"Se você estiver só com dor de cabeça e febre, o profissional vai suspeitar também de outras doenças, como Covid e influenza, por exemplo. E será feita uma análise para fechar o diagnóstico", explica Melissa Palmiere, médica da Vigilância Epidemiológica da Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo.
A reportagem ouviu especialistas a respeito dos exames de dengue disponíveis e a finalidade de cada um deles. Entre os métodos diagnósticos, estão: Antígeno NS1, o PCR (Reação em Cadeia da Polimerase em Tempo Real) e o IgM IgG.
Segundo Palmiere, na capital paulista, o paciente que procurar uma UBS (Unidade Básica de Saúde) com sintomas e for classificado como caso suspeito de dengue, será submetido ao teste rápido, que pode ser o NS1 ou o IgM IgG.
"O teste de dengue é importante para as ações de vigilância ambiental. Uma vez que há o caso diagnosticado, chegando essa notificação, você deflagra as ações de controle", diz Palmiere.
"É essa a importância, muito mais do que a questão de mudar algo na conduta clínica do paciente. Aos sinais e sintomas, o tratamento é hidratação. Dando positivo ou negativo, o teste não norteia as ações terapêuticas para dengue. Para o paciente, é indicado avisar sua comunidade, 'olha, estou com dengue, olhe o seu quintal'. Isso é muito importante porque há cidades no país que não conseguem ter o mesmo potencial de testagem que São Paulo tem", afirma Palmieri.
QUAL É A DIFERENÇA ENTRE O NS1, O PCR E O IGM IGG?
De acordo com Rosana Richtmann, infectologista e consultora da Dasa, o NS1 e o PCR detectam o vírus, e o IgM IgG os anticorpos.
O NS1 é o mais usado no início da doença, quando o vírus está se replicando de forma ativa no organismo. Ele identifica a concentração de antígenos no corpo durante a fase aguda da dengue -até o 5º dia após a infecção. Quando o teste é do tipo rápido, basta uma picada no dedo; se for o teste laboratorial, é feita a coleta do sangue.
O PCR detecta o material genético do vírus no sangue do paciente. Com ele, é possível identificar a presença do vírus no estágio inicial da doença -em alguns casos, antes mesmo do surgimento dos sintomas- e qual dos quatro sorotipos causou a infecção. A modalidade é feita por meio de coleta de sangue.
O IgM IgG é uma sorologia capaz de detectar níveis elevados desses dois anticorpos no organismo, que começam a ser produzidos algum tempo depois da infecção pelo vírus da dengue. O IgG mostra se a pessoa teve contato com o vírus no passado, e o IgM se ela está doente no momento. As formas de coleta são semelhantes às do NS1.
"Se eu começar com febre hoje e colher a pesquisa de anticorpos, que é a sorologia, vai dar negativo, porque não houve tempo de sensibilizar o meu sistema imune para a produção desses anticorpos. O PCR e o Antígeno NS1 são exames para o início da infecção. A sorologia, IgM IgG, são exames mais tardios na evolução da doença", diz Richtmann.
A infectologista ressalta que há testes rápidos tanto para anticorpos (IgG IgM) quanto para antígeno NS1. A técnica é chamada de imunocromatografia.
QUAL É O TEMPO DE ESPERA PARA A LIBERAÇÃO DO RESULTADO DO EXAME DE DENGUE?
É variável conforme o lugar que o teste é feito. A Dasa, por exemplo, não faz teste rápido. O PCR, que é mais utilizado nos serviços privados, demora cerca de 48h para ficar pronto, e os outros 24h, em média.
Na rede pública municipal de saúde de São Paulo, o NS1 e o IgG IgM pelo teste rápido têm resultado em cerca de 15 minutos.
E SE O TESTE NS1 DER NEGATIVO?
Richtmann afirma que o resultado negativo para dengue não exclui a possibilidade da doença. Neste caso, repita o teste a partir do dia seguinte até em 48 horas. Se continuar negativo, aguarde o sexto dia -quando já é possível detectar a presença de anticorpos- e faça a sorologia.
"É importante reforçar que o teste rápido de antígeno negativo não afasta o diagnóstico [de dengue]. Se você está no meio de uma epidemia e tem um quadro clínico que pode ser dengue, não é o teste negativo que vai fazer você deixar de adotar as medidas básicas de hidratação e repouso, até porque aquilo pode ser um falso negativo", orienta Rosana Richtmann.
"Os testes laboratoriais vêm para confirmar uma hipótese diagnóstica. Então é importante que eles sejam feitos exatamente para entendermos onde está ocorrendo transmissão. São testes simples e muito importantes", finaliza a consultora.
EXISTE AUTOTESTE PARA DENGUE?
Não. O exame deve ser feito por profissional de saúde e o resultado informado ao Ministério da Saúde, uma vez que as arboviroses são de notificação obrigatória.
POSSO FAZER UM TESTE DE DENGUE NA FARMÁCIA?
O Antígeno NS1 e Anticorpos IgG IgM estão na lista dos testes liberados pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), em 2023, para serem feitos nas farmácias e drogarias.
A Abrafarma (Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias) afirmou que as redes associadas que aplicam teste de dengue fazem a notificação. A entidade produz um painel com os resultados e o remete ao Ministério da Saúde semanalmente.
Os laboratórios também notificam o ministério, de acordo com a Abramed (Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica).
A Anvisa disse que, para realização de testes de dengue em farmácias, assim como outros exames de análise clínica de uso profissional, é necessário que o estabelecimento tenha autorização do órgão de vigilância sanitária local.
A agência explicou que as farmácias deverão cumprir com os demais requisitos da RDC 786/2023, como infraestrutura necessária; gestão da qualidade; gerenciamento de tecnologias, dos processos operacionais e de resíduos; gestão de pessoal, educação permanente dos profissionais, notificação obrigatória de doenças, dentre outros.
Na quarta-feira (6), a Anvisa anunciou que irá priorizar os pedidos de registro de dispositivos como kits, testes e insumos que auxiliem no diagnóstico da dengue. A medida vale para solicitações por registro de novos testes em andamento e para aqueles que forem protocolados nos próximos 60 dias.
Fonte: noticias ao minuto