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O ditado do ex-treinador Otto Glória volta a ecoar no Canindé após três derrotas seguidas no Paulistão; desta vez o clube tem elenco, mas não consegue resultado "Sem ovos não se faz omelete". A icônica frase, tão repetida no mundo da bola, é de autoria do maior técnico que a Portuguesa teve em toda história: Otto Glória. Ele se referia, claro, à impossibilidade de ter bom futebol sem jogadores de qualidade.Essa frase foi bastante lembrada no Canindé na temporada 2023. Afinal, o sofrimento no Paulistão, que só não culminou em rebaixamento por milagre, foi resultado de um elenco mal montado, com poucas opções de qualidade, cheio de buracos.Portuguesa-SP 0 x 2 Ponte Preta | Melhores momentos | Campeonato Paulista 2024Houve mudanças na montagem do elenco para 2024, sobretudo no perfil dos atletas contratados. Em vez de segundos e terceiros reservas, jogadores com minutagem em Série B. Alguns experientes, com rodagem, e nítida condição de fazer diferença.Veja também:+ Tabela e classificação do Paulistão+ Outras notícias da Portuguesa O início do Campeonato Paulista apenas reforçou essa impressão. Não só a virada por 3 a 2 sobre a Inter de Limeira, um confronto direto pela permanência na elite estadual e pela vaga na Série D do Campeonato Brasileiro. Mas mesmo nas derrotas para duas equipes de Série A, muito superiores, como RB Bragantino (1x2) e São Paulo (0x1).Lance de Portuguesa x Ponte Preta pelo Paulistão 2024Dorival Rosa/PortuguesaEssas três primeiras rodadas confirmaram a ideia de um elenco promissor, com potencial de ao menos não sofrer como em 2023, e talvez até poder sonhar com algo além de apenas evitar o retorno para a Série A2. Só que correções eram necessárias.O embate diante da Ponte Preta nesta quarta-feira (31), no estádio do Canindé, era determinante em vários aspectos. Um era o novo confronto direto, contra uma equipe que luta pela permanência na divisão, aquele famoso "jogo de seis pontos".Outro era voltar a somar pontos após duas derrotas amargas, porém, não improváveis. Com uma vitória, a Lusa somaria em um terço de campeonato seis pontos, ou seja, metade do necessário para não cair. Por fim, as duas rodadas na sequência: dois jogos fora de casa, difíceis, de adversários duros como São Bernardo e Corinthians.Dado Cavalcanti, técnico da PortuguesaDorival Rosa/PortuguesaPor fim, esse embate com a Ponte Preta estava envolto de uma expectativa da torcida rubro-verde por mudanças na equipe. Se não de formatação tática, de escalação. Ou mesmo de postura. Principalmente no setor defensivo, tão vulnerável e repetindo falhas básicas, de fundamento e posicionamento, nas três primeiras rodadas do Paulistão.O técnico Dado Cavalcanti repetiu a escalação com Thomazella; Douglas Borel, Yeferson Quintana, Patrick e Marquinhos Pedroso; Zé Ricardo, Dudu Miraíma e Giovanni Augusto; Chrigor, Henrique Dourado e Victor Andrade.Como esperado, a Lusa iniciou bem a partida, tomando a iniciativa, controlando a posse de bola, buscando criar oportunidades de finalização. A Ponte Preta veio fechada, cautelosa, na manjada tática de esperar erros para contra-atacar em velocidade.Torcedor da Portuguesa no Canindé em jogo do PaulistãoDorival Rosa/PortuguesaDouglas Borel e Zé Ricardo de fora da área, e Henrique Dourado em pelo menos duas oportunidades, foram os que levaram mais perigo. A Macaca ficava à espera de um erro lusitano e deu um único chute incisivo, com Igor Inocêncio. O que mais preocupou a Portuguesa, na verdade, foi a lesão muscular de Victor Andrade, motor da equipe no ataque. Teve de sair e deu lugar à entrada de Felipe Marques.Só que a Lusa, aos 44 minutos, deu à equipe de Campinas o que ela mais queria. Chrigor pediu uma falta na entrada da área, um empurrão pelas costas, mas o árbitro Luiz Flavio de Oliveira mandou seguir. Por estar de frente para a bola, podendo finalizar, e pela forma que caiu, para alguns pareceu uma cavada.Não é uma jogada unânime de falta ou não falta. Na ausência de marcação, Chrigor ficou caído no campo e a Ponte Preta saiu para o contra-ataque. Como o próprio Dado Cavalcanti admitiu após o jogo, a Portuguesa teve chance de matar a jogada ainda no campo de defesa com Douglas Borel e até com Zé Ricardo. O primeiro erro.A Macaca não partiu direto em direção ao gol, levou a bola para a esquerda, tentou finalizar com Jeh, mas parou na marcação. Ou seja, houve tempo para recompor. Foi na segunda bola que Inocêncio achou Risso pela esquerda para o cruzamento.Portuguesa x Ponte Preta, PaulistãoMarcos RibolliAí vem a repetição. Quando o cruzamento é feito, a Portuguesa tem seis jogadores