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Brasileiro campeão da Euro, Marcos Senna aposta em favoritismo da "desacreditada" Espanha

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Por Virtual Rondônia em 05/07/2024 às 06:17:43
Em entrevista ao ge, ex-jogador lista motivos para não ter jogado pelo Brasil, comenta sobre deixar Xabi Alonso no banco e frustração por não ir à Copa de 2010 O melhor futebol da Euro 2024: Espanha adota estilo mais agressivo na competição

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Veja a tabela das quartas de final da Eurocopa

Uma história típica brasileira, mas nem tanto. Marcos Senna começou a jogar ainda moleque em campos da periferia, chamou a atenção de olheiros mas quase desistiu do futebol por que precisava trabalhar. Surgiu uma nova oportunidade e então seu talento foi reconhecido, ele alçou voo mais longo do que imaginava para viver seu auge fora do Brasil. Fez parte de uma das melhores gerações da Espanha que, há 16 anos, venceu a Alemanha e conquistou a Eurocopa.

Nesta sexta-feira, Espanha e Alemanha voltam a se enfrentar de olho numa vaga na semifinal do torneio continental. O jogo tem transmissão ao vivo na TV Globo e sportv, e em tempo real no ge. Para o brasileiro, é o momento de uma nova geração de La Roja voltar a conquistar um grande título.

- A Espanha é favorita. São ciclos, esse é o bonito do futebol. Quando acha que sim, não. O Brasil ficou 24 anos sem ganhar a Copa. Em 1994, ganhou. Para quem acredita em superstição...Na próxima copa o Brasil vai completar 24, nos Estados Unidos - disse Senna, referindo-se ao tempo desde a última Copa vencida pelo Brasil, em 2002.

Marcos Senna em entrevista ao ge

Raphael Zarko

- A Espanha, desacreditada em 2008, ganhou a Eurocopa e depois a Copa. Estou curioso, acho que vai ter novidades. A Espanha está com time certinho, jogando bem - considerou.

Após se aposentar do futebol, o paulista Marcos Senna decidiu continuar morando na Espanha, onde se sente muito acolhido. Hoje, ele ocupa o cargo de diretor de relações institucionais do Villareal, clube em que passou a maior parte de sua carreira e com o qual foi semifinalista da Liga dos Campeões na temporada 2005/06.

Em entrevista ao ge, ele comentou com empolgação o período em que "deixou" Xabi Alonso no banco e foi titular da Espanha ao lado de Iniesta, Xavi, Fábregas, Fernando Torres e outros grandes nomes. Marcos Senna também relembrou início de carreira, a conquista do Mundial pelo Corinthians, a timidez de Riquelme, os motivos que o impediram de defender o Brasil e a frustração de não ter sido convocado para a Copa do Mundo de 2010, que consagrou aquela geração.

Veja as respostas:

Convocação para a Seleção

- Em relação à seleção brasileira, teve um processo aqui, que se eu tivesse ficado um ano a mais a minha vida teria sido completamente diferente. Eu fui para o Corinthians, depois para o Juventude por três meses. O São Caetano me contratou. Joguei a Libertadores e Rio São Paulo. Na Libertadores, fomos à final, perdemos nos pênaltis. Foi uma ótima temporada para o time e para mim. O São Paulo queria me contratar, estava o Leão. Só que meu desejo era jogar na Europa. Eu ainda não tinha pegado esse salto de popularidade, onde existisse a possibilidade de jogar com a Seleção. Tinha duas possibilidades: "Marco, se você tem esse objetivo você tem que ficar por aqui e jogar num time grande outra vez, como o Corinthians. Ou continuar no São Caetano, que estava super bem." Mas eu falei: "não, quero jogar na Europa. Prefiro ir lá e arriscar num time pequeno". Na época, o Villarreal nem era conhecido. Foi essa trama. Falei: "não vou para o São Paulo". Falei para o meu empresário Eli Coimbra Junior: "me leva para a Europa, lá que eu tenho que ir". Até mesmo porque em nível financeiro era muito melhor, não tinha comparação. Porque eu já estava pensando em estabilidade, família, em jogar na Espanha, eu tinha esse desejo. Dei esse pulo para a Europa. Peguei o Villareal crescendo. Quando fui ver, joguei onze anos no Villareal.

