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Opinião: Lusa comprou ovos, mas não consegue fazer omelete

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Por Virtual Rondônia em 01/02/2024 às 14:03:34
O ditado do ex-treinador Otto Glória volta a ecoar no Canindé após três derrotas seguidas no Paulistão; desta vez o clube tem elenco, mas não consegue resultado "Sem ovos não se faz omelete". A icônica frase, tão repetida no mundo da bola, é de autoria do maior técnico que a Portuguesa teve em toda história: Otto Glória. Ele se referia, claro, à impossibilidade de ter bom futebol sem jogadores de qualidade.

Essa frase foi bastante lembrada no Canindé na temporada 2023. Afinal, o sofrimento no Paulistão, que só não culminou em rebaixamento por milagre, foi resultado de um elenco mal montado, com poucas opções de qualidade, cheio de buracos.

Portuguesa-SP 0 x 2 Ponte Preta | Melhores momentos | Campeonato Paulista 2024

Houve mudanças na montagem do elenco para 2024, sobretudo no perfil dos atletas contratados. Em vez de segundos e terceiros reservas, jogadores com minutagem em Série B. Alguns experientes, com rodagem, e nítida condição de fazer diferença.

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O início do Campeonato Paulista apenas reforçou essa impressão. Não só a virada por 3 a 2 sobre a Inter de Limeira, um confronto direto pela permanência na elite estadual e pela vaga na Série D do Campeonato Brasileiro. Mas mesmo nas derrotas para duas equipes de Série A, muito superiores, como RB Bragantino (1x2) e São Paulo (0x1).

Lance de Portuguesa x Ponte Preta pelo Paulistão 2024

Dorival Rosa/Portuguesa

Essas três primeiras rodadas confirmaram a ideia de um elenco promissor, com potencial de ao menos não sofrer como em 2023, e talvez até poder sonhar com algo além de apenas evitar o retorno para a Série A2. Só que correções eram necessárias.

O embate diante da Ponte Preta nesta quarta-feira (31), no estádio do Canindé, era determinante em vários aspectos. Um era o novo confronto direto, contra uma equipe que luta pela permanência na divisão, aquele famoso "jogo de seis pontos".

Outro era voltar a somar pontos após duas derrotas amargas, porém, não improváveis. Com uma vitória, a Lusa somaria em um terço de campeonato seis pontos, ou seja, metade do necessário para não cair. Por fim, as duas rodadas na sequência: dois jogos fora de casa, difíceis, de adversários duros como São Bernardo e Corinthians.

Dado Cavalcanti, técnico da Portuguesa

Dorival Rosa/Portuguesa

Por fim, esse embate com a Ponte Preta estava envolto de uma expectativa da torcida rubro-verde por mudanças na equipe. Se não de formatação tática, de escalação. Ou mesmo de postura. Principalmente no setor defensivo, tão vulnerável e repetindo falhas básicas, de fundamento e posicionamento, nas três primeiras rodadas do Paulistão.

O técnico Dado Cavalcanti repetiu a escalação com Thomazella; Douglas Borel, Yeferson Quintana, Patrick e Marquinhos Pedroso; Zé Ricardo, Dudu Miraíma e Giovanni Augusto; Chrigor, Henrique Dourado e Victor Andrade.

Como esperado, a Lusa iniciou bem a partida, tomando a iniciativa, controlando a posse de bola, buscando criar oportunidades de finalização. A Ponte Preta veio fechada, cautelosa, na manjada tática de esperar erros para contra-atacar em velocidade.

Torcedor da Portuguesa no Canindé em jogo do Paulistão

Dorival Rosa/Portuguesa

Douglas Borel e Zé Ricardo de fora da área, e Henrique Dourado em pelo menos duas oportunidades, foram os que levaram mais perigo. A Macaca ficava à espera de um erro lusitano e deu um único chute incisivo, com Igor Inocêncio. O que mais preocupou a Portuguesa, na verdade, foi a lesão muscular de Victor Andrade, motor da equipe no ataque. Teve de sair e deu lugar à entrada de Felipe Marques.

Só que a Lusa, aos 44 minutos, deu à equipe de Campinas o que ela mais queria. Chrigor pediu uma falta na entrada da área, um empurrão pelas costas, mas o árbitro Luiz Flavio de Oliveira mandou seguir. Por estar de frente para a bola, podendo finalizar, e pela forma que caiu, para alguns pareceu uma cavada.

Não é uma jogada unânime de falta ou não falta. Na ausência de marcação, Chrigor ficou caído no campo e a Ponte Preta saiu para o contra-ataque. Como o próprio Dado Cavalcanti admitiu após o jogo, a Portuguesa teve chance de matar a jogada ainda no campo de defesa com Douglas Borel e até com Zé Ricardo. O primeiro erro.

A Macaca não partiu direto em direção ao gol, levou a bola para a esquerda, tentou finalizar com Jeh, mas parou na marcação. Ou seja, houve tempo para recompor. Foi na segunda bola que Inocêncio achou Risso pela esquerda para o cruzamento.

