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Anderson relembra parceria com Cristiano Ronaldo e resume fase do Manchester United: "Bagunça"

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Ex-meia diz que time de Manchester tem contratado "qualquer jogador". Em entrevista ao ge, admite: "Se eu tivesse 5% da mentalidade do CR7, estaria entre os 20 melhores da época" Nani e eu moramos quase um ano na casa do Cristiano Ronaldo. O treino era 9h30, mas tínhamos que ir às vezes 6h30, porque o Ronaldo estava no clube e a gente ia com ele. Ficava Nani e eu dormindo lá nas macas e esperando, porque tinha que começar o trabalho dele. Se eu tivesse 5% da mentalidade do CR7, estaria entre os 20 melhores meias daquele momento. Me atrapalhou aquele nosso lado brasileiro... De achar que já ganhou tudo e está tudo resolvido. De não querer algo um pouco a mais.

Aos 35 anos, o ex-jogador Anderson revela ao ge detalhes de sua vitoriosa carreira no futebol. Aposentado desde 2019, o gaúcho admite que se tivesse outra mentalidade poderia ter ido ainda mais longe, mas acredita que "ganhou tudo que tinha para ganhar". Ele relembra com orgulho dos anos vividos no Manchester United, entre 2007 e 2014, e da parceria que teve com CR7.

— Logo que cheguei eu fui para a casa do Cristiano. Eu agradeço muito a ele. Me adotou. A gente morou quase um ano na casa do Ronaldo. Saímos porque quisemos sair. Por ele ficaríamos lá. Não gastávamos com nada. Nani e eu, para não sermos sem noção, tínhamos que fazer pelo menos um mercado. O cara levava a gente para o treino, dava alimentação, tinha a cozinheira para a gente. Tinha piscina dentro e fora de casa, jacuzzi, quadra de tênis — conta Anderson.

Anderson detalha período em que morou na casa de CR7: "A gente não gastou um real"

No United, Anderson conquistou 12 títulos: quatro vezes a Premier League, quatro vezes a Supercopa da Inglaterra, duas vezes a Copa da Liga Inglesa, além de uma Champions League e um Mundial de Clubes. Além do comando de Alex Ferguson, quem admira muito (detalhes da relação mais abaixo na matéria), o ex-jogador credita o sucesso ao "mix de campeão" que a equipe tinha.

"Nosso time tinha jogador bonito, jogador mais feio, jogador vagabundo, jogador certinho... tinha um mix de time campeão. Na nossa época nem tinha Instagram. Se tivesse Instagram a gente estaria f***. Porque a gente fazia tanta m***. Mas lá dentro a gente resolvia"

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Nani, Anderson e Cristiano Ronaldo em treino do Manchester United

Getty Images

"Manchester United está uma bagunça"

Vivendo em Porto Alegre, enquanto aguarda o nascimento de seu nono filho, o ex-jogador tem assistido futebol e acompanhado o Manchester United. No entanto, o ex-meia lamenta o momento da equipe, que recentemente foi eliminada na primeira fase da Champions League e não conquista o Campeonato Inglês há 11 anos.

— Hoje em dia, os clubes pequenos vão jogar em Old Trafford e não têm medo. Hoje o clube está sem saber qual treinador vai colocar, quem controla, uma bagunça... O Manchester contrata às vezes muito errado. Se vai pagar 100 milhões num jogador, paga no Neymar. Jogador que vai fazer a diferença. O Manchester paga 70, 80, 90 milhões em jogadores que não tem lógica. O desespero do clube eu acho que é tão grande que qualquer um está servindo — reclama.

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Anderson, que deseja voltar a trabalhar com futebol, com gestão de categorias de base, opina que o clube de Manchester errou ao se desfazer de ex-jogadores que conheciam bem o clube. Para o ex-atleta, faltou ao United proteger Cristiano Ronaldo em seu retorno, entre 2021 e 2022.

— Quando teve a volta do Cristiano... cara, é o Cristiano Ronaldo. Protege ele. Hoje o Cristiano tem 50 gols. "Ah, mas é na Arábia Saudita", mas tem 50 gols. De três chances, duas ele vai fazer, isso é fato. E quem joga contra ele, tem medo. E hoje ninguém tem medo de jogar contra o Manchester. Sabem que o Manchester está tomando porrada atrás de porrada. Ronaldo chegou num momento do Manchester de construção e falaram: "Se vira". E marcou 25 gols. E depois foi embora. Tem alguma coisa errada.

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Anderson reclama de momento atual do Manchester United: "Bagunça"

Getty Images

O título da Champions e o pênalti decisivo

Os olhos do ex-atleta brilham ao contar do ápice de sua carreira, que aconteceu no título da Champions League 2007/08, vencendo o Chelsea na decisão por pênaltis. Anderson lembra que saiu do banco de reservas nos últimos instantes, justamente para ser um dos cobradores.

