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Esporte

De Taffarel a Alisson: dos pés à cabeça, a revolução na posição de goleiros no futebol


Titular de Tite é mais alto, mais forte e melhor preparado do que goleiro histórico da Seleção. Em 2018, fez cinco defesas e usou os pés 90 vezes. ge detalha mudanças que passam pelo perfil de preparadores Alisson esteve em campo por 450 minutos na Copa da Rússia. Foram cinco jogos, três gols sofridos e apenas cinco defesas em participação no primeiro Mundial da carreira. Ele deu 90 passes na competição - ou seja, usou os pés 18 vezes mais do que as mãos nas cinco partidas que disputou.

Como reza o meme, parece raro, mas acontece toda hora. Há 30 anos, a regra do futebol mudou e vetou aos goleiros a possibilidade de pegar com as mãos o recuo de defensores. A norma pretendia diminuir a cera, mas revolucionou posição inquieta e cada dia menos solitária no futebol.

No Brasil, a preparação de goleiros é obra pioneira de um dos grandes da posição. Valdir de Moraes (1931-2020), goleiro histórico de Palmeiras e Corinthians, começou a treinar jogadores da posição em 1970, dois anos depois de se aposentar e decidir compor a comissão técnica de Oswaldo Brandão.

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As ilustrações dessa reportagem são de Enderson Santos, da equipe de arte do ge. A reportagem conversou com preparadores de goleiros experientes do futebol brasileiro, como o próprio Taffarel e Rogério Maia, hoje no Atlético-MG, que esteve na comissão de Tite em 2018 e fez parte de dois ouros olímpicos com a Seleção (2016 e 2018).

– A ideia da Fifa no início era que o jogo acelerasse. O jogo ficaria mais rápido, mais emocionante. No início os goleiros se assustaram porque o hábito era rebater a bola – lembra Maia.

Com os melhores goleiros do mundo na Seleção, Taffarel treina Alisson hoje também no Liverpool. O atual camisa 1 da seleção brasileira mede 1,93 m - nove centímetros a mais do que o herói do tetra - e tem 2 metros de envergadura. É mais forte do que os goleiros de antigamente e não perdeu a agilidade, uma das marcas de jogadores mais modernos da posição.

A outra, claro, é o jogo com os pés. O que Taffarel já praticava no seu tempo, mas nem se compara aos números atuais. Pelo Liverpool, em 2019, no clássico com o Manchester City de Ederson, Alisson chegou a fazer 72 ações numa partida - foram 56 passes em 97 minutos em campo. É como se ele passa uma bola a cada dois minutos.

Em comparação com as marcas do futebol brasileiro, o goleiro Everson, do Atlético-MG, talvez o melhor em atividade no país no jogo com os pés - foram duas convocações na Seleção de Tite -, dificilmente atinge a marca de 40 passes por partida. E é quem mais usa os pés no Brasil. A média é de 30 de Everton, mas a maioria passa pouco dos 20 passes. Muito menos do que Alisson faz no futebol inglês e até mesmo na seleção brasileira.

Alisson, de 1,93m, e Taffarel, goleiro titular em três Copas, de 1,84m: hoje, os dois estão juntos na Seleção

Ilustrações de Enderson Santos - Arte ge

Valdir de Morais a serviço da Seleção: goleiro marcou época no futebol brasileiro

Arquivo Palmeiras

Não há exatamente regulamentação específica para preparador de goleiros hoje. Esses profissionais entram na categoria de treinador profissional de futebol, mas desde os anos 1990 estão em todas as categorias de base e têm valorização razoável. Os mais renomados são disputados pelos grandes clubes, mas passam longe dos altíssimos salários de treinadores de futebol.

Em 2014, publicação da Revista Brasileira de Futsal e Futebol mostrava que os preparadores de goleiros da Série A2 de São Paulo tinham entre 28 e 56 anos, com remuneração que variava de 4 a 6 salários mínimos - o que na época girava em torno de R$ 2,8 mil a R$ 4,3 mil de salário.

Taffarel agradece aos céus na Copa de 1998: goleiro foi titular do Brasil em três Mundiais

Michael Steele/EMPICS via Getty Images

Alisson na final da Copa América de 2019: goleiro também foi revelado pelo Internacional

Lucas Uebel/Getty Images

O treino de goleiros mudou muito nas últimas décadas. Desde quando Valdir de Moraes dava os primeiros chutes a gol para seus comandados, a evolução vai da quantidade e intensidade de horas de trabalho até, claro, as ferramentas para o treinamento e o uso da tecnologia.

