anuncie

Indicada à Bola de Ouro, Gabi Portilho vê gol contra a França como divisor na carreira: "Mudou minha vida"

.

Por Virtual Rondônia em 06/09/2024 às 06:30:13
Atacante do Corinthians é a primeira jogadora a concorrer ao prêmio atuando por um clube da América do Sul Gabi Portilho destaca importância do gol contra a França nas Olimpíadas:"Mudou minha vida"

?Clique aqui para seguir o canal ge Futebol Internacional no WhatsApp

Atacante de muita movimentação e excelente dribladora, Gabi Portilho se notabilizou por criar as jogadas para as companheiras brilharem diante do gol. Até o dia 3 de agosto de 2024. No Stade de la Beaujoire, em Nantes, ela aproveitou uma desatenção da defesa da França, ficou livre na área e mostrou que também sabe ser decisiva: marcou, aos 36 minutos do segundo tempo, o gol que garantiu a primeira vitória na história sobre as francesas e levou a seleção brasileira à semifinal das Olimpíadas de Paris. Um gol que teve um significado especial para Gabi Portilho.

- Esse foi o gol que mudou a minha vida.

Aos 36 min do 2º tempo - Gol do Brasil! Gabi Portilho marca contra a França

Não é exagero. Aos 29 anos, completados no último dia 18 de julho, a atacante brasiliense está entre as 30 jogadoras indicadas à Bola de Ouro Feminina, na sexta edição da prestigiosa premiação da revista France Football. Influência direta das suas atuações nas Olimpíadas. Gabi foi titular em quatro jogos, incluindo os três do mata-mata, e além do jogo com a França marcou também na semifinal, no 4 a 2 sobre a campeã mundial Espanha, quando deu ainda uma assistência para Adriana.

Ela não tem dúvida: o lance decisivo contra a França foi o seu grande momento nos Jogos e seu cartão de visitas no cenário internacional.

- Não foi só o gol que classificou a gente para a semifinal, esse gol tem um contexto, quebrou o tabu de nunca ter ganhado da França. A gente ganhou na casa delas. É o gol mais importante da minha carreira, já que eu não sou uma artilheira, né? Eu faço alguns gols, mas esse foi o gol que mudou a minha vida, que elevou o patamar, inclusive por estar nesta lista (da Bola de Ouro) - afirmou Gabi Portilho em entrevista exclusiva ao ge, no dia seguinte à revelação das finalistas.

Gol de Gabi Portilho em Brasil x França, pelas Olimpíadas

Reuters

A atacante habilidosa começou a se destacar no futsal do Olympia, em Santa Catarina, de onde saiu para, já no campo, ser bicampeã catarinense (2013 e 2014) jogando pelo Kindermann. Nessa época, começou também a defender a seleção brasileira, ainda na base. Disputou os Mundiais Sub-17 (2012) e Sub-20 (2014). Em 2022, veio a primeira convocação para a seleção principal, e também o primeiro título, o da Copa América.

No Corinthians, onde joga desde 2020, virou colecionadora de títulos: já são 15 taças levantadas, com destaque para duas Libertadores (2021 e 2023) e quatro Brasileiros (2020, 2021, 2022 e 2023). O próximo objetivo é o penta nacional: as Brabas enfrentam o Palmeiras domingo, no jogo de volta da semifinal do Brasileiro, após abrir vantagem de 3 a 1 na ida.

A maior conquista, no entanto, veio com uma derrota. Perder a final olímpica para os Estados Unidos doeu, mas não apagou o brilho da campanha.

- Eu acreditava muito no ouro. Não veio, mas essa prata para mim vale ouro. A gente foi na raça, na luta, independentemente de quem estava iniciando. Arthur (Elias, técnico da seleção) sabe muito bem gerir um grupo, em pouco tempo de trabalho ele levou a gente para uma final de Olimpíadas. Eu fico muito feliz de fazer parte dessa história.

Em quase uma hora de conversa, por videoconferência, Gabi Portilho contou como recebeu a notícia da indicação à Bola de Ouro, relembrou a campanha do Brasil nas Olimpíadas e sua caminhada pessoal até o grande momento da carreira, no clube e na seleção.