Acabando a prorrogação, o Giggs olha para o Ferguson e diz: "Põe o Anderson, ele bate bem pênalti". Eu fiquei assim... fiquei duro. Eu tinha 18 anos. Havia dez anos que o Manchester não ganhava a Champions League. Eu botei o pé no campo e acabou o jogo. Eu pensei: "F***".

Anderson conta experiência de cobrar pênalti na final da Champions League pelo Manchester United

— Eu era o sétimo ou sexto a cobrar. O Cristiano Ronaldo, nosso melhor jogador, errou o primeiro. No último pênalti, o Terry erra. Na minha vez eu nunca tive uma caminhada tão longa na minha vida. Queria que acabasse logo. Passou na minha cabeça que eu sofri muito no meu decorrer. Passa um vídeo. Pensando que estou no melhor momento da minha vida, que Deus me abençoou para estar aqui. Mas não não entrava um fio... não entrava nada. Ele (Petr Cech) abre os braços. Esse goleiro é um animal, muito grande. Eu pensei que ia só fechar o olho e soltar o pé. Se entrar, entrou. Chutei e a bola passou perto da mão dele, mas entrou. Aí chegou o último pênalti, o Anelka errou e a gente foi campeão. Eu cheguei a bater o pênalti sem antes tocar na bola — relembra Anderson.

Anderson, Cristiano Ronaldo e demais jogadores do Manchester United comemoram título da Champions League 2007/08 sobre o Chelsea nos pênaltis

Getty Images

Relação com Sir Alex Ferguson

Anderson lembra com muito carinho do clima que existia no elenco do Manchester United nos tempos de Sir Alex Ferguson. Ele revela que, ainda hoje, existe um grupo no Whatsapp com nomes como Evra, Ferdinand, Rooney, Nani, Carrick, Tevez, Ji-Sun Park, Chicharito e outros. Além de Cristiano Ronaldo, outro que teve uma relação muito próxima com o brasileiro foi o histórico treinador escocês.

— Foi a primeira vez que eu peguei avião privado. Fui para Manchester. Tudo escuro na cidade às quatro da tarde. Aí chegamos lá, já vem os câmeras. Aí eu vejo um senhorzinho vindo falar comigo, de chinelo de dedo. Eu não entendia nada. Aí a minha mãe: "Esse é o teu treinador". Aí eu: "Esse é o meu treinador?". Aí eu dei a mão a ele, e dali ficou um carinho e amizade muito grande.

Anderson, Sir Alex Ferguson, e Tevez, na chegada dos dois atletas ao Manchester United

Getty Images

"O Manchester acabou"

A temporada 2012/13 (a da última Premier League conquistada pelo clube) marcou a saída de Sir Alex Ferguson. Depois de 27 anos no Manchester United, o treinador escocês se despediu para a surpresa do elenco. Anderson conta como foi lidar com a despedida.

— Ferguson e eu tínhamos um carinho muito grande. Era além de treinador e jogador. Ele me fez entender as coisas. Me botou no meu lugar. Ele controlava o Manchester 100%. Um dia eu chego atrasado do treino, quando o Evra me falou: "Bah, negão, o homem vai sair". Aí eu achei que fosse sacanagem, mas ele disse que era sério. Aí já vem aquele calafrio, aquela tristeza no coração. Aí ele (Ferguson) olha para mim e eu falei para ele parar com essas loucuras. Ele me deu a mão e disse: "Obrigado filho. Obrigado por tudo e por ser essa pessoa maravilhosa. Por eu te xingar muitas vezes. Dizer que você é uma pessoa fantástica, menino de ouro." Aí eu comecei a chorar.

O ex-meia do United revela o duro sentimento que os jogadores tinham ao saber da saída de Ferguson e conta o que o escocês tinha como diferencial em seu trabalho.

— Eu cheguei em casa muito triste. Aí ficou naquele ano uma sensação de que o clube morreu. Sentou eu, Evra, Welbeck e a gente falava: "Acabou o Manchester". Ele (Ferguson) sabia a hora de te dar amor e de te xingar na tua cara se fosse preciso e te fazer chorar na frente de todo mundo. Já vi vários jogadores acabarem chorando. Não chorar porque xingou, mas chorar de raiva. Não tinha jogador que ia ganhar mais salário que ele ou ter mais voz que ele. O clube foi o que foi por causa dele — resume Anderson.

Anderson, Alex Ferguson e Cristiano Ronaldo em treino do Manchester United

Getty Images

Veja outros trechos da entrevista:

Vida em Porto Alegre

"Eu amo Porto Alegre. Não sou muito de ir para Rio ou São Paulo. Sou de ficar aqui, que é onde eu conheço, controlo, não tenho estresse. As pessoas estão cansadas de me ver nos lugares, então é mais familiar. Não entendo a Linha Amarela, Linha Vermelha, então prefiro ficar aqui no Sul."

