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Opinião: coroado Príncipe pelo Rei, Ivair era a Portuguesa encarnada

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Por Virtual Rondônia em 15/08/2024 às 08:49:28
Dentro e fora de campo, Ivair foi um dos ídolos mais presentes e respeitados na história da Lusa; ex-atacante morreu aos 79 anos em decorrência de um câncer A Portuguesa perde uma das suas mais preciosas revelações, um dos seus mais admirados craques, um dos seus maiores ídolos. Ivair, o Príncipe do Futebol, morreu nesta quinta-feira em São Paulo, aos 79 anos, em decorrência de um câncer.

O atacante, que defendeu as cores rubro-verdes por praticamente uma década e nunca mais se afastou do clube, era praticamente a encarnação da Lusa. Era sinônimo dela. Uma espécie de embaixador. Aonde chegava ou passava, a Portuguesa era lembrada.

Foi com o irmão Dito, nas ruas de terra batida da favela da Vila Espanhola, na Zona Norte de São Paulo, que aprendeu a jogar futebol ainda criança. E foi batendo bola durante o trabalho, em um estacionamento, que o patrão, diretor da Lusa, viu ali futuro.

Chegou ao Canindé – na época o estádio da Ilha da Madeira –moleque de tudo. Logo o Gibi, apelido da criança fanática pelas revistas do Tarzan, virou o Sabiá. O novo apelido foi dado pelo zagueiro Ditão, um dos professores de Ivair junto com Ipojucan, Nena, Hermínio, Djalma Santos, Servílio e tantos outros craques da Lusa daquela época.

Ivair, ídolo da Portuguesa

Cristiano Fukuyama / Acervo da Lusa

Sabiá porque era franzino e só dava para ver as pernas fininhas saindo debaixo de uma camisa sempre grande, folgada, enorme para o biotipo dele. Foi campeão paulista de juvenis e subiu ainda moleque pro profissional.

Estreou no time principal em 1962, aos 17 anos, em um empate com a Prudentina na Rua Javari. Ivair marcou o gol da Lusa naquele 1 a 1. Um golaço de cabeça. Desmaiou logo na sequência. O lendário massagista Mário Américo disse que era a emoção da estreia. Mas o Sabiá sempre contou que, na verdade, foi a pancada da bola de capotão.

Dali em diante o Sabiá deslanchou. Virou algoz número um do Palmeiras. Como fazia gol na equipe alviverde! O goleiro Valdir Joaquim de Moraes não podia ver Ivair nem de longe. Mesmo porque até gol do meio de campo, no Pacaembu, ele fez.

Ivair, ídolo da Portuguesa

Cristiano Fukuyama / Acervo da Lusa

Como todo gênio da bola, adorava jogo grande. E foi num deles, um clássico contra o Santos, em 1963, que marcou dois dos três gols de uma vitória da Lusa por 3 a 2. Na saída do gramado do Pacaembu, Pelé foi perguntado sobre a atuação de Ivair.

Foi quando Pelé respondeu: "se eu sou o Rei, esse aqui é o Príncipe".

O futebol brasileiro teve muitos príncipes, mas só um coroado pelo próprio Rei. O Príncipe só não foi campeão paulista em 1964 por causa do árbitro Armando Marques. E só não foi para a Copa do Mundo de 1966 porque aquela preparação brasileira foi uma bagunça.

Ainda deu tempo de formar uma linha de ataque histórica na Portuguesa, o inesquecível "Ataque Iê Iê Iê", em meio ao sucesso da Jovem Guarda: Ratinho, Leivinha, Ivair, Paes e Rodrigues. A venda milionária de Ivair ao Corinthians, em 1969, permitiu à Portuguesa dar início às obras do atual estádio do Canindé, de concreto.

Ivair ainda jogou no Corinthians, no Fluminense, no América-RJ, no Paysandu e foi um dos brasileiros pioneiros no futebol dos Estados Unidos, na mesma época de Pelé, quando atuou ao lado de Eusébio e contra Cruyff, assim como no futebol do Canadá.

Só que nada disso mudou o que seria eterno: o Ivair da Portuguesa. Foi técnico da base rubro-verde e, pelas mãos dele, passou a geração de Tico, Dener, Sinval e Pereira.

Ivair, ídolo da Portuguesa

Cristiano Fukuyama / Acervo da Lusa

Mesmo depois de aposentado, Ivair jamais abandonou a Lusa. Esteve lá como torcedor nos melhores e piores momentos. Em acessos e em rebaixamentos. Foi homenageado neste ano, na Copa Paulista, pelo clube. Sempre foi comum vê-lo no Canindé.

Conheci Ivair em 2014, época em que ele descobriu o câncer. Eu e meu amigo Cristiano Fukuyama produzimos, durante a recuperação dele, o documentário "Ivair – O Príncipe do Futebol". Estreia com teatro lotado, lançamento de camisa retrô, abraço da torcida.

Convivemos com o Ivair bravo, rabugento e corneta. Gargalhamos muitas vezes com os comentários hilários dele assistindo aos jogos. Chegamos a nos emocionar ao ver as lágrimas e a revolta dele ao presenciar a derrocada do clube.

Os médicos disseram que ele nunca mais andaria. E vimos Ivair contrariar todos os prognósticos, voltar a ficar de pé, voltar a andar, viver mais de 10 anos. Do jeito que sempre gostou: ao lado da Portuguesa. Merecia um busto, uma estátua, um monumento.

Todos estamos de luto. Não veremos mais o sorriso do menino Gibi, não ouviremos mais as sacadas hilárias do garoto Sabiá, nem presenciaremos mais aquela aura digna de um Príncipe. Talvez nunca mais encontremos alguém que tão bem nos represente, tão bem nos orgulhe, tão bem nos ensine a amar e a viver a Portuguesa.

E talvez nem precisemos.

Afinal, assim como Príncipe do Futebol, Ivair só houve um.

E Ivair, assim como a Lusa, para nós é eterno.

*Luiz Nascimento, 32, é jornalista da rádio CBN, documentarista do Acervo da Bola e escreve sobre a Portuguesa há 14 anos, sendo a maior parte deles no ge. As opiniões aqui contidas não necessariamente refletem as do site.

Fonte: Ge

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