Adversária é a de pior classificação no ranking da Fifa nos últimos seis anos; contra o Japão, time de Arthur Elias encontrou dificuldades A primeira goleada da seleção brasileira feminina sob o comando de Arthur Elias - 4 a 0 sobre a Nicarágua - pode servir para melhorar a confiança do grupo, dar experiência às mais jovens e até trazer alguma tranquilidade após os difíceis jogos contra o Japão. Como análise técnica e tática, porém, é difícil tirar muito proveito de uma partida contra uma rival tão pouco expressiva no cenário internacional.
Brasil 4 x 0 Nicarágua | Melhores momentos | Amistoso Internacional
Número 113 do último ranking da Fifa, divulgado em agosto, a seleção da Nicarágua foi a adversária de pior classificação que o Brasil enfrentou nos últimos seis anos. Para encontrar rival tão mal ranqueada, é preciso voltar a abril de 2017, quando a seleção goleou por 6 a 0 a Bolívia, que sequer aparecia no sistema de pontuação da Fifa da época.
Para efeito de comparação, nos quatro anos sob o comando de Pia Sundhage, a seleção de menor ranking que o Brasil enfrentou foi a Zâmbia, então a número 104 da Fifa, nos Jogos Olímpicos de Tóquio, em julho de 2021 - um confronto determinado pelo sorteio dos grupos, não por escolha. Foi o único jogo contra uma equipe fora do top-100 da Fifa durante a gestão da treinadora sueca.
Marta, em dividida com a goleira Lorena, no amistoso entre Brasil e Nicarágua, em Araraquara
CBF
Dentro da análise possível diante da fragilidade da seleção nicaraguense, quem soube aproveitar a chance nesta quarta-feira foi Aline Milene, que entrou no segundo tempo e fechou a goleada. Voltando à seleção após três anos, a meia do São Paulo marcou seu segundo gol pelo Brasil - o primeiro tinha sido justamente na estreia, na Copa América de 2018.
E vale destacar o gol de Marta. A maior artilheira do Brasil, agora com 123 gols, devia estar com saudade de balançar as redes com a bola rolando, o que não acontecia, por clube e seleção, desde setembro de 2021 - os oito gols seguintes foram de falta (um) e pênalti (sete). E a Nicarágua entra para a lista de vítimas da camisa 10, que acumula vitórias sobre 44 seleções em 20 anos defendendo o Brasil.
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Jogos contra o Japão expõem dificuldades
Em um jogo que exigiu tão pouco da seleção, o mérito de Arthur Elias foi entender tamanha disparidade e aproveitar o amistoso em Araraquara para dar oportunidades a jovens como a goleira Camila Rodrigues, Eudimilla e Priscila. O treinador observou Júlia Bianchi pela direita na linha defensiva e fez outras adaptações táticas, mas não dá para tirar conclusões de um teste que foi praticamente um jogo de ataque contra defesa.
As análises "para valer" vêm dos dois amistosos anteriores, ambos contra o Japão: uma vitória suada por 4 a 3 e uma derrota por 2 a 0 diante de uma das seleções mais fortes da atualidade, eliminada nas quartas de final da Copa do Mundo e oitava colocada no atual ranking da Fifa, um posto acima do Brasil.
A última Data Fifa de 2023 deixa no ar mais interrogações do que caminhos consolidados, a sete meses dos Jogos Olímpicos de Paris. Disposto a dissociar totalmente seu trabalho da antecessora, Arthur prometeu uma seleção muito ofensiva, resgatando uma "alegria de jogar" que o treinador entende ter sido abandonada na era Pia Sundhage.
Brasil volta a campo em fevereiro, na Copa Ouro
Para isso, Arthur não tem economizado em jogadoras de estilo ofensivo nas escalações. Testou outras formações e avaliou jogadoras em diferentes funções. No entanto, nos jogos contra o Japão, o Brasil sentiu falta de equilíbrio tático. O meio-campo não funcionou nas duas partidas, mesmo com trocas de formação entre os amistosos. E a organização defensiva, inegavelmente um legado positivo deixado pela treinadora sueca, parece ter regredido na mudança de comando.
Arthur Elias justifica testes em amistoso: "Estou preocupado com a evolução da seleção"
Em seis anos vitoriosos à frente do Corinthians, Arthur Elias construiu um modelo de jogo marcado por muita variação tática, até mesmo durante os 90 minutos. Já avisou, ao assumir a seleção, que não quer ficar preso a sistemas táticos pré-definidos.
Pode ser interessante ver um carrossel brasileiro recolocando o país na briga por lugares de destaque nas competições internacionais, como já aconteceu em um passado distante. Mas seleção não é clube. O treino diário e os jogos semanais são fundamentais para assimilação de qualquer sistema tático, mais ainda quando se aposta em adaptações e variações de esquema.
A Copa Ouro da Concacaf, em fevereiro de 2024, próximo compromisso da seleção brasileira, será uma ótima oportunidade para o treinador começar a dar forma à seleção para os Jogos de Paris. Dessa última Data Fifa de 2023, ficou apenas a certeza de que ainda há muito trabalho à frente na reconstrução da seleção feminina.