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MPF enviou ofício para que Funai, Defesa Civil de Rondônia e o Distrito Sanitário (Dsei) apresentem quais medidas foram adotadas para auxiliar os indígenas. Aldeia Karipuna fica alagada após rio Jaci Paraná transbordarAndré KaripunaO Ministério Público Federal (MPF) deu um prazo de 72 horas para que a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) informe quais medidas foram adotadas para auxiliar os indígenas Karipuna de Rondônia. As famílias estão desabrigadas há mais de uma semana, depois que o rio Jaci Paraná transbordou e deixou boa parte da Terra Indígena Karipuna alagada. A Terra Indígena (TI) Karipuna tem mais de 150 hectares e seu território é dividido entre a capital de Rondônia, Porto Velho, e Nova Mamoré (RO). Desde o dia 17 de março, os indígenas sofrem com o alagamento da aldeia. Alguns foram deslocados para a cidade - sobretudo os idosos - quando o rio começou a subir e os outros continuam na TI mudando de local sempre que a água se aproxima. Por conta das chuvas, uma das pontes que dá acesso à comunidade foi destruída, deixando o povo isolado. Segundo o MPF, também houve rompimento de fossas e o comprometimento dos poços artesianos da aldeia. Além da Funai, a Defesa Civil de Rondônia e o Distrito Sanitário (Dsei) foram oficiados pelo MPF para que se manifestem sobre o alagamento.Rio Jaci Paraná transborda entre Porto Velho e Nova MamoréAndré KaripunaPossíveis causas do alagamentoAs chuvas que ocorrem em Rondônia desde o início de março já causaram o transbordamento de vários rios pelo estado. Segundo especialistas, o volume é maior do que o esperado, mesmo em meio ao inverno amazônico. No entanto, o MPF também aponta suspeitas de que o alagamento da TI Karipuna tenha ocorrido por conta do fechamento das comportas das usinas hidrelétricas Jirau e Santo Antônio. O Conselho Indigenista Missionário (Cimi), que acompanha os indígenas Karipuna desde 2017, incluindo na situação recente, também atribui a causa da inundação às usinas. “Segundo as informações que recebi ainda pouco da comunidade, o rio começa a encher novamente e a gente vê que isso é uma ação mesmo nem tanto das chuvas, mas somado ao aumento da cota, da elevação do rio para a geração de energia. O povo continua sendo assolado pelas inundações e vem essa insegurança de ter suas casas invadidas pela água”, informou ao g1, a missionário do Cimi Laura Vicuña. Segundo o MPF, por conta das suspeitas, serão realizadas diligências imediatas para atualização do Plano Básico Ambiental (PBA) da Usina Hidrelétrica Santo Antônio. O órgão aponta que há mais de dez anos o PBA “não foi implementado por culpa da morosidade da Funai em fazer a atualização”.Casas foram invadidas pela água depois que o rio Jaci Paraná transbordou em ROAndré KaripunaPrazosO MPF deu um prazo de 72 horas, a partir do recebimento do ofício, para que os órgãos se manifestem sobre as medidas adotadas para atender os indígenas afetados pela inundação. Quanto à atualização do Plano Básico Ambiental da UHE Santo Antônio, a presidência e a coordenação-geral de Licenciamento Ambiental da Funai receberam um prazo de 10 dias para o cumprimento das medidas, “após ouvidas as comunidades indígenas sobre as novas obrigações que deverão ser estabelecidas”.O que dizem os envolvidos?Em nota, a Santo Antônio Energia alegou que “nenhuma Terra Indígena é diretamente impactada pela implantação da hidrelétrica” e que possui um Programa de Apoio aos Povos Indígenas que estabelece “ações que minimizam possíveis impactos indiretos”.Segundo a Santo Antônio, a Fase 1 do programa foi concluída com construção de escola com alojamentos, posto de saúde, recuperação de estradas e outros serviços. A Fase 2 foi planejada e aguarda aprovação da Funai para conclusão.O g1 procurou a Funai no início da semana, quando noticiou sobre o alagamento da aldeia Karipuna, e entrou em contato novamente após ofício do MPF, mas não obteve retorno em nenhuma das tentativas até a última atualização desta matéria. A Jirau e o Dsei também foram procurados para se pronunciar sobre o caso, mas não apresentaram resposta.Na quinta-feira (23), a Prefeitura de Porto Velho informou que enviou água potável, cestas básicas e hipoclorito de sódio para as famílias afetadas. Junto com os itens básicos, agentes da Defesa Civil Municipal e Estadual, além de uma equipe do Corpo de Bombeiros, foram enviados para ajudar na contenção de danos.TI KaripunaA Terra Indígena Karipuna tem mais de 150 hectares e seu território é dividido entre Porto Velho e Nova Mamoré (RO). Apenas um povo indígena vive no local: os Karipunas de Rondônia.O território fica à margem esquerda do rio Jaci Paraná - afluente do rio Madeira - e tem outras fontes de água próximas, como o rio Formoso e os igarapés Fortaleza, Juiz e Água Azul.