ge lista "sete pecados" capitais cometidos pelo clube até a queda para a Série C Guarani empata com o Amazonas e é rebaixado à Série C
O 11º rebaixamento do Guarani em 113 anos de história foi consumado em 12 de novembro de 2024, mas foi gerado muito antes disso. É como se fosse uma consequência natural de uma série de erros dentro e fora de campo.
Se antes o Bugre avançava no processo de reconstrução de sua imagem, agora vai precisar voltar algumas casas a partir da queda para a Série C.
Após flertar com o acesso na Série B de 2023, a diretoria do Guarani prometeu que brigar na parte de cima da classificação seria parte da nova rotina do clube. Mas o resultado foi bem diferente.
Guarani é rebaixado para a Série C do Brasileiro
Diogo Reis/AGIF
A declaração foi feita pelo vice-presidente Rubens Vicente Júnior, primeiro a renunciar do Conselho de Administração após a confirmação da queda na Série B.
- Desde quando essa diretoria assumiu em março, duas frases foram abolidas no clube: descenso e 45 pontos. Aqui não se fala mais nisso. A medida da régua aumentou e seremos cobrados por isso - declarou o agora ex-dirigente bugrino, em novembro do ano passado.
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Na mesma entrevista, o então CEO Ricardo Moisés, também ex-presidente do clube, foi enfático quanto aos objetivos do Guarani em 2024.
- Vou colocar os objetivos de forma clara. É importante diferenciar objetivo de obrigação. Coloco o acesso como objetivo, e como obrigação a nossa classificação para as quartas de final do Paulista. Tem que ter compromisso e falar que tem obrigação de chegar entre os oito do Paulistão.
Ricardo Moisés, ex-CEO do Guarani
Thomaz Marostegan/ Guarani FC
Na prática, o Guarani passou muito longe do que foi prometido. A equipe brigou contra o rebaixamento do Campeonato Paulista até a última rodada, escapando da queda com a vitória diante do time reserva do Bragantino. E, claro, não evitou o descenso na Série B, registrando sua pior participação na competição na era dos pontos corridos - foi a primeira vez que o time campineiro não alcançou ao menos 41 pontos em 38 rodadas.
A lista de problemas que causaram a queda à Série C é extensa. Abaixo, o ge lista sete pecados do Guarani que resultaram na volta para a terceira divisão depois de oito anos:
Erros de planejamento
O clube definhou com promessas não cumpridas em razão do planejamento mal feito. A montagem do elenco em janeiro passou pelo CEO Ricardo Moisés, pelo executivo Juliano Camargo e pelo técnico Umberto Louzer. Depois, diante da campanha no Paulistão, a responsabilidade passou a ser do diretor Danilo Silva e do técnico Claudinei Oliveira.
Toninho Cecílio também foi contratado como executivo de futebol, mas foi demitido após dois meses de trabalho e deu lugar para Rodrigo Pastana, quarto profissional a comandar o departamento de futebol na temporada.
Rodrigo Pastana foi o responsável pelas últimas contratações
Raphael Silvestre/Guarani FC
Ao todo foram 37 contratações: 13 com Juliano Camargo, 10 com Danilo Silva, 3 com Toninho Cecílio e 11 com Rodrigo Pastana. Todas avalizadas por Ricardo Moisés ou pelo Conselho de Administração.
Do elenco que iniciou a Série B, 12 atletas saíram antes mesmo da competição terminar: o lateral-direito Diogo Mateus, os zagueiros Rayan e Léo Santos, os volantes Camacho e Kayque, os meias Bruno Oliveira, Chay e Gustavo França, além dos atacantes Airton, Daniel dos Anjos, Renyer e Rafael Freitas.
Quatro técnicos só na Série B
As trocas no departamento de futebol também influenciaram no comando técnico. Pintado, Umberto Louzer, Claudinei Oliveira e Júnior Rocha já tinham dirigido o Guarani em 2024 quando Allan Aal desembarcou com a missão de elevar o desempenho da equipe.
Allan Aal, técnico do Guarani
Raphael Silvestre/Guarani FC
O clube foi o primeiro a trocar de treinador na Série B, demitindo Claudinei Oliveira na segunda rodada e contratando Júnior Rocha. Foi o recorde de técnicos ao longo da temporada desde 2017, quando o Bugre flertou com o rebaixamento e escapou na última rodada.
Primeiro turno para esquecer
A última troca no comando do Guarani foi justamente na virada para o returno. Aal iniciou sua segunda passagem pelo Brinco de Ouro com derrota por 3 a 1 para o Ceará, fora de casa, no encerramento do primeiro turno, mas começou a segunda parte da competição engatando vitórias contra Vila Nova, Chapecoense, Avaí e Coritiba, além de um empate com o Santos. Essa sequência deu esperança ao torcedor, mas foi interrompida pela derrota para o América-MG.
Mesmo assim, em 18 jogos com Aal como técnico no segundo turno, a equipe venceu seis partidas, empatou três e perdeu nove. Como parâmetro, o Guarani tem oito vitórias em 36 rodadas, ou seja, seis delas com o atual comandante.
