Convocado para amistoso contra Marrocos, lateral-direito entende que perdeu espaço em 2022 após expulsão, mas se vê mais preparado e à frente de concorrentes em início de novo ciclo Émerson Royal começou 2022 bem cotado na disputa por uma das vagas na lateral direita da Seleção na Copa do Mundo. Presente em cinco das últimas seis convocações até aquele momento, o jogador foi escolhido para ser titular na primeira partida do ano, entre Brasil e Equador, pelas Eliminatórias, em 27 de janeiro, deixando o veterano Daniel Alves na reserva.
Porém, bastaram 19 minutos em campo para as coisas mudarem radicalmente de figura. Expulso logo no início daquele jogo, Émerson Royal nunca mais foi chamado pelo técnico Tite e assistiu ao Mundial do Catar pela TV.
– Não digo (que fui) injustiçado, obviamente todo mundo quer estar na Seleção. Respeito a escolha do professor. Mas, obviamente, me preparei muito bem e acredito que, sim, em alguns momentos merecia ter tido algumas oportunidades a mais – afirmou o jogador, em entrevista ao ge.
Emerson Royal comemora retorno à Seleção e fala sobre ausência na Copa: "Tive esperança"
Agora, no entanto, um novo ciclo começa para Emerson e a seleção brasileira. Aos 24 anos e no aguardo de seu primeiro filho, o lateral foi convocado pelo técnico interino Ramon Menezes para o amistoso contra Marrocos, sábado, às 19h (de Brasília). Na visão de Royal, é hora de agarrar a chance e não soltar mais.
– O Brasil tem muitos jogadores nessa posição com muita qualidade. Mas acredito que vivo um momento muito bom, numa das principais ligas, acredito que estou um passo à frente pois estou me destacando numa liga como a Premier, que sabemos a dificuldade que tem, cada jogo aqui é como uma final.
– Estou um passo (à frente), já tive passagens pela Seleção, conheço mais, venho vivendo um bom momento e acredito que esse é o meu momento de me firmar na Seleção.
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Emerson Royal está de volta à seleção brasileira após mais de um ano
Lucas Figueiredo / CBF
Nessa entrevista ao ge, Emerson Royal fala sobre o momento da carreira, as diferenças táticas do Tottenham para a Seleção, a carência de laterais-direitos no Brasil e até a disputa entre ele e Richarlison para saber quem fala inglês melhor. Confira!
Como foi receber a notícia de que estava de volta à Seleção? Já estava esperando a convocação?
– Eu fiquei sabendo dois dias antes que teria a convocação. Venho fazendo ótimo trabalho, estava com muita esperança de ir, ter essa oportunidade de novo de vestir a camisa da Seleção. Estava no clube, tinha acabado de sair do treino. Eu fui e falei: vou tomar banho. Mas estava no horário. Falei: ou eu tomo banho rápido ou espero a convocação, porque a gente ia viajar. Fui correndo, quando estava tomando banho o Richarlison chegou gritando: “Cadê o Royal, cadê o Royal?” Saí correndo, ele falou “mano, você foi convocado”. Peguei o telefone e estava passando a convocação. Foi assim (que fiquei sabendo), com o Richarlison gritando no vestiário que eu tinha sido convocado.
Logo após o anúncio da lista do Ramon, sua assessoria de imprensa divulgou algumas declarações suas e, em uma delas, você dizia estar "vivendo uma nova fase". Poderia explicar melhor? Isso é dentro ou fora de campo?
– É um pouco de tudo, eu passei por muitos momentos dentro do clube. Esse último ano foi de muito aprendizado para mim. No dia do meu aniversário, depois da derrota para o Arsenal, um dia duro para mim, tive a notícia que seria pai. Foi o dia que minha vida mudou completamente, foi quando eu voltei ao meu rendimento no mais alto nível. Sempre tive o sonho de ser pai e depois de receber essa notícia da minha noiva acabei mudando a minha mentalidade e comecei a pensar que não é só por mim que eu estava fazendo, agora tem duas pessoas que dependem de mim. Não sei como, muita gente me pergunta como isso aconteceu, porque foi no dia seguinte que eu já mudei, foi na semana do jogo contra o City que eu fiz o gol. Foi simplesmente entrar no campo e pensar no meu filho, minha futura esposa. Por isso falo que estou vivendo uma nova fase.
