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Esporte

John Textor tenta o Everton; o que o Botafogo tem a ver com isso

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Textor assina contrato de exclusividade para negociar uma compra que pode mudar tudo na trajetória da Eagle Holdings - e na vida do botafoguense; à venda há mais de um ano, clube inglês está afundado em dívidas Após algumas semanas de suspense, idas e vindas, mudanças de cenário, finalmente o empresário John Textor, dono da SAF do Botafogo, assinou um acordo de exclusividade para negociar a compra do Everton FC, um dos clubes mais tradicionais da Inglaterra.

Aliás, como me disse o saudoso professor botafoguense Gilmar Mascarenhas certa vez, com a própria camisa azul na mão, o Everton é uma espécie de Botafogo britânico. Um clube com grande história, craques e glórias, mas que por uma série de razões administrativas e políticas foi empurrado para o papel de coadjuvante do futebol local.

Talvez esteja aí, na figura da fênix, alguma razão simbólica que anime tanto o norte-americano John Textor em inserir o Everton na Eagle Football Holdings, a sua rede multi-clube, que além do Botafogo, também envolve o belga RWD Molenbeek, o francês Olympique Lyonnais e o inglês Crystal Palace FC.

Especula-se a razão simbólica, porque na parte prática, do vil metal, a situação é bem mais complicada do que parece. O primeiro ponto é que a Eagle Holdings só pode adquirir o Everton caso consiga vender a sua relevante participação de 45% no Crystal Palace. A Premier League não permite qualquer participação de um indivíduo ou grupo econômico em mais de um clube local.

Há algum tempo Textor se queixa da falta de poder de decisão no Palace. Essas limitações estariam impedindo os planos do empresário em listar a Eagle Football Holdings na bolsa, cujo objetivo é captar recursos pouco usuais para clubes de futebol (quanto mais em conjunto, em formato de rede). Isso, se encontrar aderência de fato.

A segunda parte complicada é o próprio Everton. O clube inglês possui uma dívida que gira em torno de 600 milhões de libras, que vem se arrastando e ampliando a cada nova janela de negociação para venda (que nunca acontece). Também tem um estádio inacabado, que só não teve obras totalmente interrompidas porque tem arrumado recursos em novos empréstimos junto a esses pretensos compradores.

Isso tudo passando pela mão de Fahrad Moshiri, um empresário britânico-iraniano com base no Principado de Mônaco, para o qual a imprensa britânica há anos aponta o dedo, acusando de ser um mero laranja do oligarca russo Alisher Usmanov. Em suma, o Everton é uma bomba.

O mesmo termo de exclusividade assinado por John Textor nesta terça (15) já foi assinado anteriormente, há poucos meses, por outras duas redes multi-clubes norte-americanas.

A 777 Partners, conhecida no Brasil por ter sido afastada do controle da SAF do Vasco da Gama, começou a sua derrocada justamente quando entrou nessa fase de exclusividade para a compra do Everton FC.

O escrutínio da imprensa britânica foi absoluto, revelando uma série de questões obscuras relacionadas ao fundo com origem na Flórida, mas registrado no paraíso fiscal de Delaware. Das mais graves, que resultou num processo que corre na justiça de Nova Iorque, a 777 Partners é acusada de fraude por oferecer os mesmos ativos como garantia de empréstimos junto a diferentes credores.

Com esse cenário, hoje não se sabe ao certo com qual liquidez a 777 Partners se tornou credora do próprio Everton FC, quando tentava sair na frente dos concorrentes para aquisição do clube. Atualmente, entende-se que a 777 é um mero bolo de dívidas, processos e ativos caóticos sob controle da seguradora A-Cap, que parece não querer nada com futebol - mas que também não tem controle sobre o futuro do que restou da empresa.

Com a saída da 777, Fahrad Moshiri assinou um novo acordo de exclusividade, agora com a empresa The Friedkin Group, de propriedade do bilionário norte-americano Dan Friedkin. O grupo está em expansão e já controla o italiano AS Roma desde 2020, junto ao modesto francês AS Cannes, adquirido há um ano.

Imaginava-se que o futuro do Everton finalmente estaria resolvido, mas o Friedkin também declinou, igualmente deixando o porto de Liverpool com um contrato de empréstimo a favor do clube e do estádio inacabado. Nem mesmo a robustez do grupo, com seus mais de 4 bilhões de dólares em ativos (incluindo investimentos na indústria cinematográfica), foi suficiente para sustentar a bronca que parece ser o clube azul.

Last but not least, uma terceira questão problemática é que a Eagle Holdings, a despeito dos bons resultados esportivos que tem apresentado no Brasil e na França, por si só já é um grupo seriamente comprometido financeiramente. Textor alavancou as atividades do grupo com empréstimos consideráveis, com taxas altas, com esse objetivo futuro de listagem na bolsa.

A inserção de um clube do porte do Everton FC na rede da Eagle – clube localizado na liga mais cara do mundo – não é apenas "mais um" negócio, mas uma mudança escalar considerável. De fato, Textor hoje só controla 65% do capital da empresa, porque precisou da entrada de novos investidores para adquirir o Lyon em condições pouco favoráveis do mercado. A aquisição do Everton inevitavelmente obrigaria uma jogada de caráter semelhante, especialmente pelo tamanho da dívida.

Da Eagle Holdings, John Textor é só a figura pública e de liderança de uma sociedade empresária bem mais complexa, que envolve participação relevante do fundo de investimentos Ares Management, para quem o grupo também deve uma boa grana. A Eagle também vem sendo questionada pelo atraso no registro das suas contas junto aos órgãos reguladores britânicos.

Em suma, por um lado a aquisição do Everton pela Eagle vai depender de inúmeros fatores, muitos dos quais ainda não são de conhecimento público. Há quem duvide da real vontade Moshiri em efetuar uma venda, ou mesmo se isso é mera jogada para ganhar tempo e/ou acessar dinheiro junto a grupos norte-americanos – já foram três, a Eagle pode ser o quarto caso, a ver.

Por outro lado, é bem visível como o Everton é um passo largo para a Eagle Holdings arriscar. Na onda das redes multi-clubes norte-americanas, ainda é muito difícil compreender se as estratégias passam pela aquisição "daquele clube", de "um tipo de clube" ou de "qualquer clube" – o primeiro que estiver à disposição "na hora que estivermos prontos", ou mesmo "numa hora qualquer e nós damos um jeito para estarmos prontos".

É o novo mundo das redes multi-clubes e da fagocitação de clubes na base da especulação e da aposta.

Ge

Globoesporte.com

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