Alisson, que completou 30 anos no início de outubro, calcula que salta, em média, cerca de 60 vezes por treino. E defende pelo menos 100 bolas a cada dia no campo - em dia de finalizações com o grupo esse número pode até dobrar, estima o goleiro brasileiro. Desde que começou menino na base do Internacional ele já tinha preparadores de goleiros.

– Há 10 anos, quando comecei, eram cones, estacas, cordas, que se amarrava para saltar e defender. Hoje em dia existem luzes, rampas para desviar a trajetória do chute. A gente até usa o rebatedor lá no clube (Liverpool). Na Seleção já usei algumas vezes. Mas acredito que nessa evolução é importante o recurso, mas é também ficar sempre ligado naquilo que é a essência do goleiro, naquilo que é a realidade do jogo. Então, pode-se fazer trabalhos específicos com luzes, com barreiras, algo para desviar a trajetória da bola, mas acredito que, no meu ponto de vista, quanto mais parecido com o jogo, melhor vou me sentir na partida. Então às vezes o simples é aquilo que é mais eficaz – opina Alisson.

Um preparador de goleiros dispara de 200 a 400 chutes, diariamente, para o gol. A repetição, é claro, causa lesões em muitos - ex-goleiro do Vasco e da Seleção, Carlos Germano, que foi preparador físico do clube de São Januário, precisou realizar cirurgia no tornozelo provocado pelo excesso de movimentos de execução de chutes no trabalho.

Pelo esforço, hoje existe espécie de idade-limite para exercer a função. É difícil chegar aos 60 anos com força e resistência para o duro trabalho. Ainda mais se ele não tiver um ajudante. Na Seleção, Taffarel divide a função com Marquinhos, ex-preparador físico do Internacional. Entre as 32 seleções da Copa, o Brasil de Tite é um das cinco no Catar que têm dois preparadores de goleiros na composição da comissão técnica.

– Eu não me vejo hoje fazendo um trabalho com os goleiros só com um treinador. Não é nem pelo desgaste, mas a dinâmica é diferente. Tu está batendo aqui e eu estou olhando. Quando ele vem para o meu lado e eu vou bater o cara está olhando – comenta Taffarel.

Com tecnologia alemã, rebatedores de mão - ou até maiores, com rodinhas e que ficam na grama - custam cerca de R$ 3 mil e são uma das últimas ferramentas para treinamento de goleiros. Normalmente desviam cruzamentos ou chutes na direção do gol. Em repetições que vão de 60 a 80 por dia

Arte ge

Rampas metálicas são utilizadas para desviar chutes para goleiros

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O nem tão novo líbero

Era comum em outros tempos trabalhos excessivos de corrida para goleiros - de 8 a 10 km por dia, saltos que provocavam lesões nas articulações e encurtavam carreiras. Hoje, os treinos específicos para goleiros no campo duram em média 1h30 no campo.

A semana ideal dos goleiros é dividida em microciclos. A cada dia são realizados estímulos diferentes e, claro, há cada dia mais espaço para o trabalho com os pés.

– Eu já vi uns vídeos da minha preparação para a Copa de 1990, na Granja Comary, com o Nielsen (preparador) e eu fazia um circuito que te matava, que era igual ao de jogador de linha né? Mas eu cheguei naquela Copa voando. Claro que tinha a juventude, mas pela força física que eu estava – lembra o preparador de goleiros da Seleção.

"Goleiro - O novo líbero". Era assim um dos títulos de uma das 142 páginas do relatório da Fifa da Copa do Mundo... de 2002, a da Coreia do Sul e do Japão na qual o Brasil foi campeão. Há 20 anos já se debatia em estudos na Fifa a capacidade dos goleiros "lerem o jogo, assim como a capacidade de distribuir rápida e efetivamente a bola, tanto com os pés como com as mãos, que são atributos fundamentais de um bom goleiro moderno".

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Treino de goleiros não é só repetição, mas haja disposição: por dia, preparadores ultrapassagem marca de 200 chutes. Cada goleiro tem cerca de 80 quedas

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Uma das muitas modalidades usadas para preparar goleiros, o canhão de bolas caiu em desuso pela ineficácia dos disparos e por danificar bolas

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Outra forma de treinar reflexos, mas que também foi pouco aproveitada no futebol: o arremesso de bolas de tênis para goleiros

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Luzes para treinar reflexos divide preparadores. Muitos consideram desnecessária e pouco prática com o treinamento específico para jogos. Treinos a luz do dia também dificultam a visualização

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Veja alguns números da última Copa do Mundo:

Com os pés

Com as mãos

Goleiro-linha

Ge

Globoesporte.com

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