Passagem pelo Internacional

"No Brasil, às vezes é complicado. Eu saí do Inter como o jogador com mais assistências no clube. Nunca tive uma sequência boa de jogos que me deram. E em uma no eu tive seis treinadores. É loucura. Como um jogador vai ter seis treinadores em um ano? É impossível."

Início no Grêmio e a "Batalha dos Aflitos"

"Foi muito bom. Eu era um jogador de muita personalidade. Por ser um jogador de Vila, ter o atrevimento, acabou eu entrando no meu primeiro jogo como profissional, fiz o gol num Grenal. O time do Inter era uma máquina. Eu consegui fazer o único gol do Grêmio. Joguei os últimos jogos do Brasileiro, mas o Grêmio já estava rebaixado. Fui depois o melhor jogador do Mundial Sub-17 e voltei já vendido para o Porto. E consegui fazer aquele efeito da história da Batalha dos Aflitos. É um momento que levo para sempre na minha vida. Esse e a final da Champions League. Para um Guri que tem 16 anos é muita coisa. Tive que sair do Grêmio no tribunal, pois era menor de idade. Saí do Grêmio como ídolo, em tese. Apesar de eu dizer para todo mundo que eu sou 5% e o Gallatto é 95% daquela história. Não existiria Anderson se não fosse o Gallatto, essa é a verdade. Se ele não pegasse o pênalti não existiria o gol do Anderson histórico. Ele merece esse crédito."

Período no Porto

"Cheguei no Porto como só mais um jogador. Naquele tempo estava o Diego, Benni McCarty, Bosingwa, Helton, Ibson, Pepe, Bruno Alves, Vitor Baia, Quaresma... Eu chego como um guri de 16 anos. No primeiro ano joguei na equipe B e, no finalzinho, na equipe A. No segundo ano já vesti a camisa 10 e já mandava no clube, em tese. Estava tirando a carteira de motorista ainda. Aí eu já mandava no clube, estava com uma moral muito grande. Chegamos nas quartas de final da Champions League e eu quebrei a perna. Foi o momento mais difícil da minha vida. Estava num momento que tudo dava certo. Sofri uma lesão muito grave. Todo mundo sentiu muito. Eu era o maluco do clube, todos me davam carinho. Fiquei seis meses parado, voltei no terceiro ano, já com 18 anos, começo a arrebentar de novo. Tive um período de férias e o meu agente, Jorge Mendes, tenta me ligar. Liga para uma conhecida minha: "Cadê o Anderson?". Aí eu: "Fala, homem. Estou aqui". E ele: "O presidente do Manchester e o Carlos Queiroz estão aqui. Querem te contratar". Eu pensei que ele estava brincando. "Ah, para, cara... Deixa eu de férias". Ele disse: "Vem agora para cá". Eu estava em Vigo, é perto de Porto. Aí eu fui para o Manchester, comprado por 35 milhões de euros. Na época era muito dinheiro. Hoje seriam 100 milhões, 90 milhões."

Anderson em ação com a camisa do Porto, contra o Manchester United

Getty Images

Chegada ao Manchester United

"Eu pensei que ia chegar e ia jogar. Eu já ouvia falar do Scholes e do Giggs, mas não tinha dimensão do tamanho deles dentro da Inglaterra. Para mim era um cabelinho vermelho ali e o perninha esquerda. Quando cheguei lá, o Ronaldo fala para mim e para o Nani e diz: "Vocês não vão jogar. No primeiro ano vocês só vão ver. Só vão pensar em jogar no segundo ano". E eu: "Ah, sai daí... nos contrataram por 30 milhões e não vamos jogar?". Nos primeiros quatro meses de Inglaterra eu não toquei na bola, não fui a um jogo. Só iam quatro no banco, o goleiro e mais três ou quatro. Tínhamos muita qualidade, mas iam poucos jogadores. No terceiro mês eu fui jogar na equipe B. Eu estava ficando nervoso, pois estava numa fase muito boa. "Me tiraram de um time onde eu era camisa 10, muita moral, para ficar aqui só treinando e jogando em equipe B?". Aí teve um jogo contra o Wigan que tínhamos três jogadores machucados e eu fui para o banco. Fui contratado como meia, para a posição do Rooney ou para a beirada. Não como volante. Fui para o banco e o Scholes se machuca. O único que podia entrar era eu. O Ferguson me põe para jogar, a gente vira o jogo e eu fui o melhor em campo. Depois daí não saí mais, fui a todos os jogos. Eu tinha facilidade de driblar. Se driblar a primeira linha na Inglaterra tu fica cara a cara

Ge

Globoesporte.com

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