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Opinião: torcida da Lusa festeja SAF por direito de seguir lutando

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Com celebração de lusitanos no Canindé, proposta de SAF apresentada por Tauá, Revee e XP passa pelo COF e pelo Conselho Deliberativo; falta a Assembleia Geral Torcida da Portuguesa faz festa no Canindé após aprovação da SAF no Conselho

Um enfrentou mais de quatro horas de estrada e trânsito para deixar o interior de São Paulo. Outro foi ao Canindé com mala de viagem nas mãos, sabendo que sairia dali antes da definição, para correr ao aeroporto de Congonhas e pegar um voo.

Teve lusitano que cancelou passagem e reserva em hotel, planejadas há tempos em razão do feriado, para estar na Portuguesa. Houve até conselheiro vitalício de quase 90 anos pedindo ao filho e ao neto para levá-lo ao clube, após anos, para votar.

A noite de 14 de novembro de 2024 não era como qualquer outra para a torcida da Lusa. Ninguém estava vestindo rubro-verde e indo ao Canindé, alguns com horas e mais horas de antecedência, em razão de uma decisão dentro dos gramados. O jogo era fora dele.

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Centenas de torcedores se aglomeraram por horas no estacionamento do clube, do lado de fora do prédio administrativo, com olhares atentos para as janelas do salão nobre. Ali aconteceria uma reunião do Conselho Deliberativo. Nada se via, nada se ouvia.

A organizada Leões da Fabulosa estendeu faixas com os dizeres "por uma Portuguesa grande novamente" e "para tirar a nossa Lusa dessa gente", e colou adesivos pelo clube com as mensagens "novas gerações, sim", "Canindé moderno, sim", "Série A, sim".

Portuguesa comemora aprovação de SAF

Adão Júnior

Além disso, bandeirões incansavelmente tremulando e bateria incessantemente tocando. Esse era o clima na chegada dos conselheiros que iriam votar a proposta de SAF no futebol e de remodelação no Canindé apresentada por Tauá, Revee e XP.

Os conselheiros que chegavam já se deparavam com aquele cenário de decisão. Aqueles que se manifestavam favoráveis à SAF tinham logo colado ao peito um adesivo de apoio. Nem mesmo o vento e o frio reduziam a intensidade daquele momento.

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O primeiro período de aquietação se deu por volta das 20h00, quando teria início a reunião. Era necessário quórum de ao menos 50 conselheiros para haver votação. No fim, mesmo com boicote de grande parte da oposição, deu e sobrou: 107 presentes.

As informações eram poucas, afinal, a imprensa ficou em uma sala e só seria chamada a acompanhar a proclamação do resultado. O início da reunião, como sempre, foi marcado pela execução do hino do clube. Cantado dentro e fora do salão nobre.

A partir dali a tensão se instalou. Os torcedores olhavam para o alto, para as enormes janelas de vidro do salão nobre, cientes de que nada saberiam. O sistema de som interno não permitia entender nada do que era dito. As informações eram bem escassas.

Portuguesa comemora aprovação de SAF

Adão Júnior

Foi-se descobrindo que os investidores reapresentaram o projeto, que abriram para perguntas, que essas questões foram se alongando, que depois seria lido o parecer do Conselho de Orientação e Fiscalização, e que aí sim seria realizada a votação.

Ninguém arredava pé dali. Não havia nem onde sentar. Nem uma partida com acréscimos longos, prorrogação extensa e cobranças de pênaltis intermináveis exigiria tanto da torcida. O nível de tensão, então, não era nem comparável ao de um jogo.

Conselho da Portuguesa aprova projeto da SAF por aclamação

Veio a notícia de que estavam lendo o parecer do COF, que contratou um advogado independente, Sérgio Santos Rodrigues, para analisar o contrato. Ele entregou uma avaliação de dez páginas com sugestões de ajustes. O órgão, então, deu um parecer ao Conselho Deliberativo concordando em aprovar desde que com os ajustes feitos.

