anuncie

De sushiman em Brasília a lavador de carros na Croácia, brasileiro vira herói de título na Eslovênia

.

Por Virtual Rondônia em 01/07/2024 às 06:17:42
Thalisson era motoboy quando recebeu ligação para jogar na 6ª divisão croata. Mudou-se para a Eslovênia, foi contratado por um dos grandes clubes do país e fica na torcida pela seleção na Euro Veja o gol de Thalisson na final da Copa da Eslovênia

A Eslovênia já fez história nesta edição da Eurocopa ao conseguir uma inédita classificação para as oitavas de final. Nesta segunda-feira, às 16h (de Brasília), o confronto será com Portugal, de Cristiano Ronaldo, por uma vaga nas quartas de final. Um brasileiro estará na torcida pela seleção eslovena: Thalisson, de 25 anos, contratado recentemente como reforço do Olimpija Ljubljana, um dos principais clubes do país.

+ Veja mais notícias de futebol internacional

Não será a primeira experiência de Thalisson na Eslovênia. Desde agosto de 2021, ele vinha atuando pelo Rogaska e terminou sua passagem pelo clube marcando o gol do time na final da Copa da Eslovênia de 2023. O jogo foi para a prorrogação e terminou 1 a 1 com o Gorica, depois de um 0 a 0 no tempo normal, e a conquista do título aconteceu com uma vitória por 6 a 5 nas cobranças de pênaltis.

+ Do jiu-jítsu ao futebol no Newcastle: conheça o filho de brasileiros no radar da seleção da Inglaterra

Thalisson lembra ano parado em que quase desistiu do futebol

Para chegar a esse ponto de sua carreira, Thalisson viveu uma série de experiências e desafios. Ele iniciou sua trajetória no futebol em uma escolinha do Cruzeiro-DF em Brasília. De lá, foi para as categorias de base do Vila Nova-GO. No entanto, deixou o clube depois de uma sequência de atrasos nos salários e pensou em desistir do futebol.

+ Filho de Seedorf, Denzel escreve sua história na base do Milan e espera defender o Brasil no futuro

- Fiquei um ano sem jogar. Não aguentava ver bola, não queria brincar com meus amigos. Fiquei quatro ou cinco meses em casa, tentando pensar no que iria fazer, depois outros seis meses desempregado. Foi a pior fase da minha vida. Minha mãe não entendia, também era o sonho dela. Meu pai dizia que a escolha era minha. Quando arrumei emprego, o Jaime (Corso, presidente do Legião-DF) veio falar comigo sobre voltar ao futebol. Falei que tinha que alinhar porque precisava ajudar minha família, e foi assim que aconteceu - contou Thalisson, em entrevista ao ge.

+ Filho de ex-craque do futsal e camisa 10 da Roma: conheça Pietro, promessa dividida entre Itália e Brasil

Thalisson, brasileiro do Olimpija Ljubljana

Infoesporte

Nessa dupla jornada, Thalisson trabalhou como sushiman, lavando louças e de motoboy. O Legião não pagava salário. Pelo clube, ele teve a oportunidade de disputar a Copa São Paulo em 2019, quando atuou em quatro jogos, chegando à primeira fase eliminatória, caindo contra o Athletico-PR.

+ Com 101 gols nos últimos 56 jogos, Giovanna Waksman, ex-Botafogo, tem meta nos EUA: "Ser a melhor do mundo"

- Eu entreguei currículo, precisava do emprego. Em duas semanas, eu já sabia fazer tudo (como sushiman). Mas Deus sempre colocou o futebol perto de mim. Eles me despediram por nada. No Outback, depois de dois meses sendo um dos melhores, o gerente via que eu chegava 10 ou 15 minutos atrasado por causa do futebol e me mandou embora, mandou eu focar no meu sonho. Fiquei em choque na hora e só depois fui entender que são os planos de Deus colocando o futebol no meu caminho - disse.

+ Brasileira é destaque de time sub-12 feminino campeão em torneio masculino na Inglaterra

Thalisson conta experiências como sushiman e lavador de pratos

E foi trabalhando na rua como motoboy que ele recebeu o telefonema mais importante de sua vida até então.

+ Veja a tabela da Eurocopa

- Eu estava em uma entrega de motoboy à noite, o Jaime me ligou: "Coala (apelido de Thalisson), apareceu uma oportunidade para jogar na Croácia. Lá é frio, tem algumas situações, e o único jogador que vai lá e vai vencer é você, porque você é guerreiro". Ele sabia da minha história. Agarrei, não poderia deixar passar - afirmou Thalisson.

Mas os perrengues não acabaram. Contratado para atuar na sexta divisão da Croácia, pelo Sloboda Varazdin, Thalisson precisou se virar. O clube pagava o apartamento que o jogador divida com Alessandro, outro brasileiro companheiro de time, e uma ajuda de custo para compras de mercado. Ele arrumou emprego em uma oficina e foi lavar carros para complementar sua renda.

