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É possível falar de alterações de posicionamento, de intervenções do treinador, e certamente cada um destes eventos terá seu papel para mudar os rumos de um jogo. No entanto, não há mudança tática tão impactante numa partida de futebol quanto um gol. E ao marcá-lo, aos 34 minutos do duelo com o Paraguai, o Brasil criou para si uma circunstância que a estreia contra a Costa Rica não proporcionara: o talento da seleção brasileira atacando espaços mais generosos. A combinação costuma ser fatal. Um jogo difícil, desconfortável, entre pequenas evoluções e alguns problemas que voltavam a se apresentar, rapidamente se resolveu.O Brasil ainda voltou, em muitos momentos, a produzir lances em que as soluções dependiam demais da individualidade. E na noite de Las Vegas, um recital de Vinícius Júnior, típico de um favorito ao prêmio de melhor jogador do mundo na temporada, ofereceu os melhores caminhos ao Brasil. O mundo vive discutindo por que jogadores aclamados em clubes, por vezes, não têm rendimento similar em suas seleções. O caso brasileiro é emblemático: num trabalho em estágio ainda inicial como é o da comissão técnica atual, não é fácil criar os contextos de clubes, em que há o dia a dia de treinos. Mas, contra o Paraguai, Vinícius desconheceu obstáculos.Vinicius Junior comemora gol do Brasil contra o ParaguaiKevork Djansezian/Getty ImagesClaro que houve progressos. Houve mais momentos em que o time tentou atacar em profundidade, ocupou mais a defesa rival, viu Wendell se oferecer mais como opção pela esquerda. Mas ainda em ocasiões esparsas. Até a abertura do marcador, persistiam as sensações de uma certa falta de agressividade, de aproximações e de jogadores atacando a linha defensiva paraguaia. E, sem bola, a proteção da entrada da área ficou abaixo do esperado. O que mudou, de fato, foi a postura do rival. Ao contrário da Costa Rica, o Paraguai tentou jogar. E, claro, sofreu o primeiro gol. A partir daí, o jogo destravou e a seleção teve espaços – bem aproveitados, diga-se. Até o 1 a 0, a partida não dava indícios de que terminaria em goleada.Times que existem há pouco tempo, caso desta seleção vítima do desgoverno da CBF, precisam ser avaliadas em amostragens maiores. Do contrário, o risco é transitar com velocidade acima do recomendável entre a euforia e a depressão. O próprio Dorival Júnior, apenas em seu segundo jogo oficial no cargo, ainda lida com problemas inesperados que algumas partidas oferecem. Aconteceu algo importante na goleada sobre o Paraguai.Há uma clara ideia de evitar que Rodrygo e Vinícius Júnior precisem retornar ao campo defensivo sempre que o Brasil perde a bola. Para equilibrar o time na hora de defender, a seleção forma duas linhas de quatro homens. Na primeira, estão os zagueiros e laterais. Na segunda, João Gomes se desloca para o lado esquerdo, por onde, em tese, cobre Vini ou Rodrygo. Pela direita, Savinho faz a recomposição e, no centro, ficam Bruno Guimarães e Paquetá, este último um jogador menos forte na proteção da área.Eram 15 minutos quando Bobadilla recebeu com certa liberdade e Alisson precisou fazer grande defesa. Ali, Dorival interveio e moveu Paquetá para a esquerda e trouxe João Gomes para o centro, formando a dupla de volantes com Bruno Guimarães na hora de defender. O Paraguai não deixou de ameaçar e a seleção não se tornou uma rocha defensiva, mas a capacidade de recuperações de bola de João Gomes mostrou-se importante. Seu papel com bola, este sim, ainda gera debates válidos.No entanto, tal mexida impactou a forma de atacar. Paquetá usualmente forma com Rodrygo uma dupla no centro do ataque, cabendo a ele se posicionar mais à direita. Ao passar para a esquerda, o que se moveu foi o eixo do ataque do Brasil. Porque os raros momentos de aproximações e trocas de passes aconteceram no setor esquerdo, juntando o próprio Paquetá com Rodrygo e Vinícius. Se na estreia era Vini Jr quem parecia isolado, desta vez quem se viu mais solitário foi Savinho, que ainda assim teve boa atuação.A seleção nem sempre era agressiva, nem sempre ocupava a linha defensiva paraguaia ou chegava com tanta gente à área. Rodrygo já recebera bolas tendo um mar de defensores ao seu redor, e o mesmo ocorrera com Vinícius. Até que surgiu o lance do gol, em que os dois atacantes, mais Paquetá e Bruno Guimarães estavam próximos. O gol é resultado de uma jogada belíssima. É um bom sinal, mas ainda um momento que precisa se repetir mais no jogo brasileiro. As dinâmicas ofensivas ainda parecem estar em desenvolvimento, e só o tempo dirá em que nível chegarão. Sem bola, o time permitiu 15 finalizações ao Paraguai, o que não é um número estimulante. Mas, ao ter espaço, produziu para fazer até mais do que os quatro gols marcados. O jogo ganhou outra cara quando o Brasil se viu em vantagem.O futebol brasileiro desrespeitou processos desde que terminou a última Copa. Não seria justo imaginar um time pronto a esta altura. Ao menos, a goleada praticamente assegura um lugar na próxima fase. Da noite de Las Vegas, a melhor recordação será a forma como Vinícius Júnior fez todo mundo perceber que o jogo seria dele.