Concorrência na Seleção

- Curioso que não jogava de volante, jogava de meia. Estreei no profissional jogando de meia ofensivo, gostava mais de jogar pela direita. O Corinthians me contratou como meia. Lembro que quando cheguei ao Corinthians, o Gilmar Fubá estava machucado, o Vampeta na Seleção e o Edu Gaspar estava no Arsenal, algo assim. O Oswaldo Oliveira falou: "Marco, vou te puxar para jogar com o Rincón". Eu lembro que eu ainda não sabia jogar como volante. Aí estreei contra o Gama em Brasília, no Campeonato Brasileiro. Eu me movimentava muito como meia, por trás dos volantes. Aí comecei jogando de volante, comecei a atravessar na frente do Rincon. A primeira coisa que ele fez: "Ei, você aí, eu aqui". Já pôs ordem. O negão era fortão. Uma pena o acontecido. Foi quando eu comecei a jogar de volante. Obviamente, Vampeta e Rincón eram as minha referências, tops da época. Cheguei, ganhamos o Brasileiro, o Mundial aqui no Maracanã. Muitos falam que não é Mundial, mas foi. Uma etapa maravilhosa de aprendizado com eles.

Ida para a Espanha

- Eu jamais saindo do Brasil imaginaria que iria me naturalizar. Se não tivesse opção de escolher, continuaria com a brasileira. Como a Espanha dá opção de ficar com as duas, eu me naturalizei. Bom em todos os aspectos. Assim que a gente foi à semifinal da Champions, tinha um treinador, Luis Aragones. Ele estava me acompanhando. Eu tinha feito um ótimo campeonato na Liga e na Champions. Era uma posição que estava carente, de volante que sabe sair com a bola. Ele buscou o clube e perguntou se eu tinha atuado com alguma categoria de base da seleção. Eu falei que não. Daí surgiu o interesse. Em quatro meses, eu estava com o passaporte na mão. Eu joguei em janeiro de 2006. Em julho, já joguei a Copa do Mundo da Alemanha. Assim começou meu vínculo com a seleção, com o país. Aí veio a Eurocopa, que ganhamos em 2008. Joguei toda a eliminatória da Copa de 2010, estive na pré-convocatória. No minuto 90 caí da convocatória e não fui para a Copa de 2010.

- Com a seleção brasileira, minha única esperança era...Eu não fui para o Villareal para fazer uma carreira. Para mim, era uma ponte. Bater no villareal e ir para Madri, Barcelona, Manchester, um grande. Se tivesse feito isso, tinha esperança da Seleção sim. Eu não ia fazer isso no Villareal. Na época o técnico era o Parreira. Eu olhava o time e não existia jogador de um Villareal, Shaktar. Só existia jogador da Juve, Manchester, Milan, Barcelona, Real Madri. Eu também entendo. Na época a gente tinha um time incrível. Adriano, Ronaldinho, Kaká, Ronaldo. Os volantes eram o Emerson, Giberto Silva. A possibilidade de jogar na Seleção Brasileira não existia. Quando chegou a oportunidade com a Espanha, eu não pensei duas vezes. Quando falei para a família: "Cê é louco" (num sentido positivo). Eu tinha 29 anos, não ia negar. E a Espanha, com todo respeito, não é uma Geórgia. É um país do futebol também. E eu aceitei. Foi uma experiência fantástica.

Início na seleção da Espanha

- Quando estranhei, estreou comigo o Iniesta e o Fábregas. Me senti privilegiado. Peguei uma geração de jogadores fantástica. Futebol é isso. Além de ter as condições, o dom, talento, tem que ter um pouco de sorte também. Tem que estar no lugar certo, na hora certa. O Iniesta estava começando a se destacar, o Xavi completamente consolidado. Outros jogadores, Fernando Torres, Villa. Em 2006, ainda tinha a geração do Raul, Michel Salgado, que não chegou a 2008. É natural, o ciclo. Peguei uma geração fantástica. Em 2006, na Copa do Mundo, começamos super bem, comecei como titular. Depois vacilamos e caímos para a França. Depois a França chegou à final e perdeu nos pênaltis para a Itália. Em 2008, com a ideia de que a gente poderia chegar longe e ganhar. A gente tinha um time muito bom. Ganhamos bastante bem. Muito superior aos demais. Começou essa era ganhadora da Espanha. Euro 2008, Mundial 2010, Euro 2012.Tenho que agradecer muito ao treinador. Não é o cara que a imprensa mete pressão e ele acaba...Eu jogava no Villareal. Não era o Madri ou o Barcelona. Era muito fácil para ele não se comprometer com a imprensa meter a pressão. Coloca o Xavi Alonso, que estava no Madri ou o Xavi Hernandez no Barça. Ele: "Não, vou colocar quem eu acho, o Marco se encaixa na minha ideia de jogo". No início, ele teve essa pressão.

