Conheça a história do Campo da Graça, palco de seis jogos da Amarelinha Seleção chega a Salvador, e Vini Jr. atende torcedores
O Brasil está em Salvador para um compromisso contra o Uruguai, pelas Eliminatórias da Copa do Mundo. A partida vai ser disputada na Casa de Apostas Arena Fonte Nova, moderna praça esportiva construída para o Mundial de 2014. Um cenário bem diferente de quando a Amarelinha esteve na capital baiana pela primeira vez, em 1934. Naquele ano, o palco foi o Campo da Graça, estádio que hoje dá lugar a um bairro nobre.
Em 1934, quando o Brasil veio disputar uma série de amistosos em Salvador, o Campo da Graça já estava construído há 14 anos. O local foi inaugurado em 1920, sob o nome oficial de Estádio Arthur Morais. Ele seguiu como parte da cidade até os anos 70, quando o terreno foi vendido para construtoras e deu espaço para uma série de prédios que hoje compõem o bairro da Graça.
Arquibancadas de madeira do Campo da Graça, que tinha inspiração nos estádios ingleses da época
Reprodução
Arthur Morais, que deu nome à construção da praça esportiva, foi o engenheiro responsável pela obra. Ele também jogava futebol e chegou a atuar como zagueiro do Vitória, mas seu maior feito foi projetar o estádio com capacidade para sete mil pessoas em arquibancadas de madeira cobertas inspirado nos padrões ingleses da época [veja na imagem acima].
A construção de Arthur Morais contemplava ainda vestiário para os jogadores, estacionamento, e tinha localização estratégica, próxima a importantes clubes da elite soteropolitana, como o Bahiano de Tênis e Associação Atlética. Em frente ao campo, o Edifício Dourado e a então sede do Café Rio Branco serviam como camarotes de onde era possível assistir aos jogos com mais tranquilidade.
O Edifício Dourado foi o primeiro prédio residencial de Salvador e segue de pé no bairro da Graça
Rafael Teles / ge
O Edifício Dourado foi o primeiro prédio residencial de Salvador. A construção do arquiteto Arézio Fonseca remete à década de 30 e segue de pé, mas já não oferece mais a mesma vista para as principais partidas de futebol em Salvador. Atualmente, a obra tem como vizinhos prédios, estabelecimentos comerciais e ruas movimentadas por muitos carros em horário de pico.
O Campo da Graça foi palco de grandes acontecimentos do futebol soteropolitano. O estádio recebeu o primeiro Ba-Vi, em 1932. Também foi lá que o Bahia ganhou o apelido de Esquadrão de Aço depois de golear o São Paulo por 7 a 2, em 1946. Por falar em goleada, a maior já registrada em um Campeonato Baiano teve o Estádio Arthur Morais como plano de fundo: Ypiranga 16 x 0 Democrata, em 1930.
Imagem restaurada e mostra, em cores, uma partida de futebol disputada no Campo da Graça
Reprodução
Nova paisagem
Foi só nos anos 70 que os prédios começaram a ocupar o espaço onde o futebol era praticado, mas os dias de glória do Campo da Graça chegaram ao fim ainda década de 50, quando uma nova praça esportiva foi erguida em Salvador: o Estádio Octávio Mangabeira, mais conhecido como Fonte Nova.
A Fonte Nova foi erguida para a Copa do Mundo de 1950, mas ficou pronta apenas em 1951. Tarde para o Mundial, mas ainda em tempo de virar o grande palco do futebol baiano. Com menos estrutura e cada vez menos utilizado, o Campo da Graça atraiu construtoras pela localização estratégica na capital baiana. A partir daí não demorou muito para a grama ser substituída por asfalto.
Edifícios residenciais e comerciais ocupam o espaço onde antes ficava o Campo da Graça, em Salvador
Reprodução / Google Earth
A Seleção no Campo da Graça
O "scratch" da CBD (Confederação Brasileira de Desportos), como era chamada a seleção brasileira na época, esteve em Salvador para uma sequência de amistosos contra equipes da cidade em 1934. Foram seis partidas distribuídas ao longo de mais de um mês, entre setembro e outubro. Todas elas disputadas no Campo da Graça.
Amistosos do Brasil no Campo da Graça em 1934:
Galícia 4 x 10 Brasil
Ypiranga 1 x 5 Brasil
Vitória 1 x 2 Brasil
Bahia 1 x 8 Brasil
Combinado Dois de Julho 1 x 2 Brasil
Bahia 1 x 5 Brasil
O Brasil venceu todos os amistosos no Campo da Graça, inclusive a revanche contra o Bahia. De acordo com publicação do Jornal A Tarde no dia do jogo, a partida gerava empolgação no público soteropolitano.
- A Bahia esportiva assistirá, hoje, a um grande jogo, à noite, no Campo da Graça. Medirão forças, em peleja tão empolgante quanto cordial, o valoroso scratch da C.B.D, cuja delegação é esperada, hoje, às 16 horas, viajando no vapor nacional Itaimbé, e o sympathizado S. C. Bahia, bi-campeão bahiano de foot-ball - publicou o periódico centenário.
No dia seguinte ao último jogo da seleção brasileira no Campo da Graça, o A Tarde exibiu uma foto de jogadores do Bahia e do Brasil no Estádio Arthur Morais. Ao fundo, é possível ver parte das arquibancadas de madeira da praça esportiva.
Publicação do Jornal A Tarde sobre a partida da Seleção no Campo da Graça em 1934
Rafael Carmo / ge
Escalação do Brasil: Pedrosa; Vicente, Martin, Ariel e Waldyr; Rogério, Attila, Waldemar e Armandinho; Leônidas e Patesko.
Escalação do Bahia: Nova; Leônidas, Ludovico, Gia, Guga, Bisa, Mozart, Pelagio e Sandoval II; Cebinho e Odyr.
A seleção brasileira voltou a Salvador em 1969, desta vez para novo amistoso contra o Bahia. A partida já teve como palco a imponente Fonte Nova, que recebeu uma Amarelinha bicampeã do mundo e cheia de craques como Pelé, Jairzinho, Gerson e Tostão. No ano seguinte, eles fizeram da Canarinho a primeira seleção tricampeã ao vencer a Itália na Copa do México.
Edição do Jornal A Tarde de 1969 destacava Pelé e Tostão antes de amistoso entre Brasil e Bahia na Fonte Nova
Rafael Carmo / ge
A Fonte Nova, agora sob formato de Arena, vai ser palco da seleção brasileira em Salvador mais uma vez. A partida entre Brasil e Uruguai está marcada para as 21h30 desta terça-feira (horário de Brasília). O duelo tem transmissão da TV Globo, e os ingressos estão à venda (confira aqui).