Gabi Portilho fala do momento em que soube da indicação à Bola de Ouro: "Só sabia chorar"

GE: Como você recebeu a notícia da sua indicação à Bola de Ouro?

Eu estava chegando em casa, estava estacionando o carro na garagem, aí o Fernando, que faz o marketing do Corinthians, me mandou uma mensagem. Eu falei "mentira, é fake news". Eu nem sabia que ia sair alguma coisa, estava por fora. Acho que eu fiquei uns dez minutos no carro. Mandei mensagem para minha mãe, meu pai querendo entender o que era, eu falei para ele: "Nem eu sei explicar".

Quando eu subi para o meu apartamento, eu só sabia chorar. Eu ajoelhei e chorei muito, porque é um feito que eu jamais imaginei viver, estar numa lista entre as 30 melhores do mundo, isso para mim já é uma vitória muito grande. Eu estou muito feliz, ainda estou tentando entender, mas eu só tenho gratidão a Deus mesmo.

GE: Imagino que muito rapidamente você deve ter começado a receber mensagens das jogadores do Corinthians e da Seleção...

- Eu recebi um monte de mensagens. Gente, é verdade, então? Não é fake news. Eu recebi muito carinho das pessoas que realmente torcem por mim, me conhecem no dia a dia. Eu nem sei o que falar, eu fico extremamente emocionada.

Bola de Ouro 2024: Gabi Portilho e Tarciane concorrem no feminino; veja lista

GE: Além de você, a Tarciane também está entre as 30 indicadas, e o Arthur Elias concorre entre os técnicos.

- Eu mandei uma mensagem para o Arthur, agradeci também por tudo. Se eu cheguei onde cheguei, tudo o que eu conquistei, eu devo muito a ele e a comissão dele. A gente tem que reconhecer as pessoas que nos ajudam no caminho. O Arthur me tornou a atleta que eu sou hoje. Ele acreditou em mim. Eu agradeci a ele e também parabenizei, porque ele é um treinador muito diferente. Graças a Deus, tive o prazer de poder trabalhar com ele por muitos anos aqui no Corinthians e agora na Seleção. Ele também é merecedor de tudo isso.

GE: E a Tarciane? Hoje ela está no Houston Dash, mas até pouco tempo vocês jogavam juntas no Corinthians. O que você pode falar sobre o desenvolvimento dela até essa indicação à Bola de Ouro, ainda tão jovem e ainda mais sendo uma defensora?

- Ela é muito nova ainda, e com tudo isso que ela está vivendo, dá para ver até onde ela pode chegar, né? Daqui a alguns anos ela pode inclusive ganhar uma Bola de Ouro, porque ela é uma zagueira diferente. Ela tem muita personalidade. Quando ela jogava aqui, a gente enchia o saco dela, porque é uma menina muito chata, nossa senhora (risos). Mas a gente gosta muito dela. Ela é muito dedicada e gosta de uma briguinha também, né? Ela é uma zagueira diferente, tanto que foi a terceira melhor jogadora do Mundial Sub-20 (em 2022), então isso já mostra a capacidade dela. Ela é merecedora dessa indicação.

Tarciane foi eleita a terceira melhor jogadora da Copa do Mundo Sub-20, em 2022

Thais Magalhães/CBF

GE: Além de duas brasileiras indicadas, essa lista tem algo muito importante: você é a primeira jogadora a concorrer a Bola de Ouro atuando por um time da América do Sul. Antes disso, a única fora do eixo Europa-EUA a ser indicada foi a japonesa Hinata Miyazawa, ano passado, pelo MyNavi Sendai. Esse é também um reconhecimento importante do trabalho que o Corinthians faz há um bom tempo, não?

- A seleção teve seis convocadas do Corinthians. Isso mostra que o Corinthians há muitos anos é referência no futebol brasileiro. São anos ganhando competições, ano passado a gente ganhou os quatro campeonatos que disputou (Libertadores, Brasileiro, Paulista e Supercopa do Brasil). Isso mostra a força do Corinthians, e mostra a força do futebol brasileiro, que vem melhorando ano a ano. A gente está muito longe do que deveria ser, mas a gente está no caminho, eu acredito muito nisso. E estou muito feliz por estar fazendo parte dessa história, isso eleva o patamar do futebol feminino brasileiro. Com a minha indicação, eu represento um clube e represento o futebol brasileiro, isso é o que mais importa.

