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Opinião: sem sonho encantado, Lusa precisa tratar SAF com urgência da vida real

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A menos de três meses do Paulistão, sem elenco e com contas bloqueadas, Portuguesa tem de decidir futuro com rapidez, sob pena de desperdiçar 2025 e chance de ressurgir Não deve haver uma só pessoa na torcida da Portuguesa que não desejasse tempo e calma na análise de qualquer processo de transformação em SAF. No entanto, também é consenso que esse cenário, no clube, não passa de um sonho encantado.

Faltam menos de três meses para o início do Campeonato Paulista e, por consequência, de uma temporada há tempos desejada pela Lusa: além da elite estadual, a equipe vai disputar a Série D do Campeonato Brasileiro e talvez até a Copa do Brasil.

Estádio Canindé, da Portuguesa

Dorival Rosa / Portuguesa

Uma chance rara, suada e que precisa ser aproveitada de toda forma se o objetivo da Portuguesa é uma reconstrução. Neste momento, o clube está paralisado em meio a uma discussão – ou guerra política – em torno da Sociedade Anônima do Futebol.

Na última terça-feira (29), a XP Investimentos, a Tauá Partners e Revee apresentaram aos poderes do clube uma proposta de R$ 1 bilhão – já amplamente detalhada pelo ge – para transformação do futebol da Lusa em SAF e para remodelação do Canindé.

Essa apresentação aconteceu no Conselho de Orientação e Fiscalização, com as presenças dos presidentes da diretoria, do Conselho Deliberativo e da Assembleia Geral. O COF não é um órgão decisório, mas consultivo – sempre o primeiro a ser procurado.

O órgão não tem o poder de aprovar ou reprovar uma proposta. Por estatuto, emite um parecer recomendando uma decisão. Após esse parecer, aí o Conselho Deliberativo leva a proposta a votação e decide. Se aprovar, os sócios votam na Assembleia Geral.

Na reunião desta terça-feira (29), ao contrário do que se esperava, o COF ainda não deu um parecer. Solicitou que os investidores coloquem todas as promessas em uma minuta de contrato, a fim de verem formalizados todos os pontos, e decidiram recorrer a uma assessoria jurídica sobre o documento para finalmente emitir um parecer.

Estádio Canindé, da Portuguesa

Dorival Rosa / Portuguesa

Ficou marcada para a próxima segunda-feira (4) uma nova reunião. Espera-se que, com a minuta e uma análise de um escritório de advocacia independente, seja emitido um parecer. Independente do teor do parecer, a proposta vai ao Conselho Deliberativo.

Os investidores haviam colocado um prazo de validade para a proposta: 31/10. Após os pedidos do COF e a marcação dessa nova reunião, estenderam a validade para o dia do encontro: 04/11. Será o suficiente para se cumprir essa primeira etapa interna?

Fato é que o cenário vai se tornando desesperador. A demora pode tanto comprometer o início do trabalho da SAF (com pouquíssimo tempo de se estruturar para 2025), afastar os investidores (ao entenderem que não há mais tempo hábil para "salvar" a próxima temporada) e/ou afundar o clube (que teria de se virar sem tempo e sem dinheiro).

Ninguém em sã consciência deseja que se aprove e assine qualquer coisa, exatamente do jeito que vier, agradando apenas aos investidores. Os pontos levantados pelo COF são válidos. Só não há tempo de demorar muito. É a vida real que se impõe.

Todos os cenários decorrentes do tempo são desoladores. A diretoria oferece a SAF como a única solução dela para 2025. Ninguém até aqui ofereceu uma alternativa que dê alguma garantia de se conseguir salvar e fazer valer essa próxima temporada.

Estádio Canindé, da Portuguesa

Dorival Rosa / Portuguesa

Essa é a única proposta formal e oficial sobre a mesa até aqui. Já houve um projeto de SAF anterior, liderado pelo Grupo Águia, pela Lyon Capital e pela Sports Hub Brasil, mas que ficou pelo caminho. E há um projeto, apresentado pela oposição, que tem um foco mais voltado para um plano imobiliário na área do Canindé.

Sobre esse projeto há, até aqui, uma carta de intenção de um fundo estrangeiro. Que fez alguns pedidos (como balanço financeiro, dívida atualizada e plano de negócios) para deliberar se eventualmente decide apresentar uma proposta formal para a Lusa.

Ou seja, passos atrás da XP, da Tauá e da Revee. Um plano que, caso realmente se converta em proposta formal, certamente levará mais tempo. Quem lê percebe que essa palavra volta a surgir: tempo. Algo fundamental no momento atual do clube.

Na prática, a Portuguesa tem hoje uma só proposta formal na mão e o tempo como adversário. O clube convidou a torcida para uma apresentação na próxima quarta-feira (06/11), às 20h, no salão nobre, no Canindé. As 250 vagas se esgotaram logo.

A apreensão e a ansiedade da torcida são enormes. Justamente porque qualquer um é capaz de enxergar a gravidade da situação da Lusa. O clube conquistou uma chance rara de se reerguer e precisa fazer de 2025 um ano praticamente perfeito.

O sonho encantado não existe: seria maravilhoso se o clube tivesse seis meses pela frente, que as contas não tivessem voltado a ser bloqueadas após a recente revisão do acordo na Justiça do Trabalho, que a diretoria não houvesse precisado antecipar a cota do Paulistão, que a Lusa tivesse condições de montar um elenco como plano B.

Isso tudo, porém, não é a vida real. A vida real clama por urgência. Urgência até mesmo se for para os poderes do clube rejeitarem a proposta. Até porque, se isso acontecer, talvez a atual diretoria nem continue e o futebol terá de ser tocado pelo clube.

A demora não interessa a ninguém. A não ser que interesse à política de alguns. Chega-se ao momento em que não dá mais para colocar a política acima do clube. Vale repetir: não é aprovar ou reprovar qualquer coisa. Não é afobação. É celeridade.

É lógico que a Portuguesa não está na situação ideal para se transformar em SAF. Clubes desesperados por dinheiro ou por se livrar de gestões incompetentes acabam sendo aqueles que mais dificuldades enfrentam em encontrar a "proposta perfeita".

Só que o caso da Lusa é muito particular. A vida real, pragmática como ela é, cobra pela demora em uma definição. Seja a definição que for. E o custo é alto: volta à Série A2 do estadual e novo sumiço do cenário nacional, com provável eliminação na Série D.

E aí, nesse cenário, que outros investidores verão atrativos para uma SAF? Diante dessa proposta bilionária, ou qualquer outra que eventualmente surja, a Portuguesa precisa decidir entre a urgência da vida real e a calmaria de um inexistente sonho encantado.

*Luiz Nascimento, 32, é jornalista da rádio CBN, documentarista do Acervo da Bola e escreve sobre a Portuguesa há 14 anos, sendo a maior parte deles no ge. As opiniões aqui contidas não necessariamente refletem as do site.

Ge

Globoesporte.com

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