Essa convocação do Ramon teve muitas novidades, mas você já é um jogador mais rodado. Tem sete convocações, disputou sete partidas com a amarelinha, está na Europa já há um tempo... Acredita que esse é o momento de se firmar na Seleção?
– Acredito que sim. De todas as oportunidades que tive, nessa é a que estou mais preparado, a que venho jogando no maior nível possível, estou jogando na Premier League, a liga mais importante do mundo no momento. Fui eleito na Premier League para a disputa do melhor jogador do mês. Venho numa fase incrível, demonstrando em campo a importância que tenho, acredito que na Seleção não é diferente. Sempre tive essa intensidade no jogo, essa imposição.
– Acredito que chego no melhor momento para carimbar a vaga na Seleção, deixar meu nome registrado. Ir para a Seleção é sempre um orgulho. Agora é ir pra campo e ser feliz, que é o que eu sempre peço antes do jogo, sempre peço a Deus para me ajudar a ser feliz em campo, o resto eu sei fazer.
Você alimentou esperanças de ir para a Copa do Catar?
– É muito difícil falar isso, eu realmente tive muita esperança, estava vivendo um bom momento, não como estou agora, sou realista, mas estava vivendo um bom momento, jogando em alto nível. Porém, acredito que na convocação em que acabei sendo expulso isso pode ter atrapalhado em alguma coisa nesse processo. Acredito que amadureci muito depois dessa convocação e que merecia uma oportunidade pelo momento que eu estava vivendo, os jogos que vinha fazendo.
– Porém, são decisões, eu respeito totalmente e tenho um carinho muito grande pelo Tite, ele deu a minha primeira oportunidade de vestir a camisa da seleção brasileira, jamais vou esquecer desse momento, sou muito grato pelo que ele fez por mim, sempre me ajudou quando eu fui para a Seleção, não tenho uma vírgula para falar, mas obviamente eu gostaria de ir para a Copa do Mundo, é um desejo que sempre tive na minha carreira e não sei dizer o por quê (não fui). Estava preparado e vinha fazendo um bom trabalho.
Aos 19 min do 1º tempo - cartão vermelho de Emerson do Brasil contra o Equador
O jogo que você se refere é contra o Equador, pelas Eliminatórias, em janeiro do ano passado. Acha que foi só pela expulsão que você deixou de ser convocado?
– Acredito que, se você for olhar, esse foi o motivo. Eu vinha bem, fazendo um bom trabalho, não acredito que teria outro motivo. Mas eu respeito a opinião do treinador, ele fez as escolhas dele e eu aceito totalmente. Acredito que esse foi o fator, é o que encontro quando pergunto a mim mesmo o que aconteceu. Isso deve ter sido um fator importante.
O Tite ou alguém da comissão técnica chegou a te falar que esse foi o motivo?
– Não, isso nunca existiu.
Na reta final antes da Copa, o Daniel Alves vinha mal no México. Até quando você teve esperanças de ir para o Catar?
– Sinceramente, na penúltima convocação, quando só um lateral foi chamado, o Danilo, e o Dani Alves não foi, eu não fui convocado também e eu falei: acho que agora já era. Foi nesse momento que perdi a esperança de ir. Na minha cabeça eu pensei: se não fui agora, obviamente o Tite estava testando uma segunda opção. E talvez o Daniel cairia na convocação, foi o mapeamento que fiz na hora. É claro que até o último momento eu tive esperança, mas sabia que tinha grande chance de eu não ir.
Você é um lateral bastante ofensivo, que gosta de chegar à linha de fundo, e no Tottenham é escalado como ala em muitas oportunidades. Vai ser necessária uma adaptação ao estilo de jogo da Seleção?
– Acredito que não muda absolutamente nada para mim. Se você pegar e voltar na seleção sub-23, com o (André) Jardine, eu fazia essa função, eu sempre fiz essa função, poucas vezes eu joguei espetado. O lateral tinha a função de construir mais por trás ou jogar como um meia e, às vezes, também aberto. O Jardine me dava essa liberdade. Se você pegar nos jogos da sub-23, vai ver que em grande parte dos jogos eu estou construindo por trás do lance, não estou atacando diretamente. Às vezes eu chegava como elemento surpresa, mas normalmente eu fazia a construção.
