Visto como modelo a ser seguido pela hegemonia recente, clube bávaro se complica e mostra que má gestão pode levar a maus resultados em qualquer cenário O mundo do futebol se prepara para ver, daqui a poucos meses, chegar ao fim a maior hegemonia da história das grandes ligas europeias: o Bayern de Munique, depois de 11 títulos nacionais seguidos, está perto de perder o trono na Alemanha. A previsão pode parecer precipitada, a 12 rodadas do fim da Bundesliga 2023/24, mas o que indica que o troféu terá um destino diferente de Munique não é apenas a campanha histórica do Bayer Leverkusen, líder com oito pontos de vantagem, mas também a crise na qual o Bayern mergulhou desde a temporada passada.
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Visto como um dos grandes modelos de gestão de futebol neste século, o Bayern nos últimos anos foi sinônimo de regularidade. Um clube capaz de brigar pelos melhores jogadores do mundo, de contratar sem dificuldade os principais nomes de seus rivais na Alemanha e de conquistar a duríssima Liga dos Campeões mais de uma nos últimos 15 anos - feito só alcançado por Real Madrid, Barcelona e Chelsea. Uma locomotiva que, aparentemente, seria impossível sair dos trilhos. Mas saiu.
É difícil pontuar onde os problemas internos começaram. Mas o momento em que o mundo notou que havia algo diferente no tão profissional Bayern foi a demissão de Julian Nagelsmann no meio da temporada passada. Escolhido a dedo como grande promessa do futebol alemão para substituir o vitorioso Hansi Flick, o jovem técnico durou menos de dois anos em Munique e saiu de forma surpreendente, além de misteriosa.
Demissão de Nagelsmann e contratação de Tuchel tornou crise do Bayern pública
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Após uma derrota que tirou o Bayern da liderança da Bundesliga passada, ele foi demitido, em meio a uma pausa para Data Fifa - e pouco depois de classificar seu time para as quartas de final da Champions, com 100% de aproveitamento no torneio. A lista de motivos trazia uma crise de relacionamento, mas também a sombra pesadíssima de Thomas Tuchel. O fato é que o ex-técnico do Chelsea foi anunciado como novo treinador em Munique apenas um dia depois da oficialização da saída de Nagelsmann.
O decisão ousada, que parecia ser o aproveitamento de uma oportunidade "imperdível" no mercado, se mostrou equivocada. Com Tuchel, o Bayern caiu na Champions - apesar de ter cruzado com o futuro campeão Manchester City - e quase perdeu o título alemão para um irregular Borussia Dortmund. No fim das contas, foi campeão graças a um vexame dos aurinegros na rodada final.
Em um clima quase constrangedor, os mandatários aproveitaram para fazer uma limpeza na diretoria: menos de duas horas depois de conquistar o título em campo, anunciou as saídas do CEO Oliver Kahn e do diretor esportivo Hasan Salihamidzic - ambos ex-jogadores do clube. Depois, o presidente de honra Uli Hoeness viria a revelar que precisou entrar em ação com Karl-Heinz Rummenigge para uma espécie de "choque de ordem" no clube. E não escondeu que considerou um erro a demissão de Nagelsmann. Hoeness afirmou que só deixaria as funções práticas quando o Bayern estivesse "navegando em linha reta novamente" - e isso parece estar longe de acontecer.
Oliver Kahn foi sacado do posto de CEO ao fim da temporada passada
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Não só as atuações irregulares ligam o alerta, mas o clima fora de campo. Um exemplo é a declaração pública de Thomas Müller contra o elenco no qual é um dos mais experientes. Logo depois da decisiva derrota para o Leverkusen, há duas semanas , ele disse que faltava coragem aos jogadores. A polêmica mais recente veio depois de nova derrota para o Bochum, no fim de semana, quando Thomas Tüchel teria criticado o nível dos jogadores no vestiário.
É neste cenário, com Tuchel sob forte pressão e enfrentando críticas de diversos setores, que o Bayern entrará na reta final de uma temporada que pode terminar sem títulos pela primeira vez em 12 anos, desde a temporada 2008/09. O time bávaro foi goleado na Supercopa da Alemanha, na estreia de Harry Kane, e caiu na segunda rodada da Copa do país, diante do Sarrebruck, da terceira divisão nacional. Assim, as esperanças ficam por conta da Bundesliga - com o cenário complicado de oito pontos de desvantagem - e da Champions League, onde o Bayern saiu em desvantagem no confronto de oitavas de final, perdendo para a Lazio por 1 a 0, no jogo de ida.
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A imprensa alemã já se divide entre os que apontam que a demissão de Tuchel é uma possibilidade imediata e outros que destacam que a mudança no comando só viria ao fim da temporada. A chance de um interino chegar existe, e Ole Günnar Solkjaer, ex-United, estaria cotado. Para a próxima temporada, o nome dos sonhos seria Xabi Alonso. Seja lá quem for contratado, a certeza é que a calmaria de outrora não existe mais em Munique. Para quem se acostumou com a "obrigação" de ser campeão, a temporada pode terminar como um desastre completo.