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Os conceitos táticos que explicam a primeira fase perfeita do Palmeiras na Libertadores

Por Virtual Rondônia em 25/05/2022 às 09:36:14
Abel Ferreira evoluiu o time com uma nova função para Dudu e Zé Rafael e aprimorou a forma de construir jogadas no ataque. Entenda na análise. Um time que faz história no Brasil. É a definição do Palmeiras de Abel Ferreira, que após a goleada no Deportivo Táchira, por 4 a 1, novamente bateu recordes e consolidou a melhor campanha da primeira fase na história do atual formado na Libertadores.

Antes, apenas quatro times tinham conseguido seis vitórias, desde que a Libertadores passou a ter seis jogos na primeira fase: Vasco em 2001, Santos em 2007 e o Boca Juniors em 2015. Só que nenhuma delas tinha feito os atuais 25 gols do Palmeiras.

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Abel Ferreira em Palmeiras x Deportivo Táchira

Marcos Ribolli

Os dados encerram um debate que nunca fez sentido: que o Palmeiras é defensivo e Abel é retranqueiro. Desde a final da temporada passada, Abel Ferreira vem aperfeiçoando ideias e conceitos que já coloca no time para evoluir as jogadas trabalhadas com a posse de bola, no ataque. Pode-se dizer que as 28 vitórias após a equipe vencer a segunda Libertadores consecutiva vieram com um futebol propositivo e um volume de jogo que espanta adversários.

Vamos entender quais são os conceitos que Abel aperfeiçoou ou colocou no time nesse novo momento do Palmeiras.

Construção de três ganha variações, dinâmicas e coloca o time para frente

No livro "Cabeça Fria, Coração Quente", Abel Ferreira e sua comissão técnica explicam que uma ideia tática que irá acompanhar sempre o trabalho no Palmeiras é a chamada "construção com três": ter sempre uma linha de três jogadores na frente de Weverton.

A novidade é que Abel vem variando quem executa essa linha. Jorge, por exemplo, participou da construção junto a Gómez e Kuscevic contra o Emelec. Já contra o Táchira, foi Marcos Rocha, junto de Murilo e Gómez. Mayke fez a função de Rocha no Equador, e variou durante o jogo nos 8 a 1 contra o Petrolero no Allianz.

A construção com três jogadores do Palmeiras acontece cada vez mais à frente. Esses três vão tocando, circulando e se movimentando para frente. Assim, a dupla de volantes não joga de área a área, mas sim vai se afunilando junto com Veiga ou Atuesta. O benefício disso é um povoamento maior da entrelinha, o espaço vazio deixado pelo adversário. Veja um exemplo: aqui, Rony e Atuesta estão próximos de Danilo e Menino.

A construção de três do Palmeiras, contra o Emelec

Reprodução

Já aqui, Zé Rafael se junta à Rony e Navarro. Com Scarpa por ali, o Palmeiras tem quatro jogadores num setor livre, vazio, onde podem receber a bola e se movimentar. Se você pensar que a linha de defesa dos adversários costuma ter 4 jogadores, então é uma situação de igualdade numérica logo quando o Palmeiras inicia a jogada. Isso torna o time ofensivo. Cria volume porque faz a bola estar perto do gol.

Zé Rafael vem jogando mais avançado em 2022

Reprodução

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Mais cruzamentos e Zé Rafael em outra função

O crescimento do Palmeiras em 2022 está muito relacionado a Zé Rafael. Meia ofensivo quando chegou, foi puxado para ser volante por Luxemburgo e cresceu demais com Abel. Mas nesse ano, ele vem jogando muito mais à frente, seja com Danilo, Jaílson e agora Menino como dupla. Ao avançar e atacar um espaço vazio, Zé ajuda o time a povoar a entrelinha, o que cria espaço para Scarpa ou Dudu. Além disso, aproveita rebotes, como no gol contra o São Paulo, na final do Paulista.

Além de Zé, o Palmeiras melhorou seus cruzamentos com mais gente à frente.Tudo se conecta! Se tem mais jogadores na entrelinha, quando a bola chega num dos jogadores abertos, eles correm para a área. E aí o Palmeiras consegue povoar essa área com quatro, até cinco jogadores prontos para fazer um gol de cabeça (como os muitos de Navarro, o de Danilo contra o Emelec).

