Jaíne conta que decidiu denunciar o caso depois de ser agredida por três dias seguidos. Defesa de Dinho alega que ele também é vítima no caso. Marcas de agressores em Jaíne Marques
Arquivo Pessoal/Jaíne Marques
"Eu apanhei na sexta, sábado e domingo. Não conseguia nem andar de tantos chutes que ele tinha me dado". Esse foi o momento em que Jaíne Marques decidiu denunciar o marido e influencer, Joel Maria de Almeida, mais conhecido como "Dinho da Resenha", por violência doméstica. O caso atualmente é investigado na Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (Deam) de Porto Velho.
O casal ficou junto por cerca de dois anos e teve uma filha, que atualmente tem um ano de vida. Segundo Jaíne, no começo Dinho era carinhoso e atencioso, mas não demorou muito para a situação mudar.
Ela contou ao g1 que os primeiros sinais de que algo estava errado foram gritos e xingamentos que evoluíram rapidamente para agressão psicológica.
"No resguardo ele já me agredia psicologicamente. Me chamava de feia, gorda, falava que eu não ia encontrar ninguém, que eu ia ficar uma mulher solteirona com duas filhas, que ninguém ia me querer, que eu tinha sorte que ele me queria", relembra.
O estágio seguinte foram as agressões físicas que, segundo a vítima, ocorreram por mais de um ano.
"A primeira vez foi quando ele pediu pra eu ir pra um lugar com ele e com os amigos dele e eu não queria ir. As primeiras vezes eram murros na cabeça, acho que pra não ficar marca no corpo", aponta.
Depois disso, vieram outras formas de agressões físicas que aconteciam na frente das duas filhas da vítima: uma do casal, que tem um ano, e outra apenas de Jaíne, que tem sete anos de idade.
Jaíne conta que apesar de entender a gravidade da situação, ela não conseguia sair do relacionamento, já que sofria chantagem psicológica e ameaças frequentemente.
"Eu tava dependendo financeiramente dele. Ele falava: 'ah você não vai conseguir viver sem mim'. Ele me ameaçava, dizia que se eu contasse pra alguém ele ia fazer uma coisa pior comigo, com as minhas filhas. Eu ficava com medo de falar pra alguém e ao mesmo tempo sair dali e ele vir atrás de mim".
Ao longo de mais de um ano, Jaíne foi juntando fotos e vídeos das agressões.
Ao g1, o escritório Lima & Castro Advocacia, que defende Dinho, informou que ele "também sofreu agressões físicas e psicológicas".
Marca de tapa em Jaíne Marques
Jaíne Marques/Arquivo Pessoal
Denúncia
No início do mês, em um domingo, Jaíne chamou a polícia para denunciar o caso. O casal foi levado até a Central de Flagrantes, onde foi ouvido. Posteriormente, o caso foi encaminhado para a Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (Deam) de Porto Velho.
"Eu apanhei na sexta, no sábado e no domingo. No domingo pra mim foi a gota d'água porque eu não tava conseguindo nem andar de tantos chutes que ele tinha me dado. Eu estava vendo a minha morte ali", relembra.
Segundo ela, o que mais deu força para denunciar o caso foi a esperança de quebrar um ciclo de violência familiar.
"Eu também não desisto pelas minhas filhas. Para que elas, lá na frente, não terem um relacionamento desse. Pra eu quebrar um ciclo, para que a minha próxima geração não passe pelo que eu passei", relata.
Medida protetiva
No início do mês, a Justiça de Rondônia concedeu uma medida protetiva que proíbe Dinho de tentar contato e aproximação com Jaíne e as duas filhas dela, seja pessoalmente ou por meio das redes sociais.
Com a medida, Dinho fica proibido de:
se aproximar de Jaíne e seus familiares a menos de 100 metros de distância,
entrar em contato ela requerente ou seus familiares por qualquer meio de comunicação,
frequentar a residência, local do trabalho e qualquer outro ambiente de Jaíne e
divulgar qualquer material relativo à intimidade da requerente
Além disso, caso ele tenha porte ou posse da arma, será suspenso.
Ele também fica proibido de visitar a filha e a enteada.
Na decisão, o juiz considerou que as provas apontam que "as crianças são constantemente expostas às violência".
Caso descumpra alguma das determinações, Dinho pode ser preso preventivamente.
"Eu quero justiça por tudo que eu passei. Ele tirou uma parte da minha vida que eu ainda vou tentar recuperar. E eu quero que ele pague por todas as coisas ruins que ele fez, mas principalmente por ele ter feito isso na frente das minhas filhas", aponta Jaíne.
O que diz o outro lado?
Ao g1, o escritório Lima & Castro Advocacia, que defende Dinho, informou que ele "refuta todas as acusações" feitas e que também é vítima. Segundo o advogado, Dinho "também sofreu agressões físicas e psicológicas". O escritório optou por não dar mais detalhes sobre o caso, alegando segredo de justiça.
Quanto aos vídeos e fotos, o escritório Lima & Castro Advocacia diz que os mesmos retratam apenas o ponto de vista da vítima e que "podem ter havido edições para favorecê-la". Alega também que os vídeos "não podem ofender a integridade do cliente [Dinho], uma vez que não há qualquer condenação acerca do ocorrido".
Quando a medida protetiva, a defesa de Dinho alega que "está tomando as devidas providências".
Fases da violência doméstica: como pedir ajuda?
São três os principais tipos de violência doméstica:
Violência psicológica: situações que causam abalos emocionais na vítima, tais como constrangimento, humilhação, chantagens psicológica e até mesmo ameaças.
Violência patrimonial: tem relação com dinheiros e bens do casal. O agressor controla o dinheiro e consequentemente a mulher não tem autonomia financeira.
Violência física: são as agressões por meio de murros, tapas, chutes e outras formas. Mesmo que elas deixem marcas ou não.
De acordo com a advogada Sthefany Salomão, existem comportamentos do agressor que ajudam a identificar as fases da violência doméstica.
"Eles começam a se relacionar e aí vez ou outra começa um aumento de tensão. Ele se estressa por alguma coisa e geralmente coloca a culpa nela. Depois disso começam as agressões verbais, as agressões físicas e após esse ciclo é a chamada 'lua de mel': ele vem com flores, com pedido de perdão, fala que na verdade foi um covarde, que estava com raiva e a culpa é dela. A gente tem que lembrar que a culpa nunca é da vítima", relata.
A denúncia pode ser feita pela própria vítima ou por testemunhas, mesmo anonimamente. É possível denunciar nos seguintes canais:
Ministério Público de Rondônia
Telefone: 180
Telefone: 190