dentro da área, sem contar o goleiro Thomazella. A Ponte Preta tinha apenas um e foi justo o que estava fora dela, Jeh, que entrou livre, sozinho, solto para cabecear.Quintana, Patrick e Pedroso estavam juntos marcando Dodô. A esquerda fica vulnerável, Zé Ricardo não marca ninguém e Felipe Marques chega atrasado. Está longe de ser a primeira vez. Tratam-se de erros já vistos neste Paulistão, sem correção.Um gol no finalzinho do primeiro tempo, após perder o motor do ataque, era tudo de que a Lusa não precisava. E tudo que a Ponte Preta queria. O time do Canindé deu ao de Campinas a tarefa ideal: fechar, retrancar, não deixar finalizar a gol.Dado Cavalcanti voltou com um volante no lugar de outro: saiu Dudu e entrou Ricardinho. Foi, ao longo da segunda etapa, mexendo mais. Paraizo no lugar de Chrigor, que não gostou da troca, Rone no lugar de Borel, que sentiu a coxa, e Diniz no lugar de Pedroso, para dar um novo gás à lateral esquerda.Portuguesa x Ponte Preta, CanindéMarcos RibolliA Ponte Preta assustou aos 25 minutos, quando Elvis cobrou falta mandando a bola dentro da área e, em mais uma pane, a defesa rubro-verde deixou Matheus Silva cabecear completamente sem marcação. Só não fez porque errou muito a pontaria.É verdade que a Lusa teve o amplo domínio da bola, mais de 65% de posse no geral, e chegou a finalizar 21 vezes, sendo apenas seis na direção do gol. Teve chance com Paraizo, no rebote de um chute de Felipe Marques. Outra em um lance em que Paraizo e Dourado puderam finalizar, mas não o fizeram, e Felipe Marques chutou rente à trave. Além de uma bola no travessão de Diniz, em um raro chute de fora da área.A Portuguesa, mesmo precisando do resultado, não abria mão de sair jogando com bola nos pés desde o goleiro. Muitas vezes retardando uma descida que, se rápida e direta, pegaria a defesa da Ponte Preta desmontada. Também girou demais o entorno da área, arriscando pouco de longe, tentando entrar com bola e tudo. Abusou do corredor central.No último minuto do tempo regulamentar, aí sim já cansada e sem muita organização defensiva, tentando empatar a todo custo, a Lusa sofreu o segundo gol. Cruzamento da direita, casquinha de cabeça de Elvis, Dado livre para cabecear para as redes. Nem é preciso descrever Quintana e Patrick marcando um só e Rone sem marcar ninguém.Jeh, atacante da Ponte Preta, comemora gol contra a PortuguesaMarcos RibolliA Lusa sentiu bastante a baixa de Victor Andrade, que vem sendo a principal peça ofensiva, criando a maior parte das chances. Além disso, poderia muito bem ter aproveitado as oportunidades que teve, sobretudo com Henrique Dourado e Paraizo. O estilo do jogo, aliás, favorecia a ambos – ao contrário do São Paulo para Dourado.As coisas poderiam ser diferentes sem a lesão, com os gols, ou até com a marcação da falta que Chrigor reivindica. Só que também poderiam ser diferentes se a Portuguesa não tivesse, mais uma vez, sido tão vulnerável no setor defensivo.Quatro jogos disputados e sete gols sofridos. A bola aérea é um terror para a defesa da Lusa. A recomposição pode nem ser lenta, mas é desorganizada. A equipe saiu atrás no placar em todos os jogos, tomou gols sempre quando estava melhor (talvez à exceção do jogo contra o São Paulo), sacrificando e sobrecarregando o ataque.O ataque não é um mundo encantado, todos sabem. Só que a situação se agrava demais com os erros defensivos. Repetindo: quatro jogos e sete gols. Nenhuma mudança do técnico Dado Cavalcanti. Seja de escalação, posicionamento ou postura. Tudo igual.As primeiras vaias e os primeiros xingamentos ao treinador foram ouvidos no Canindé. O protesto da torcida, na porta do vestiário, é reflexo de uma equipe que mostra ter peças, mostra ter potencial, mostra ser promissora, mas soma a terceira derrota seguida. Desta vez, para um adversário direto contra a queda, em um Paulistão de tiro curtíssimo.Jogadores da Ponte comemoram vitória sobre a PortuguesaMarcos RibolliO trauma de 2023 assola a torcida, que sabe a importância desses três pontos cedidos à Ponte Preta. Ao contrário da temporada passada, é evidente que Portuguesa tem um elenco mais bem montado, melhores recursos, opções que podem fazer a diferença.É aí que a metáfora de Otto Glória volta a ecoar pelas alamedas do Canindé. Em 2024 a Lusa enfim comprou ovos, mas não está conseguindo fazer omelete. Seja por querer prato mais refinado e menos simples, seja por se negar a corrigir uma receita falha.*Luiz Nascimento, 31, é jornalista da rádio CBN, documentarista do Acervo da Bola e escreve sobre a Portuguesa há 14 anos, sendo a maior parte deles no ge. 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