Portuguesa x Ponte Preta, Paulistão

Marcos Ribolli

Aí vem a repetição. Quando o cruzamento é feito, a Portuguesa tem seis jogadores dentro da área, sem contar o goleiro Thomazella. A Ponte Preta tinha apenas um e foi justo o que estava fora dela, Jeh, que entrou livre, sozinho, solto para cabecear.

Quintana, Patrick e Pedroso estavam juntos marcando Dodô. A esquerda fica vulnerável, Zé Ricardo não marca ninguém e Felipe Marques chega atrasado. Está longe de ser a primeira vez. Tratam-se de erros já vistos neste Paulistão, sem correção.

Um gol no finalzinho do primeiro tempo, após perder o motor do ataque, era tudo de que a Lusa não precisava. E tudo que a Ponte Preta queria. O time do Canindé deu ao de Campinas a tarefa ideal: fechar, retrancar, não deixar finalizar a gol.

Dado Cavalcanti voltou com um volante no lugar de outro: saiu Dudu e entrou Ricardinho. Foi, ao longo da segunda etapa, mexendo mais. Paraizo no lugar de Chrigor, que não gostou da troca, Rone no lugar de Borel, que sentiu a coxa, e Diniz no lugar de Pedroso, para dar um novo gás à lateral esquerda.

Portuguesa x Ponte Preta, Canindé

Marcos Ribolli

A Ponte Preta assustou aos 25 minutos, quando Elvis cobrou falta mandando a bola dentro da área e, em mais uma pane, a defesa rubro-verde deixou Matheus Silva cabecear completamente sem marcação. Só não fez porque errou muito a pontaria.

É verdade que a Lusa teve o amplo domínio da bola, mais de 65% de posse no geral, e chegou a finalizar 21 vezes, sendo apenas seis na direção do gol. Teve chance com Paraizo, no rebote de um chute de Felipe Marques. Outra em um lance em que Paraizo e Dourado puderam finalizar, mas não o fizeram, e Felipe Marques chutou rente à trave. Além de uma bola no travessão de Diniz, em um raro chute de fora da área.

A Portuguesa, mesmo precisando do resultado, não abria mão de sair jogando com bola nos pés desde o goleiro. Muitas vezes retardando uma descida que, se rápida e direta, pegaria a defesa da Ponte Preta desmontada. Também girou demais o entorno da área, arriscando pouco de longe, tentando entrar com bola e tudo. Abusou do corredor central.

No último minuto do tempo regulamentar, aí sim já cansada e sem muita organização defensiva, tentando empatar a todo custo, a Lusa sofreu o segundo gol. Cruzamento da direita, casquinha de cabeça de Elvis, Dado livre para cabecear para as redes. Nem é preciso descrever Quintana e Patrick marcando um só e Rone sem marcar ninguém.

Jeh, atacante da Ponte Preta, comemora gol contra a Portuguesa

Marcos Ribolli

A Lusa sentiu bastante a baixa de Victor Andrade, que vem sendo a principal peça ofensiva, criando a maior parte das chances. Além disso, poderia muito bem ter aproveitado as oportunidades que teve, sobretudo com Henrique Dourado e Paraizo. O estilo do jogo, aliás, favorecia a ambos – ao contrário do São Paulo para Dourado.

As coisas poderiam ser diferentes sem a lesão, com os gols, ou até com a marcação da falta que Chrigor reivindica. Só que também poderiam ser diferentes se a Portuguesa não tivesse, mais uma vez, sido tão vulnerável no setor defensivo.

Quatro jogos disputados e sete gols sofridos. A bola aérea é um terror para a defesa da Lusa. A recomposição pode nem ser lenta, mas é desorganizada. A equipe saiu atrás no placar em todos os jogos, tomou gols sempre quando estava melhor (talvez à exceção do jogo contra o São Paulo), sacrificando e sobrecarregando o ataque.

O ataque não é um mundo encantado, todos sabem. Só que a situação se agrava demais com os erros defensivos. Repetindo: quatro jogos e sete gols. Nenhuma mudança do técnico Dado Cavalcanti. Seja de escalação, posicionamento ou postura. Tudo igual.

As primeiras vaias e os primeiros xingamentos ao treinador foram ouvidos no Canindé. O protesto da torcida, na porta do vestiário, é reflexo de uma equipe que mostra ter peças, mostra ter potencial, mostra ser promissora, mas soma a terceira derrota seguida. Desta vez, para um adversário direto contra a queda, em um Paulistão de tiro curtíssimo.

Jogadores da Ponte comemoram vitória sobre a Portuguesa

Marcos Ribolli

O trauma de 2023 assola a torcida, que sabe a importância desses três pontos cedidos à Ponte Preta. Ao contrário da temporada passada, é evidente que Portuguesa tem um elenco mais bem montado, melhores recursos, opções que podem fazer a diferença.

É aí que a metáfora de Otto Glória volta a ecoar pelas alamedas do Canindé. Em 2024 a Lusa enfim comprou ovos, mas não está conseguindo fazer omelete. Seja por querer prato mais refinado e menos simples, seja por se negar a corrigir uma receita falha.

*Luiz Nascimento, 31, é jornalista da rádio CBN, documentarista do Acervo da Bola e escreve sobre a Portuguesa há 14 anos, sendo a maior parte deles no ge. As opiniões aqui contidas não necessariamente refletem as do site.

Fonte: Ge

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