O Conselho Deliberativo, portanto, ia votar no sentido do parecer. Ou aprovando com essa condição, de fazer ajustes no contrato, ou rejeitando a proposta toda. Esperava-se voto aberto e nominal. Veio a surpresa: iam tentar voto por aclamação.

A imprensa foi liberada para o mezanino do salão nobre. Torcedores do lado de fora com celular colado ao ouvido tentando escutar o que era dito ao microfone. Pediu-se para quem era contrário levantar. Ninguém levantou. Veio a aclamação.

Portuguesa comemora proposta de SAF

Adão Júnior

A proposta foi aprovada, com essas ressalvas, pela unanimidade dos 107 conselheiros presentes. Foi a senha para a explosão da torcida do lado de fora. Lágrimas foram as primeiras a surgir entre os lusitanos. Pais e filhos se abraçando, amigos pulando lado a lado, desconhecidos se cumprimentando, todos cantando em êxtase.

"Vamos todos cantar e ir em frente, para tirar a nossa Lusa dessa gente". Um canto da Leões da Fabulosa que se tornou a senha para a torcida em geral apoiar a proposta. Um canto que se tornou o hino da transformação do clube em SAF. Da virada de página.

Gritos, mais do que de alegria, de alívio. De uma torcida que viu a Portuguesa ser derrubada pela incompetência das próprias diretorias da Série A nacional para a B, a C, a D, até ficar sem divisão. Que viu a Lusa ficar fora da elite paulista por sete anos.

Que assistiu a sete diretorias diferentes, de todos os grupos políticos imagináveis, passarem pelo poder e não mudarem o rumo do clube. Que só na base do amor conseguiu se renovar, atrair jovens, manter-se firme na arquibancada do Canindé.

Portuguesa comemora proposta de SAF

Adão Júnior

Uma festa não pela SAF em si, nem porque todos ali confiam plenamente na proposta ou nesse projeto dos investidores. Apesar da euforia e da expectativa, todos sabem que não será nada fácil, que o próximo Paulistão deve ser para não cair, que a Série D do Brasileiro de 2025 será osso duro de roer, mas ao menos se tentou algo novo.

Dentro de casa não havia saída ou solução. Recorrer a agentes externos, a gente de fora, a profissionais, é uma tentativa. Ao menos a torcida sabe que tentou, que agarrou e abraçou uma chance de mudança. Rara e tão difícil de ser conduzida dentro do clube.

Ainda falta uma etapa: a chancela dos sócios na Assembleia Geral. E ainda falta um ponto importante: rediscutir e reajustar partes do contrato. Só que, para quem conhece a política interna da Lusa, duas fases muito difíceis foram superadas em uma semana.

Torcida da Portuguesa comemora aprovação do projeto da SAF no Conselho

Depois de mais de quatro horas de mobilização, expectativa, cantoria e pressão, a torcida rubro-verde voltou para casa com a sensação de que fez tudo que podia. Valeram a estrada, a correria, a viagem cancelada, o pedido ao filho e ao neto.

Ninguém ali voltou para casa com a certeza de que a SAF vai dar certo ou de que esse projeto será um sucesso. Todo mundo, porém, voltou para casa com a convicção de que uma chance de mudança surgiu e a torcida fez com que a Portuguesa não desperdiçasse.

Nenhum torcedor sabe se vai dar certo. Mas todo lusitano sabe o que aconteceria se não houvesse uma tentativa de mudança. Era cair no Paulistão, desperdiçar a Série D, e não ter para onde correr ou como se reerguer. Nem assim se tem grandes garantias.

Quem torce para a Portuguesa não tem o direito de sonhar ou fantasiar. A realidade sempre se impôs a essa torcida. São pessoas que vivem com os pés fincados no chão e a pulga atrás da orelha. Cada conquista é suada e sofrida. Já a derrota é constante e traiçoeira. No fundo, a torcida defende a SAF pelo simples direito de seguir lutando.

*Luiz Nascimento, 32, é jornalista da rádio CBN, documentarista do Acervo da Bola e escreve sobre a Portuguesa há 14 anos, sendo a maior parte deles no ge. As opiniões aqui contidas não necessariamente refletem as do site.

Ge

Globoesporte.com

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