Equipe fez uma de suas piores atuações no ano contra o Athletico e preocupa para as duas finais da Copa do Brasil O Flamengo vive dias turbulentos. A derrota de 3 a 0 para o Athletico, em Cariacica, foi uma das piores exibições no ano do time e jogou a equipe para o 4º lugar do Brasileirão.
Com isso, as duas finais da Copa do Brasil são muito provavelmente a única chance de título do Fla em um ano marcado por mudanças de treinador, elenco em briga com comissões técnicas e derrotas doídas em tudo o que disputou.
+ Flamengo tem esquema de segurança reforçado na volta ao Rio; Allan chega de muletas
+ Gabigol lidera número de cartões do Flamengo no ano
+ Sampaoli explica escalação do Flamengo e lamenta atuação: "Hoje foi um passo atrás"
O maior motivo do caos não é resultado, e sim desempenho. O trabalho de Jorge Sampaoli ainda não decolou. Apesar de ter vencido o Grêmio em dois jogos de autoridade nas semifinais da Copa do Brasil, o argentino tem mais exibições ruins do que boas no Rubro-Negro.
Flamengo 0 x 3 Athletico-PR - Melhores momentos - 23ª rodada do Brasileirão 2023
Para entender os reais motivos do badalado treinador estar por um fio no clube, é preciso ir além das simplificações e superar as narrativas criadas nas redes sociais. O que é contado normalmente mostra apenas um lado da moeda, no caso, a do torcedor. No caso, existe muito mais além do conflito entre "o jeito que Sampaoli pensa futebol" e o modo que "o elenco do Flamengo pede para jogar".
Desde a virada de chave em 2019, o Flamengo teve muitos treinadores. Os melhores foram aqueles que chegaram num meio-termo entre implementar uma ideia de jogo e procurar setores de campo e papéis em que os jogadores pudessem ser protagonistas. É preciso combater a visão dualista de que futebol só existe de uma forma ou de outra: é sempre um diálogo.
O diálogo aconteceu com Jorge Jesus, que aproximou o quarteto mágico ao mesmo tempo que reinventou Willian Arão. E com Dorival, que fez Éverton Ribeiro viver um auge como terceiro volante. Em menor grau, também com Rogério Ceni e Renato Gaúcho. Com Dome Torrent, Vítor Pereira e agora Jorge Sampaoli, esse diálogo pouco acontece e mais parece uma simples imposição.
Vamos olhar para o Flamengo em Cariacica: Thiago Maia de lateral, David Luiz como primeiro volante e Gabigol junto de Pedro, mas jogando pelo lado direito, como ponta - o que faz, muito mal, desde 2019. Só pelo 4-3-3 desenhado com tantos jogadores fora de setores em que possam jogar de forma mais assertiva, dá para imaginar um time mais desconectado.
Esquema tático do Flamengo: muita improvisação e pouco futebol
Reprodução
Foi o que aconteceu quando a bola rolou. Antes de mais nada, a culpa nunca é da ideia: sempre da execução. Ideias existem nos livros, mas quem faz elas acontecer são as pessoas. A ideia de Sampaoli era ter David Luiz como um terceiro zagueiro na saída e povoar o meio com Pedro recuando muito e de costas, quase com falso-nove. Assim, Cebolinha e Gabigol atacavam a área com as bolas que chegavam.
É uma ideia ruim? Não. Ela só precisa ser bem executada, o que não aconteceu na goleada. Pedro saía da área, mas na prática, ocupava o mesmo setor de Gérson. Eles não tabelavam, nem se aproximavam, porque o time só conseguia sair da iniciação e ir para a construção com Cebolinha carregando a bola pela esquerda.
Construção do Flamengo: Pedro saía da área, mas isolava Gabigol e Gérson
Reprodução
Uma ideia mal executada interfere tudo. O jogo é um efeito borboleta, na qual tudo está conectado. Com Éverton buscando jogadas pela esquerda, o Flamengo se via numa situação de muita posse e pouca penetração, já que Gérson buscava jogar a poucos toques pelo lado junto de Cebolinha e a entrada da área ficava vazia.
Quem chegava por lá? David Luiz, colocado de volante, mas que se via obrigado a avançar para fazer o time se tornar presente.
Flamengo tinha muita posse, mas dificuldade para chegar na área com qualidade
Reprodução
A defesa se viu totalmente em pane. David Luiz e Vcitor Hugo não se entenderam nos momentos em que precisavam pressionar para retomar a bola. Thiago Maia, volante desde o começo de carreira, tinha que preencher o alinhamento com a defesa, já que era lateral. Com isso, o Flamengo virou "arame liso": não incomodava o Athletico no contra-ataque.
Flamengo deixa Athletico sair: Thiago Maia ficou distante e não conseguia proteger a defesa
Reprodução
Num deles, o escanteio que originou o primeiro gol e abriu caminho para o desastre.
+ Leia mais análises do blog sobre tática no ge
Sampaoli defende seu trabalho no Flamengo citando o fatídico jogo contra o Olimpia como uma excessão. Ele tinha razão há alguns jogos. Agora, o nível de atuações ruins já iguala o de atuações boas.
É injusto jogar a culpa no treinador ou no jogo posicional, como é feito nas redes sociais. O problema da narrativa é que ela corrobora a visão de mundo de quem conta, não exatamente a realidade.
O Flamengo vive um ano de 2023 dos mais difíceis. Muito disso se dá por conta que a tão sonhada renovação pretendida por Landim com Rogério Ceni e Paulo Sousa deu muito errado. Seus substitutos chegaram em finais de Libertadores buscando potencializar o elenco, deixá-los confortáveis. A questão é que o elenco tão vencedor uma hora ou outra precisaria ser renovado.
Jorge Sampaoli, técnico do Flamengo
André Durão/ge
O problema se tornou uma batata quente nas mãos de Vítor Pereira e explode com Sampaoli. Gerson ainda não voltou ao nível de 2019, Éverton Ribeiro não é mais titular e Arrascaeta vive situação em que joga cada vez menos (e ainda decide). O pilar mais forte do Flamengo sempre foi Gabigol e seus muitos gols, o que até isso parece se perder.
Não há mais desculpa: o Flamengo tem jogadores de nome, vencedores, alguns jovens e precisa encontrar um caminho mais saudável em campo. E só fará isso se abandonar o radicalismo: não é nem deixando todo mundo como se estivesse brincando de futebol, muito menos colocando improvisações a todo mundo.
É no diálogo, tão carente no clube neste ano, que a verdadeira solução se encontra.
+ Leia mais notícias do Flamengo
???? Ouça o podcast ge Flamengo ????
