apresentação da VaideBet no Corinthians
Jozzu/Agência Corinthians
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As falas de José André contradizem não só as alegações do Corinthians, mas da própria casa de apostas. Em maio do ano passado, a empresa disse por meio de nota oficial que "desde o primeiro momento, a VaideBet foi contatada por um agente intermediário sobre a possibilidade de se firmar um acordo para patrocínio master do Corinthians e foi conduzida pelo referido interveniente até a diretoria do clube para o início das negociações."
Na oitiva policial, foi apresentada uma foto de Alex Cassundé ao dono da VaideBet, que disse nunca tê-lo visto.
As informações foram reiteradas à Polícia por André Murilo, diretor financeiro da VaideBet.
Elaboração do contrato
Como mostrou o ge em novembro do ano passado, o contrato do Corinthians com a VaideBet passou por sete versões. A primeira, um rascunho feito pelo departamento jurídico do clube, leva a data de 2 de janeiro de 2024. A última, assinada por todas as partes, ficou pronta em 4 de janeiro.
Alex Cassundé não foi inserido até a terceira versão — a primeira a ser revisada por um representante da casa de apostas. Daniel Sitônio, diretor jurídico da VaideBet, deixa um comentário logo na primeira página, no lugar destinado à inclusão do intermediário:
— Há intermediário nessa contratação?
Foi só então, na quarta minuta, que a empresa Rede Social Media Design (de Alex Cassundé) foi inserida com todos os seus dados no contrato de patrocínio. O documento identifica cada uma das partes relacionadas e atribui à firma a intermediação das negociações que resultaram na assinatura.
Versões contraditórias
Em depoimento em junho do ano passado, Alex Cassundé afirmou que não cobrou por intermediar patrocínio no Corinthians e que conheceu VaideBet no ChatGPT.
Porém, os dois representantes da VaideBet ouvidos pela Polícia declararam que não há um número de telefone fixo da empresa na internet e que nenhum deles recebeu ligação de Cassundé.
Desde que o caso veio à tona, Augusto Melo, presidente do Corinthians assegurou a participação do intermediário no negócio. Ele, inclusive, chegou a dar detalhes de como foram as tratativas do valor a ser pago em comissionamento.
— Quando você faz uma negociação com uma empresa, sempre é um amigo, um conhecido seu. Às vezes não é um amigo, mas é um conhecido que tem acesso a você. Ele que traz o patrocínio para você. Eu negociei, eu sangrei de 20% para 7%. Brigamos. "10%, 10%, 10%'', eu não pago 10%. Eu pago 5%, até chegar num denominador de 7% — declarou o presidente alvinegro, em entrevista ao jornalista Benjamin Back.
Em nota divulgada no ano passado, o clube também reafirmou a participação da empresa de Alex Cassundé na operação:
— Houve a atuação de uma empresa interveniente, cuja responsabilidade foi de captação e intermediação da negociação entre a marca e o clube e sem a qual não teria sido possível celebrar o maior acordo de patrocínio da história do futebol brasileiro. A atuação da empresa intermediária está documentada e evidenciada no contrato celebrado entre as partes, com remuneração que obedece exatamente as mesmas práticas executadas por outros clubes de futebol do Brasil — dizia o comunicado.
Relembre o caso
O patrocínio da VaideBet ao Corinthians deixou a editoria do marketing esportivo e passou para as páginas policiais em maio deste ano. O jornalista Juca Kfouri publicou em seu blog, no UOL, que havia um "laranja" na intermediação do negócio.
Entre 18 e 21 de março, de acordo com o repórter, a Rede Social Media Design recebeu pagamentos do Corinthians na soma de R$ 1,4 milhão. Nos dias 25 e 26 do mesmo mês, a empresa repassou pouco mais de R$ 1 milhão para outra firma, Neoway Soluções Integradas em Serviços.
A Neoway tem como sócia uma mulher chamada Edna Oliveira dos Santos, moradora de uma casa de tijolos, sem reboque ou acabamento, sem eletricidade, em Peruíbe, praia do litoral sul de São Paulo.
Já o endereço da empresa consta como Avenida Paulista, 171, quarto andar, num espaço de coworking que jamais havia sido frequentado por alguém da companhia, segundo recepcionista consultada pelo jornalista.
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A publicação da reportagem motivou a abertura de inquérito da Polícia Civil, instaurado em 28 de maio pelo delegado Tiago Fernando Correia. O patrocínio foi rompido em 7 de junho. A VaideBet acionou a cláusula anticorrupção do contrato e encerrou o vínculo antecipadamente.
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