Prestes a enfrentar o Real Madrid, equipe é vice-lanterna da LaLiga. Torcedores protestam contra empresário Peter Lim: "Há cinco anos que não vai a Valência" Torcedores do Valencia protestam contra proprietário Peter Lim
Pouco mais de vinte anos depois de ser campeão espanhol desbancando os galácticos do Real Madrid, em 2003/04, o Valencia vive uma das maiores crises de sua história. Afastada da parte de cima da tabela há seis anos anos, a equipe é vice-lanterna da LaLiga e enfrenta o Real Madrid, nesta sexta-feira, no estádio Mestalla, em clima de protestos contra o proprietário do clube, o empresário de Peter Lim.
— Os torcedores se queixam do absoluto abandono e destruição do clube. O Valencia era o terceiro clube da Espanha quando Peter Lim chegou e agora corre sério risco de cair para a segunda divisão. Suas decisões são um delírio sem sentido. Ele despreza o clube, os sócios e a cidade — disse o radialista Manolo Montalt, que cobre o dia a dia do Valencia.
Lim é um magnata de Singapura que adquiriu o clube em 2014 e é tido na cidade como o grande responsável pelo mau momento da equipe. O ge te explica como, em 20 anos, o Valencia foi de campeão espanhol para potencial rebaixado.
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Torcedores do Valencia protestam contra proprietário Peter Lim
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O início da decadência
Campeão de dois de seus seis títulos espanhóis em 2001/02 e 2003/04, o Valencia começou o século XXI da melhor forma possível. A equipe superou o Real Madrid de Ronaldo, Roberto Carlos, Zidane, Figo, Beckham e outras estrelas. Também foi vice-campeã da Champions League em 2000/01, e venceu a Copa da Uefa (antiga Liga Europa) em 2003/04 e a Copa do Rei em 2007/08.
No entanto, anos depois a conta chegava e as dívidas aumentavam. O clube chegou a iniciar em 2007 a construção de seu novo estádio, mas paralisou as obras em 2009, por falta de dinheiro. As obras serão retomadas em 2025 e falaremos sobre o Mestalla mais abaixo.
Fazendo uma linha do tempo entre o surpreendente título do Valencia, em 2004, e o time que ocupa hoje a vice-lanterna da LaLiga, exatamente na metade do caminho acontece um episódio crucial para explicar a crise atual. Em junho de 2014, o bilionário Peter Lim comprou o Valencia por cerca de 94 milhões de euros. O empresário chegava com a chancela de ser um dos dez homens mais ricos de Singapura e representava a esperança de a equipe voltar às glórias.
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Peter Lim, dono do Valencia desde 2014
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Decisões questionáveis e autoritarismo
A primeira temporada sob nova direção foi excelente, e o clube voltava a disputar a Champions League. No entanto, os anos seguintes foram de clara decadência. Entre 2015 e 2017, o Valencia teve seis trocas de treinadores, o que já seria muito na cultura do futebol brasileiro, mas se tratando de Europa é desastroso. Após duas campanhas na 12ª posição do Espanhol, os torcedores já questionavam o proprietário.
Neste tempo também ficou em evidência a forma como o clube passou a ser uma espécie de vitrine para jogadores agenciados pelo empresário Jorge Mendes. O português, que geriu a carreira de Cristiano Ronaldo, entre vários outros nomes, foi o agente que intermediou a compra do Valencia por Peter Lim, de quem é próximo.
Entre 2017 e 2019, a equipe voltou a ter bons momentos, se classificando duas vezes mais para a Liga dos Campeões, sob o comando do técnico Marcelino García e do diretor Mateu Alemany. Apesar do bom trabalho, ambos foram demitidos exatamente após o 4º lugar na LaLiga e o título da Copa do Rei. O motivo das demissões seria a discordância da direção do clube, que acreditava que o torneio mata-mata deveria ter sido deixado de lado, com foco total no Espanhol.
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Desde então, o Valencia não voltou mais a frequentar as competições europeias, se aproximou cada vez mais da zona de rebaixamento, e teve como melhor posição na LaLiga o 9º lugar. Na atual temporada, o clube amarga a vice-lanterna, na véspera do jogo contra o Real Madrid, com apenas duas vitórias, seis empates e nove derrotas em 17 jogos. Ao ge, o radialista Manolo Montalt fez uma avaliação da gestão de Peter Lim à frente do clube.