GE: Jogando no Brasil, é mais difícil ser vista pela comunidade internacional, então é natural que a sua indicação seja fruto da campanha da seleção nas Olimpíadas. Nesse contexto, qual foi a importância do seu gol contra a França para te colocar nessa lista das 30 indicadas à Bola de Ouro?

- Não foi só o gol que classificou a gente para a semifinal, esse gol tem um contexto, quebrou o tabu de nunca ter ganhado da França. A gente ganhou na casa delas. É o gol mais importante da minha carreira, já que eu não sou uma artilheira, né?

Eu faço alguns gols, mas esse foi o gol que mudou a minha vida, que elevou o patamar, inclusive por estar nesta lista (da Bola de Ouro). Às vezes, eu vejo esse gol de novo, eu arrepio, eu tento lembrar o que se passou na minha cabeça na hora. Foi muito emocionante aquele gol.

GE: Aproveitar uma oportunidade dessas, transformar as chances em gol, talvez estivesse faltando isso para a seleção, não?

- Eu acredito muito nos planos de Deus, estava escrito tudo o que a gente viveu nessas Olimpíadas. Eu pelo menos tinha a mentalidade de que a gente ia até a final e que seria medalhista. Eu acreditava muito no ouro. Não veio, mas essa prata para mim vale ouro. A gente foi na raça, na luta, independentemente de quem estava iniciando. Arthur sabe muito bem gerir um grupo, em pouco tempo de trabalho ele levou a gente para uma final de Olimpíadas. Eu fico muito feliz de fazer parte dessa história.

GE: É uma prata que vale ouro, assim como valeram muito as pratas dos Jogos de Atenas-2004 e Pequim-2008. Mas naquele momento, o futebol feminino brasileiro ainda suplicava por apoio. Hoje, mesmo sabendo que muita coisa ainda pode melhorar, o cenário é outro. Essa prata já é resultado de uma estrutura, de um trabalho que já vem sendo feito, não?

Lá atrás, as pioneiras abriram as portas para a gente, né? Se não fosse por elas, talvez a gente não estaria aqui hoje. Elas não tinham nada, faziam por amor, então elas são muito vitoriosas e, com certeza, a prata que elas conquistaram lá atrás valeu ouro, acho que até muito maior do que o nosso hoje, porque elas abriram as portas, abriram as oportunidades para que a nova geração viesse e continuasse brigando pela modalidade.

- Acho que essa prata de agora ela tem que abrir uma porta muito maior, dar mais visibilidade. Quando eu cheguei ao Brasil (após as Olimpíadas), eu pude entender. Tem uma Copa do Mundo daqui a três anos no Brasil, que ela possa abrir muitas oportunidades, mais investimento, mais apoio, e que a gente busque cada vez mais isso, mostrando que a gente tem capacidade, que o Brasil é muito forte no futebol feminino.

GE: Nas Olimpíadas, a seleção brasileira teve duas campanhas distintas, uma primeira fase bem difícil, a classificação suada. Mas depois o time deslanchou no mata-mata. O que mudou?

- Eu acredito muito nos planos de Deus, talvez se não fosse desse jeito, a gente não teria chegado na final. Claro que nosso objetivo não era esse, era passar em primeiro no grupo. Por um vacilo no jogo contra o Japão (o Brasil levou a virada com dois gols nos minutos finais), as coisas mudaram, acabaram ficando mais difíceis. Contra a Espanha, a gente teve a expulsão (da Marta), com uma a menos foi muito mais difícil, nosso objetivo passou a ser não tomar tantos gols. Tudo tem um propósito, isso fez a gente se unir muito mais, se classificando do jeito que foi, bem angustiante.

GE: E como foi acompanhar de fora a classificação, tendo de esperar os outros resultados?

- Depois que saiu a notícia da classificação, acho que mudou tudo ali. A gente estava jantando e comemorou muito, a gente falou que ia ser diferente, porque o mata-mata é outra competição. Você entra mais ligada, aprende com os erros. A gente tinha um grupo muito jovem, muitas disputando a primeira competição, mas parecia que a gente era um time muito experiente. Foi na raça, foi com dor, às vezes não conseguia nem treinar, mas a gente é muito forte.