- O estádio lá é grande, pois é um time de segunda divisão que foi parar na sexta por má gestão. Cheguei sem saber inglês, sem saber nada, foi na raça mesmo, fiz amigos croatas que traduziam tudo no telefone. Eles treinavam só duas ou três vezes na semana, mas o estádio ficava aberto, e eu treinava todo dia. Eu entrava na oficina às oito da manhã e saía às três da tarde, de segunda a sexta. Quando tinha treino, começava às seis, era puxado, ficava o dia todo de pé lavando carro, mas era o que eu queria para minha vida. Abracei e fui forte mentalmente - explicou.

Thalisson explica dificuldade na sexta divisão da Croácia

A proximidade dos países da antiga Iugoslávia fez com que Thalisson fosse notado pelo Rogaska. Ele chegou quando o clube ainda estava na segunda divisão da Eslovênia. Em 2021/22, ficaram na quarta colocação. Na temporada seguinte, conquistaram o título da segundona e subiram para a elite nacional. Em 2024, não só evitaram a queda, como terminaram campeões da Copa da Eslovênia, que conta com a participação de todos os clubes do país.

- Fiz gols nas oitavas de final, nas quartas e na final. Foi maravilhoso, sinto isso como felicidade dentro de mim - contou.

- Mas a festa grande mesmo foi no título da segunda divisão. Ninguém esperava. A gente vinha da terceira, uma temporada ficou em quarto, depois campeão e vai para primeira. Tem vídeo da gente chegando com bombeiro, cinco mil pessoas esperando, toda a cidade no estádio. Fizemos história. Onde caminho na cidade, tem criança querendo foto, como fosse um ídolo, coisa do futebol que só o trabalho duro devolve. É gratificante demais.

Thalisson com a taça de campeão da Copa da Eslovênia

Luka Sket/Rogaska

Essa relação com a Eslovênia se tornou ainda mais intensa quando Thalisson conheceu a namorada Nika, que é eslovena, fala espanhol e está aprendendo português. No fim do ano, ele espera viajar para o Brasil de férias para apresentar sua família (os pais Charles e Juliane, e as irmãs Jhully, Thyelen e Maria Clara) que mora em Brasília.

- Meu pai é mestre de obra, minha mãe é dona de casa. Não sobrava muito dinheiro para o futebol, mas meu pai fazia o que podia para me ajudar. Eu entendo. As coisas no Brasil são bem mais difíceis. Meu grande sonho no futebol é dar uma casa para a minha mãe e, no próximo mês, poderei fazer isso. O que vier para mim é lucro. O que me dava força para passar por tudo que passei era ajudar minha família - afirmou o jogador, que é de Montes Claros, mas viu o pai se mudar para Brasília em busca de melhores condições de trabalho quando ainda era criança.

Antes de levar a namorada para conhecer o Brasil, Thalisson estará na torcida pela Eslovênia. Ele entende que a boa campanha da seleção na Eurocopa pode beneficiar o futebol no país.

- Fico feliz pela minha namorada, pela família dela. Todos eles são torcedores fanáticos. É bom para o futebol esloveno. Mostra que também tem um pouco de qualidade. Faz tempo que eles não vão e agora conseguem se classificar. Isso é bem legal. Como jogador, isso é bom para mim e para os meus amigos eslovenos - comentou.

Thalisson detalha seu período na Croácia e mudança para a Eslovênia

Camisa 10 da Eslovênia, Elsnik também é jogador do Olimpija e será companheiro de Thalisson nesta temporada, a não ser que seja negociado na janela de transferências depois da Eurocopa. O brasileiro já teve a chance de enfrentá-lo no campeonato esloveno.

- Nunca tive contato com ele, só quando joguei contra ele. Quando eu cheguei, ele já estava com a seleção. Ele está no grupo, ontem teve mensagem lá do diretor para ele, é bem legal. Eles me botaram para sentar ao lado dele no vestiário. Tem a foto dele, isso é uma inspiração a mais, de poder fazer história, poder jogar bem para seguir, fazer uma boa transferência - disse Thalisson.

O Olimpija vai disputar a Conference League na próxima temporada. O time entra em campo pela segunda fase eliminatória no dia 25 de julho, contra o Polissya Zhytomyr, da Ucrânia. Por enquanto, Thalisson atuou no segundo tempo da vitória por 2 a 0 sobre o Gloria Buzau, da Romênia, na quarta-feira passada, e volta a campo para mais um amistoso contra o Sarajevo, da Bósnia Herzegovina, na quarta-feira.

Thalisson no começo de sua jornada no Cruzeiro-DF

Arquivo pessoal

Fonte: Ge

Comunicar erro
LANCHE DA JAPA

Comentários

anuncie aqui