Eliel analisa rebaixamento do Guarani
O problema é que o time terminou o primeiro turno com 11 pontos. Foi disparado o pior aproveitamento da competição nos primeiros 19 jogos. Se repetisse o aproveitamento atual do segundo turno, estaria projetado para terminar o campeonato com 47 pontos e livre do descenso.
Desequilíbrio entre os setores
O Guarani conta em seu elenco com o vice-artilheiro da Série B. Caio Dantas conseguiu produzir na competição, marcando 11 gols. Ele está atrás apenas de Erick Pulga, do Ceará, com 13.
O ataque não é o principal problema. A equipe marcou 32 gols até o momento, mesma quantidade do Operário-PR, sétimo colocado na tabela, com 56 pontos, e que ainda tem chances de subir para a Série A nesta reta final.
Atacante Caio Dantas na derrota do Guarani por 4 a 0 para o Sport na Ilha do Retiro
Marlon Costa / Pernambuco Press
Mesmo com o destaque individual de Caio Dantas, os gols não têm sido suficientes para assegurar as vitórias. Acontece que o sistema defensivo é o segundo mais vazado na competição - são 51 gols sofridos, atrás apenas do Ituano, vazado em 59 oportunidades.
O saldo do Guarani é negativo: -19.
Falhas individuais
O lado emocional é preponderante em uma briga contra a zona de rebaixamento. E o Bugre pecou com falhas individuais em momentos decisivos nesta reta final.
No início de outubro, em jogo atrasado da 23ª rodada, o Guarani vencia o Botafogo-SP por 2 a 1 e estava prestes a diminuir consideravelmente a desvantagem para o primeiro time fora da degola, mas sofreu a virada em claras falhas individuais.
Pegorari falha, Guarani leva virada do Botafogo-SP e afunda no Z4 da Série B
O atacante Marcelinho cometeu um pênalti infantil dentro da área para dar a chance do empate ao Pantera, que depois se aproveitou da saída errada de Pegorari nos acréscimos e venceu o jogo por 3 a 2. Mas essas não foram as únicas.
Outros exemplos podem ser citados, como o pênalti de Léo Santos contra o Goiás no primeiro turno, em um contra-ataque após escanteio ofensivo que gerou a derrota no minuto final na 16ª rodada.
A saída errada da defesa que resultou no primeiro gol do América-MG na vitória por 3 a 0, em Belo Horizonte, pela 25ª rodada, e depois o segundo gol do Avaí na derrota por 3 a 2 em Florianópolis.
Contra o Novorizontino, em casa, pela 34ª rodada, o Bugre perdeu de 2 a 0 com dois gols praticamente idênticos em cobranças de escanteio, sendo que um deles foi marcado contra por Matheus Salustiano.
Falhas individuais atrapalharam o Bugre
Diogo Reis/AGIF
O mesmo Salustiano esteve envolvido nos pênaltis que determinaram derrotas para Ituano e Operário-PR, enquanto que na derrota fora de casa para o Goiás, por 1 a 0, na penúltima rodada, o lance do gol começou com uma falha de posicionamento do zagueiro Matheus Mancini.
Viradas no fim do jogo
Além do jogo contra o Botafogo-SP, que o Guarani tomou a virada praticamente no último lance em Ribeirão Preto, o Bugre sofreu do mesmo problema na partida contra o Goiás, ainda no primeiro turno, no Brinco de Ouro.
Na ocasião, o Esmeraldino estava com um jogador a menos desde o primeiro tempo e conseguiu fazer dois gols nos acréscimos - jogo também terminou com derrota bugrina por 3 a 2.
Com um a mais, Guarani sofre gol no fim e perde pro Goiás
Por outro lado, a equipe não teve a mesma mentalidade para conseguir virar partidas em que saiu perdendo. Apenas uma das oito vitórias ocorreu quando o Bugre saiu em desvantagem no placar - diante do CRB, por 2 a 1, no Brinco de Ouro.
Campanha como visitante
Longe do Brinco de Ouro, o Guarani conseguiu apenas oito em 54 possíveis.
Guarani venceu apenas dois jogos como visitante
Marlon Costa/Pernambuco Press
Em números: em 18 jogos fora de casa até agora - restando o último, contra o Brusque, na próxima rodada -, o clube acumulou 14 derrotas, dois empates e apenas duas vitórias - uma delas em Campinas, diante da rival Ponte Preta, por 1 a 0, em duelo da 32ª rodada.
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Diante de tantos erros, dentro e fora de campo, o único desfecho possível - e merecido - para a campanha na Série B era de fato o rebaixamento. São 30 rodadas seguidas na lanterna - 31 no geral - e desde a primeira na degola.
Contra Brusque, neste domingo, fora de casa, em duelo melancólico entre dois times que já caíram, e depois Ceará, candidato ao acesso, no Brinco, o Bugre vai apenas cumprir tabela.