Marcos Senna e Xabi Alonso Espanha

Getty Images

Contribuição à Espanha

- Eu acho que a nível físico. A nível técnico o Xavi Alonso era muito bom. Ele já tinha estreado e meio que não funcionou. Ele me testou e funcionou bem. Entrei no momento que estava precisando. "Eu vou pegar e não vou largar porque a oportunidade chega só uma vez". O Xavi Alonso falou: "vou ter que esperar meu momento". E teve que esperar. Ele veio jogar só na Copa de 2010. Eu sabia que na Copa não seria titular. Nas eliminatórias, os titulares eram o Busquets e o Alonso. Na Eurocopa ele só usava um volante, o Xavi era mais avançado com Iniesta e Silva, Villa e Torres. O Del Bosque começou a usar dois volantes. Eu sabia que estava na última copa, com 34 anos. No Espanhol, eu não estava voando, mas estava no bolo. No último minuto, o Del Bosque optou pelo Ravi Martinez, que era do Bilbao e depois jogou no Bayern, era um menino que nem havia estreado. Jogava no sub21. Eu estava convencido que ia. Fiquei super mal. Era jogar a Copa do Mundo e tchau. Acabei que não fui. A imprensa também não entendeu. Eu também nunca criei polêmica. Está tudo certo. Nunca fui um jogador polêmico. O Villareal é um time que tem carisma, todo mundo gosta. O Aragonés foi fundamental. No início, quando o Fábregas e eu estávamos estreando em uma das falas ele disse: "Aqui não faz diferença quem tem 150 jogos e nem o Marco ou Fábregas que estão no primeiro. Aqui é grupo, família". A partir desse dia, eu relaxei, me deu aquela confiança de me sentir em casa. Ele sempre conversava comigo,falava que eu tinha que bater falta e não o Riquelme: "Marco, quando tiver falta, pega a bola você". Tá bom que eu ia pegar a bola do homem. E os outros jogadores me tratavam super bem. Eles tiveram um plus de cuidado comigo porque esse tipo de situação é um pouco complicada dependendo. Tiveram essa atenção de que você é um filho adotivo, um irmão. Independente de cor. Você é de outro país, de cor negra. Eu nunca tive esse problema na Espanha, só tenho que agradecer.

Pressão sobre Aragonés

- Esse título de 2008, nas Eliminatórias da Eurocopa o pessoal estava pedindo a cabeça do treinador. O pessoal queria que ele levasse o Raul de qualquer jeito e ele tinha decidido que o Raul não ia levar. Problema interno deles. E chegamos na Eurocopa desacreditados mesmo com os talentos que nós tínhamos, por causa das Eliminatórias. Acho que o Brasil em 1994 passou pela mesma situação, com a Espanha basicamente aconteceu o mesmo. Na Espanha tinha muito Barcelona e Madri, com aquele ego de que se você não correr para mim, não vou correr para você. E ele conseguiu fechar o grupo. "Eu tenho certeza, se vocês quiserem, eu estou convencido, a gente vai ganhar, e vamos jogar assim". E mudou o sistema. Ele fez o tiqui taca. A gente começou a jogar de maneira diferente. Antes era dois pontos, com um centroavante grande. Dois toques no meio, quando antes a bola chegar nos pontos, cruzamento e pá. Mudou. Qualidade, vamos chegar tocando, saindo de trás e deu certinho. Desde o primeiro jogo até a final. Eu recomendo colocar no vídeo e ver como a Seleção espanhola jogava, era maravilhosa. Era uma delícia. Eu via o Xavi, Iniesta, o Silva. "Pô, os caras estão apertados, não vou dar a bola". Mas dá, os caras não perdiam. Os times que tentavam pressionar a gente, não...Foi na época do Barcelona do Guardiola. O Aragonés: "está funcionando lá, vou tentar aqui". Não falou com as palavras dele, mas estava na cara. Funcionou igual o Barcelona, foi o melhor time que vi jogar, não dava para ganhar. Quando ia jogar com o Villareal não dava para empatar, nem para perder de um a zero. Era de três para cima e a seleção espanhola era isso.

Relação com Rodri

- Ele esteve no Villareal e perguntaram a ele se tem alguém em que servia de inspiração. Ele falou que eu e de outro jogador. Pra mim, é um privilégio, um orgulho, receber o elogio de quem é.

Fonte: Ge

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