Marta olha para medalha de prata conquistada em Paris, sua terceira na carreira

Franck Fife/AFP

GE: E como foi jogar pela Marta, sabendo que a expulsão contra a Espanha poderia ter sido sua última imagem em uma competição importante pela seleção?

- A Marta é uma atleta que pensa muito no grupo. Ela comemorou muito a classificação, ela incentivou muito e nos apoiou muito. A Marta é uma atleta diferente, é um exemplo. Ela ficou chateada quando soube que tinha pego dois jogos (de suspensão), mas a gente falou que a carreira dela na seleção não ia terminar dessa forma, a gente queria que ela terminasse dentro de campo, jogando e ajudando como ela sempre fez. E a gente viu a Marta na final, ganhando a medalha de prata e comemorando muito.

Aquela frase que ela disse no passado, que a gente tem que chorar no começo para sorrir no final, me marcou muito, e eu fiquei muito feliz de ver a Marta sorrindo, com a medalha que ela conquistou.

GE: Quem acompanha a seleção feminina, mas não vê tanto os jogos de clubes, pode ter pensado que a Gabi Portilho era mais uma menina chegando em um processo de renovação. Mas você tem 29 anos, mais de dez de carreira, já viveu muitas coisas no futebol. Nesse momento tão especial, o que você pensa quando olha para trás, lá para o início da carreira?

- A gente vai se emocionando, né? Vai passando muita coisa na cabeça, as pessoas que mais acreditaram em mim. A minha família. Eu saí de casa aos 14 anos para buscar o melhor para a minha família, o meu sonho sempre foi esse. Eu não sabia onde ia chegar, o que eu iria conquistar, o que queria era só ajudar a minha família. Saí de casa para ganhar R$ 200, para colocar comida dentro de casa. Joguei futsal por muito tempo, quando cheguei no Olympia, meu primeiro time de campo, nem sabia jogar, só conhecia o futsal. As pessoas acham que ser atleta é fácil, e não é, a gente tem que abdicar de muita coisa. A maior abdicação que eu fiz foi ficar longe da minha família, desde nova, e isso me dói muito, porque eu sou muito apegada a elas. Então, chegar aqui hoje e viver tudo o que eu vivi, tudo valeu a pena.

Olhar para a família e ver o quanto eles estavam orgulhosos, isso é uma outra medalha para mim, essa é a minha medalha de ouro. Valeu muito a pena, tudo o que eu fiz na vida, tudo o que abdiquei, eu tenho vontade de chorar assim.

Gabi Portilho agradece família e profissionais marcantes: "Minha medalha de ouro"

GE: Voltando a falar da Bola de Ouro, qual é a sua expectativa agora para a premiação no dia 28 de outubro? Você vê alguma jogadora favorita ao prêmio?

- Eu já estou extremamente feliz por estar entre as 30, porque isso já é histórico. Uma brasileira, que atua no Brasil, para mim eu já estou feliz, já chorei absurdos por isso, por Deus ter me colocado nesse patamar. Mas a gente tem que ser também realista, é mais difícil estar entre as três (finalistas). Não tem nem como imaginar onde eu vou ficar. Querer a gente quer, né? Pensar na roupa que vai usar, no discurso, mas eu estou de boa, só de estar na lista, é só gratidão a Deus.

GE: E, agora, começa o ciclo até a Copa de 2027, no Brasil, que pode ser a sua primeira Copa do Mundo. Essa indicação à Bola de Ouro te ajuda nessa concorrência forte que tem para o ataque na seleção?

- Eu não acho que essa indicação me faça diferente das outras, acho que todo mundo está num patamar muito alto, é muito disputado, e isso é bom para o futebol brasileiro. O que vai fazer a diferença serão as minhas escolhas, as minhas decisões até lá. Três anos passam muito rápido, então a gente tem que trabalhar, continuar se dedicando. Eu quero muito estar lá, vou trabalhar muito para isso. Eu não vivo de status, tenho que trabalhar porque eu quero merecer estar lá.

Fonte: Ge

Comunicar erro
LANCHE DA JAPA

Comentários

anuncie aqui