— Chegou como salvador do clube em 2014 e, dez anos depois, o time tem boas chances de cair para a segunda divisão. Chegam contratações de segunda e terceira categorias devido à sua recusa em investir no clube. A dívida aumentou consideravelmente e as suas promessas eram apenas mentiras. Lim comprou este clube para fazer negócios com o seu sócio Jorge Mendes e abandonou-o assim que cumpriu o seu objetivo. Há cinco anos que não vai a Valência e nem ele nem os seus colaboradores admitem críticas ou erros — afirmou o jornalista local.
Protestos contra Peter Lim
Nos últimos anos, os torcedores do Valencia organizaram uma série de protestos contra Peter Lim e a presidente Lay Hoon Chan, também empresária de Singapura. Personalidades históricas do clube, como o ex-goleiro Santiago Cañizares também se posicionam contra a gestão.
— Peter Lim é incapaz e arrogante. Está há 5 anos sem dar explicações, sem vir para Valência, tem zero empatia. O Valencia já perdeu o bom futebol e agora vamos ver se conseguimos ficar na primeira divisão. Aqui está uma péssima gestão — disse o ídolo do Valencia em entrevista ao jornal Marca.
Torcedores do Valencia protestam contra proprietário Peter Lim
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Diversas manifestações já foram organizadas em frente ao estádio Mestalla. Em todas as partidas do Valencia são estampados cartazes "Lim, Go Home" ("Lim, vá para casa", em inglês). Em outubro, um casal foi detido em Singapura por exibir este cartaz diante de um hotel supostamente de propriedade do magnata.
— Ele não contrata profissionais qualificados em nenhuma área, apenas quer que funcionários cumpram suas ordens. O campo esportivo não tem importância para ele. As pessoas querem que ele saia, que venda as suas ações e dê lugar a pessoas que estejam dispostas a recuperar o nível que este clube quase sempre teve nos seus 105 anos de história — analisou Manolo Montalt.
Os protestos chegaram a um nível ainda mais delicado no dia 22 de outubro, após a derrota para o Las Palmas. Os torcedores se revoltaram e fizeram uma onda de protestos ao redor do Mestalla. O clima de tensão fez com que os jogadores permanecessem no estádio até o início da madrugada, quando enfim se sentiram seguros para sair, quase duas horas depois do fim do jogo.
Obras do Novo Mestalla recomeçam
Iniciada em 2007 e paralisada em 2009, a construção do novo estádio Mestalla será retomada no dia 10 de janeiro. A prefeitura da cidade aprovou o plano urbanístico da região do estádio.
O Valencia prevê que sejam necessários 119 milhões (R$ 721 milhões) para a conclusão do estádio. Na audiência de aprovação do projeto, no entanto, parlamentares fizeram nova previsão e estimaram gastos de até 250 milhões (R$ 1,5 bilhão), que incluem a urbanização da região e do antigo Mestalla.
O atual Mestalla ficou de fora da relação dos 11 estádios espanhóis para a Copa de 2030. Palco do Mundial de 1982, o estádio do Valencia foi escolhido como uma das subsedes, áreas que alocarão os centros de treinamentos das seleções participantes.
O desenho inicial era para um estádio de 80 mil lugares, mas o projeto do Novo Mestalla deve ser adaptado para uma capacidade de 70 mil pessoas. O clube espera utilizar a renda da venda do terreno do atual estádio para utilizar no pagamento da nova casa. Mas a operação só poderá ser feita quando o Novo Mestalla estiver em funcionamento.
— Os sócios não querem sair do Mestalla atual por carinho ao que sempre foi a sua casa e pela convicção de que Lim construirá um estádio do qual ninguém poderá se orgulhar. Porém, há muitos interesses em jogo, a Copa do Mundo de 2030 e o preço do terreno onde está localizado o atual estádio do Mestalla têm grande valor econômico — explica o jornalista Manolo Monalt.
Projeto do Nou Mestalla, estádio do Valencia
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O jogo desta sexta-feira também será mais um reencontro de Vini Jr. com o estádio Mestalla. Lá, o brasileiro viveu o maior caso dos vários ataques racistas que já recebeu na Espanha. Em maio de 2023, o duelo entre Valencia e Real Madrid foi interrompido por conta do racismo. Três torcedores do Valencia foram condenados a oito meses de prisão pelo episódio.
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Em março de 2024, Vini voltou ao local e marcou os dois gols do Real no empate em 2 a 2. O Valencia é a maior vítima da carreira de Vinicius Junior, com oito gols marcados em 13 duelos. A rivalidade entre o brasileiro e o clube é grande desde então. Apesar disso, as ofensas mais prováveis no jogo desta sexta são para Peter Lim.
Torcedores do Valencia protestam contra proprietário Peter Lim
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