Também mudou a forma de impedir que cruzamentos virem contra-ataques. Issso porque Danilo, Scarpa ou Zé fazem essa cobertura do rebote. Um fica mais atrás, pronto para recuperar e anular qualquer investida. Veja no exemplo.

Preenchimento de área: Palmeiras tornou cruzamentos muito perigosos na Libertadores

Reprodução

Mesmo nos jogos que não conseguimos fazer metade do que criamos, continuamos a acreditar que é possível, a verdade que na Libertadores temos sendo muito efetivos. Na minha opinião, no Brasileirão não temos mandado tantas bolas no gol, mas isso se resolve com trabalho, acreditando nos jogadores, continuar com essa intensidade, Hoje não abaixamos nossa intensidade e deixamos de querer fazer mais gols, e isso é o Palmeiras. Temos nossa identidade.

Amplitude e abertura de espaço: a nova função tática de Dudu

Jogador que se tranformou em seus muitos anos de Palmeiras, Dudu virou um ponta direito, função exercida apenas no Grêmio, com Felipão em 2015, com Abel. E há um motivo: Dudu é o jogador que dá amplitude para a equipe e ajuda a criar espaço pelo lado direito, seja para a equipe ou para ele mesmo.

Amplitude vem de ampliar. Abrir o campo. É um dos recursos mais importantes do futebol a nível mundial nos últimos 20 anos (mas não é obrigatório, vale lembrar). A ideia é simples: criar dúvida noo adversário com dois jogadores sempre bem abertos, colados na linha de fundo. Quando eles recebem a bola, o adversário precisa marcar com o lateral daquele lado. Ou até o lateral e o volante, como acontece aqui.

Aí falta gente em outro setor: aquele espaço na entrada da área, justamente onde Scarpa, Veiga e Zé Rafael vem jogando. Dudu se destaca fazendo essa função porque toma boas decisões: sabe o momento de passar para frente, prender ou tocar. E porque seu talento casa com o espaço ocupado: ele muitas vezes conduz, puxa para frente, dribla e ajuda a quebrar a defesa rival.

Dudu puxa a marcação e abre espaço para as entradas de Scarpa e Zé Rafael

Reprodução

Veja outro exemplo no qual Dudu abre dez metros de campo só de receber a bola, atrair um adversário. Vale lembrar que o jogo é dinâmico. Trocas acontecem. No lance do segundo gol, Dudu troca com Scarpa, que faz o cruzamento. Scarpa tentou esse lance várias vezes...o cruzamento venenoso que ele olha pra frente, depois abaixa a cabeça, ajusta o pé e levanta só sai porque o Dudu, aberto, abre espaço pro Scarpa ter TEMPO e ESPAÇO pra pensar no gesto técnico.

Técnica e tática se conversam o tempo todo e jamais podem ser analisadas separadamente!

Dudu abrindo espaço para o time

Reprrodução

Menos exposição no contra-ataque

Um time que se lança ao ataque como o Palmeiras não fica exposto ao contra-ataque? A resposta está na forma como a equipe se organiza. Lembra que a saída de três é super dinâmica? Pois ela se movimenta no ataque para garantir que o adversário esteja sempre bem vigiado. Isso mesmo: quando Dudu tenta algo e seu olho está colado na bola, o pelotão de trás se organiza para ter sempre Gómez na sobra e os dois de lado marcando um adversário.

Veja no exemplo. A bola viaja para o Emelec. Antes disso, Kuscevic se movimentou para frente, para marcar o centroavante, e Jorge fechou o lado, para aproximar a saída de três. Gómez sequer aparece, porque fica lá atrás. Se algo der errado, ele faz a sobra. Esse movimento se chama balanço defensivo e explica se um time está organizado ou não para se defender de possíveis investidas.

Gómez não aparece porque faz a sobra, Jorge fecha e Kuscevic anula

Reprodução

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O que explica o sucesso dessa primeira fase não é o nível dos adversários, mas sim a execução das ideias propostas por Abel. Os movimentos de cada jogador nas diferentes fases do jogo. Todos os conceitos que você leu serão colocados à prova a partir das oitavas, contra adversários que irão testar a capacidade de ataque e de organização lá atrás.

Desafios maiores que elevam um time que já fez história e está entre os maiores da história no futebol brasileiro. Se faltava o futebol que encantava e amassava adversários, não falta mais.

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Fonte: Ge

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