Comparação com algumas das principais ligas da Europa mostra que pontuação necessária para se salvar no Brasil é a mais elevada É possível ter diferentes olhares para o fato de o Campeonato Brasileiro rebaixar 20% dos seus participantes. Não deverá ser menosprezado, por exemplo, o argumento de que a queda de quatro equipes das 20 participantes fará com que, em algum momento da disputa, quase metade dos participantes frequente, ao menos de forma transitória e passageira, uma região de risco na tabela de classificação. E, por consequência, lidará com uma crise, com as pressões externas e com a ampliação da rotina de instabilidade dos projetos, marca do futebol brasileiro.
Por outro lado, tampouco é descartável a ideia de que rebaixar quatro times, além de ampliar a mobilidade nos diferentes estratos do futebol nacional, força uma competitividade maior. Ninguém está seguro, e um mínimo erro de planejamento pode fazer com que clubes de sucesso recente se vejam flertando com a segunda divisão. Nenhuma liga do mundo pune com tanto rigor um mínimo deslize de projeto esportivo.
E há outro dado importante. Não é simples encontrar, no mundo, um campeonato em que se exija mais pontos para evitar o rebaixamento do que o Brasileiro. Uma pesquisa que envolva as três principais ligas da Europa com 20 times e 38 rodadas em seu campeonato, mostra que, mesmo se esses campeonatos rebaixassem quatro equipes, o número de corte para permanência na elite seria claramente inferior ao do Brasil. Porque o mesmo campeonato que rebaixa quatro times é um dos que mais distribui seus pontos ao longo de todas as zonas da classificação.
Lucas Evangelista, ajoelhado, comemora gol do Bragantino contra o Athletico-PR
Ari Ferreira/Red Bull Bragantino
Uma comparação com os campeonatos da Espanha, Inglaterra e Itália ajuda a mostrar o panorama do Brasileirão. Ainda com uma partida a disputar, o Bragantino, que hoje abre a zona de rebaixamento e é o 17º colocado, tem 41 pontos. Os 38 pontos do Criciúma também são importantes para efeitos de comparação, já que o time está na 18ª posição: ou seja, abriria a zona de rebaixamento nas outras três ligas usadas como parâmetro.
Nas quatro últimas temporadas da La Liga, Premier League e Série A italiana, os 12 times que ficaram em 18º lugar somaram menos de 35 pontos em dez ocasiões. O recorde negativo são os 26 pontos do Luton, no Campeonato Inglês de 2023-24. Há duas exceções na Espanha: os 38 pontos do Granada em 2021-22 e os 40 pontos do Valladolid em 2022-23. Esta temporada espanhola, aliás, tem outro dado muito representativo para o futebol brasileiro.
Se imaginássemos um rebaixamento de quatro times nestas três ligas da Europa, apenas em 2022-23 encontraríamos um time que seria rebaixado com 40 pontos ou mais: o Almería, 17º lugar na Espanha com 41 pontos. Todos os outros 17º colocados das últimas quatro temporadas somaram, no máximo 39 pontos. Na Inglaterra, não passaram dos 36 pontos em duas das últimas quatro edições do campeonato. Na Itália, em dois dos últimos quatro anos o 17º lugar fez apenas 31 pontos.
Na atual edição do Brasileiro, o Fluminense tem 43 pontos e vai à última rodada ameaçado. Tampouco está livre o Atlético-MG com seus 44 pontos.
Thiago Silva e Lima em Fluminense x Cuiabá
Thiago Ribeiro/AGIF
No domingo, três finalistas de Libertadores das últimas três temporadas vão entrar em campo sob risco de rebaixamento. O Athletico-PR, vice-campeão da América em 2022, chega ao fim da temporada com seu quarto treinador: dos antecessores, dois foram demitidos pelo clube – um deles, Juan Carlos Osorio, foi demitido em março, após 12 jogos e só uma derrota; já Cuca decidiu sair e o clube nunca mais se reencontrou.
O Fluminense, que entrou em 2024 como vigente campeão da Libertadores, fez uma janela de começo de ano que atacou poucas deficiências do ano passado. As apostas de jogadores mais jovens e velozes, como Marquinhos, funcionaram pouco. Quando tentou corrigir a rota, no meio do ano, tinha enorme montanha a escalar. E chegará à rodada final em situação difícil. Já o Atlético-MG, com elenco bem cotado, sofreu com o calendário e os desfalques da Copa América, decidiu privilegiar o Brasileiro e agora paga caro pelo período em que negligenciou os pontos corridos.
Ainda assim, todos são times de sucesso recente. Não parece absurdo dizer que, em outras ligas, seriam erros que custariam mais barato, porque a exigência de desempenho para permanência é menor. É possível gostar ou não. Mas parece claro que o Brasil tem uma das zonas de rebaixamento mais desafiadores do mundo.