– No Tottenham eu faço esse papel muito agudo, ocupando a beirada do campo, mas nos últimos cinco ou seis jogos eu mudei a característica em relação ao que o (técnico Antonio) Conte normalmente faz, que é o lateral espetado. Nos últimos jogos eu tenho vindo mais por dentro, sendo uma opção de passe entrelinhas, construindo o jogo por dentro. Sempre tive essa característica, quando vou para a favela e faço jogo de festa com os amigos, sempre jogo no meio ou no ataque. Sempre fui acostumado com essa função no meio ou no ataque. Mas sempre se interpretou mal, eu escutava a imprensa falando que eu não podia jogar na construção.
Então seria fácil para você voltar a ter um papel mais defensivo ou ficar mais centralizado na Seleção?
– Não é nada muito difícil, porque já fiz essas funções, tenho tudo na cabeça. Quando a gente já executou essa função tem tudo fresco na memória.
Até pouco tempo atrás, o Brasil teve laterais que marcaram eras, como Cafu, Maicon, Daniel Alves... Acredita que hoje há uma carência de opções nessa posição?
– Você está falando de jogadores que carimbaram o nome na seleção brasileira. São jogadores que saíram cedo do Brasil e conseguiram construir um nome rápido e pesado aqui fora. Foram jogadores importantes nos clubes e que chegaram na Seleção e mostraram trabalho. Hoje tem uma adaptação a mais dos jogadores que saem do Brasil para vir para a Europa nessa função, que é muito difícil de jogar. Lateral-direito ou esquerdo parece que é uma função mais tranquila, mas um erro seu pode custar um gol, assim como um acerto seu pode decidir o jogo, é uma posição muito delicada. Com o passar do tempo, os treinadores ficaram mais receosos para colocar jogadores jovens nessa função.
– Tive oportunidade de chegar cedo, com pouca idade, no Bétis e jogar. O Bétis é um time “top” que eu tive oportunidade de jogar e me destacar lá. Mas não é qualquer jogador que sai do Brasil, joga nessa posição e se destaca tão rápido. Acho que foi mais por causa disso, antigamente os jogadores já chegavam com aquela responsabilidade, o treinador colocava e eles podiam marcar o nome aqui fora. Mas talento tem igual.
Numa entrevista que deu ao ge em 2021, você dizia que ainda estava se adaptando à Inglaterra. Um ano e meio depois de chegar ao Tottenham, já está plenamente acostumado ao clime e ao idioma?
– Quanto ao clima, acostumar com o frio é muito difícil, meu corpo não nasceu para o frio, não. Mas sinto bem menos do que quando cheguei. Quanto ao idioma, eu aprendi. Sinceramente, não fiz aula de inglês. O pessoal fica espantado quando eu falo que não estudei. Obviamente, não sou nenhum profissional na língua, mas já consigo me comunicar bem, o pessoal fala que estou avançado, dentro de campo principalmente me comunico 100%, consigo falar tudo, entender tudo, instruir também. É mais escutando e praticando no dia a dia, a gente vai pegando. Quando você aprende a língua, facilita o entendimento dentro de campo.
Quem fala inglês melhor: você ou o Richarlison?
– Eu, com certeza. O Richarlison está aqui há seis anos e diz que fala inglês melhor do que eu. Eu falo: “Richarlison, estou aqui há um ano e meio e bato em você de dez”. Ele não sabe nada.
Recentemente, o Richarlison fez críticas públicas ao Conte. Como é o ambiente do clube e a sua relação com o técnico? O jornal inglês "The Sun" noticiou que o elenco pediu a demissão dele.
– Quanto à entrevista do Richarlison, acredito que ele saiu do jogo de cabeça quente. Respeito a opinião, são coisas que saíram do coração dele, ele queria desabafar, não sei se foi a melhor maneira, não sou eu que vou julgar a maneira que ele falou ou deixou de falar. Porém, deu para ver, até pela forma que ele fala, que estava de cabeça quente após uma eliminação de Champions League. A gente queria ir mais longe, tiveram vários fatores que interferiram nisso.
– Quanto ao Conte, tenho boa relação com ele, não é aquele treinador que a gente tem uma relação muito próxima, de conversar bastante, é o jeito dele, é um treinador que quer ajudar todo mundo, instrui, ele mostra a função que quer dentro do jogo de cada um, não vejo problema nenhum, tenho boa relação com ele. O Conte é um treinador que tem esse lado dele explosivo, uma personalidade que ele criou, mas é um treinador que procura ajudar a gente ao máximo.
Emerson Royal e o técnico do Tottenham Antonio Conte
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